DOS SUMÉRIOS A BABEL (I)
A MESOPOTÂMIA – HISTÓRIA, CIVILIZAÇÃO E CULTURA
Jeremias Macário
As versões dão conta de
que esses povos vieram das montanhas do Cáucaso, da Índia e de várias partes da
Europa, alguns bárbaros como refugiados escorraçados por tribos inimigas, que se
espalharam pelas terras da Mesopotâmia entre os rios Tigre e Eufrates (o
Crescente Fértil), hoje a Turquia, Iraque, Irã, Líbano, Síria e até na Jordânia
e Israel.
Essas tribos se tornaram guerreiras, se
destacando depois os Assírios-Babilônios que conquistaram toda região,
denominada de Quatro Partes do Mundo,durante quatro milênios Antes de Cristo, batendo
nas portas dos reinos de Judá e Israel destruindo tudo que encontravam pela
frente, inclusive seus tempos sagrados.
Mas, eles não apenas tiveram reis
sanguinários. Foram exímios na técnica da irrigação, cujos métodos até hoje
adotamos, abriram canais, construíram grandes cidades e torres, criaram a
escrita e deixaram suas histórias em milhares de tabuinhas de barro, sem contar
a arte da escultura e da arquitetura.
O autor do livro “Dos Sumérios a Babel”,
Federico A. ArborioMelladiz,em seu prefácio,dedicar a obra para os apaixonados
pela história antiga dos grandes reis e generais Sargão II, Teglatfalassar, Assarhaddon,
Senaquerib, Assurbanipal, Hammurabi, Ciro, Nabucodonosor e para quem a palavra
“Mesopotâmia” evoca a “soberba Nínive” e a “Torre de Babel”.
Apesar da escassez de documentos, aqui o
autor faz um belo passeio narrativo sobre a epopeia suméria, a revolução dos
acádicos, as venturas e desventuras dos babilônios, dos assírios e de todos os
povos que se instalaram nas férteis terras entre o Tigre e o Eufrates.
A Sagrada Escritura que extraiu muitas passagens
bíblicas desses antigos povos, inclusive delas fazendo suas próprias versões
dos seus patriarcas e profetas, ( Isaias, Jeremias, Ezequiel) fala muito dos
caldeus, de Babel, dos Assírios, citando os nomes de Ur, Erek, Acad e outros. O
historiador, na época repórter viajante Heródoto, o grego, descreve a Babilônia
com precisão.
Como a obra tem como base central as
descobertas arqueológicas a partir do século XIX, o escritor oferece, na
abertura, uma visão geral sobre os achados das grandes cidades, as inscrições
deixadas pelos reis e seus feitos, lendas, deuses e grandes nomes dos
estudiosos do assunto.
Como toda aquela civilização prosperava e girava
em torno dos dois grandes rios, um dos maiores feitos da arqueologia foi
protagonizado pelo nativo de Mossul (Iraque) Hormuzd Rassam que desenterrou, em
1854, documentos da Biblioteca de Assurbanipal. Conta que o grande rei,
admirador da cultura, deu ordens aos seus enviados de comprar todas as obras
científicas, literárias e históricas que pudessem encontrar. Trata-se de uma
coleção de mais de 30 mil tabuinhas de argila.
As inscrições deixadas pelos reis,
especialmente sobre suas conquistas, muitas das quais exageradas e vaidosas,
eram muito importantes como esta de Dario “Este rei Dariavuch (Dario) ordena:
Tu que nos dias que virão vires esta inscrição e estas figuras de homens que eu
fiz esculpir na rocha, não danifiques e não destruas nada. Tem cuidado, para
que deixe uma semente, e conserve-a intacta”. Como esta inscrição é atual e
serve de lição para os vândalos brasileiros de monumentos públicos!
Na religião suméria predominaram crenças
rústicas que os historiadores chamavam de “xamanismo”, crenças em espíritos
malignos (Passu, Labartu e Lilitu), bruxarias e esconjuros contra os espíritos.
Anu era o grande capitão, inimigo dos homens e pai de todos os demônios.Enqui,
a personificação do subterrâneo e do abismo. Sin era deus da Lua, criador do
mundo e dos seres vivos, quem confere ou tira a coroa dos reis. Ningal, sua
esposa, era a Grande Senhora. Marduk, uma espécie de deus supremo, e muitos
deles continuaram sendo adorados por toda Mesopotâmia durante os impérios
assírios-babilônicos.
Como o tema é extenso e descritivo, baseado
nas descobertas científicas arqueológicas desses povos, vamos nos ater a
algumas passagens que mais chamam a atenção do leitor por serem mais marcantes
na história, como AEpopeia de Guilgaamech, O Poema da Criação, O Código de
Hammurabi, O Mito de Adapa, Direito Penal, Guggu de Ludd, Nabucodonosor e A
Lenda do Nascimento de Ciro.
No período de 2900 a
2500, Uruk (a bíblica Erech) foi a cidade mais poderosa da Suméria, fundada
pela deusa Inanna, a Ichtar do poema bíblico “A Ascensão de Ichtar” onde seu
pai Anu, já embriagado, deu-lhe de presente a divina Essência e a Coroa.
Passada a bebedeira, numa ressaca danada que nem boldo cura, Anu tentou retomar
seu bens, mas Ichtardesaforada não deixou e instalou-se toda presunçosa em Uruk.
Inanna tinha como amante Dumuzi (Tamuzu em
acádico). Um dia ele afundou com seu barco e foi para o inferno onde os
espíritos o mantiveram como prisioneiro. Desse episódio mitológico nasceu uma
das mais poéticas obras da literatura mesopotâmica, conhecida como “Descida de
Ichtar aos Infernos”.
Não vendo seu amante retornar, Ichtar
(Inanna) resolveu descer ao Arallu, cidade dos mortos. Com todo ímpeto bate no
portão ameaçando derrubá-lo. O guardião pede para esperar enquanto vai falar
com Erechquigal, rainha dos infernos e a própria irmã de Ichtar. Ela fica
perplexa, mas a deixa passar, com a exigência de que tire a coroa na primeira
porta, os brincos na segunda, o colar na terceira, o peitoral na quarta, a
cinta na quinta, os braceletes na sexta e as vestes na última. Como quem desce
à sepultura, a rainhafica totalmente nua.
As duas irmãs se
agridem e Ichtar exige seu amante, mas Erechquigal a aprisiona no seu palácio. Com
isso, na terra, a vida amorosa extinguiu-se com a ausência da deusa da
fertilidade. O mensageiro dos deuses Pap-sukkal recorre ao sábio Ea, ou Enqui.
Este cria um arauto, o afeminado, e envia a Erechquigal que o transforma em rã.
Resolve, então chamar seu guardião e convoca uma assembleia entre os deuses da
terra para apresentar sua irmã que é libertada e aspergida com a água da vida.
Recebe suas vestes e enfeites de volta e é entregue a Uruk.
Seu amante, consegue a permissão para voltar
à terra, mas, a cada verão, quando o grão é ceifado, sete demônios tiram Dumuzi
do palácio e o levam à cidade dos mortos. Cabe a Ichtar esperar pela próxima
primavera. Seu amante tornou-se deus do renascer da vegetação. A cada Ano Novo,
uma representação sacra recita a morte de Dumuzi. O rei aparecia em pessoa,
caracterizado como Dumuzi, junto com a sacerdotisa. Assim começa o Ano Novo, em
março.
Nenhum comentário:
Postar um comentário