Unindo Forças
Nando da Costa Lima
-
Pois
é, seu Venâncio. Eu sou filho do deputado Osvaldo e neto do também
deputado federal Osvaldo do Pé da Serra... O senhor deve conhecer.
- É o quê, seu Venâncio. Falei alguma coisa que o senhor não gostou?
-
Não, meu filho, eu só tava lembrando que um dia jurei que nunca mais ia
passar raiva por causa de porra de política. Tô vendo que até
sem querer a gente fica retado.
-
Retado por que? Meu pai é um dos homens que mais prezam a democracia,
como o meu bisavô, que foi o primeiro prefeito daquela cidade
que o senhor nasceu.
- Alto la, seu bisavô foi interventor de Getúlio. Prefeito é outra coisa, é o povo quem elege...
-
Tanto faz, nós não podemos julgar ninguém sem ter vivido o que viveram.
Interventor, prefeito... Dá no mesmo se for para o bem do povo!
- Cê tá se fazendo de besta ou tá acreditando nessa história de família democrática?
-
Ué, só porque meu bisavô foi interventor de um município na Era Vargas é
que nós vamos discutir? Logo com o avô de minha noiva.
- Cê vai casar com a minha neta? Lascou!
- Por que esse “lascou” tão desbocado? Minha família é mais importante politicamente do que a família do senhor.
- Graças a Deus. Do meu lado ninguém nunca mexeu com coisa dos outros.
- O senhor tá falando que meus descendentes são todos ladrões? Mexer com o alheio!
-
Eu não falei isso, falei que vocês políticos mexem com a “coisa
pública”. Seu bisavô foi interventor de Vargas, assim como seu avô foi
interventor da reforma de 64. E agora seu pai é tido como a reserva
moral do partido dele. Você no mínimo vai virar santo. “Ô povim” bom
esse seu...
- Quer dizer que, se fosse pelo senhor, eu nunca me casaria com minha princesa Ritinha?
-
Claro que não! Quanto mais agora que vocês estão quebrados. Até a minha
neta, aquele bucho, virou princesa. A menina só não dá coice
pra não quebrar o salto alto.
- Bem que me falaram que o senhor era um cavalo batizado...
- Cala essa boca, você está nos meus domínios. Eu tô falando pro bem de vocês, quem sabe os dois não são parentes próximos.
- Ah... quer dizer que é verdade que meu avô andou pulando a cerca no passado. Deu um a zero no senhor!
-
Um a zero no seu rabo, seu moleque atrevido! Se eu não considerasse
muito sua finada avó, eu ia te dizer quem é o corno realmente.
- Acho bom o senhor para com isso, se mãe souber dessa história é capaz de interferir no casório...
-
A minha intenção é essa mesmo, mas quebrados do jeito que vocês estão,
acho difícil ela interferir. E essa história é entre eu e sua
avó, quem mais sabe são os parentes mesmo.
- É, mas o senhor não vai querer que eu te chame de vô, né???
-
Não... Deus é mais! Eu só queria lembrar ao noivo de minha neta que eu
conheço um safado igual eu conheço égua, pela pisada... Entendeu
ou vai querer cantar de galo no meu terreiro?
-
Tá certo, seu Venâncio, eu sei que o senhor é quem manda. Mas o senhor
também não pode se esquecer que sua filha, Dona Amarlina, não
sai da casa do vaqueiro de pai...
-
Acho melhor você calar essa boca, seu “mulequim”. Se falar mais um “a”
eu não deixo você casar com minha neta. Ou você esqueceu que
a galinha da minha filha é a mãe de sua futura esposa, seu
deputadozinho de merda?
E ASSIM FOI SELADA A PAZ ENTRE AS FAMÍLIAS QUE BRIGARAM PELA MESMA COISA A VIDA INTEIRA.
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