sexta-feira, 18 de agosto de 2017

COLUNISTA VIP:



ASSIM SÃO OS “DEUSES” INTOCÁVEIS
Jeremias Macário 
“Quem não pode atacar o argumento ataca o argumentador” – Paul Valéry
  Existe maior ironia, contradição e paradoxo do que um deputado, senador ou magistrado da República maltratada criticar o Executivo e cobrar dele corte de gastos públicos para reduzir o déficit fiscal do país? Não existe mais vergonha. Está rindo do quê, aí?  Cá, estou deprimido.
   Mesmo contra toda ira do povo, esses “deuses” intocáveis continuam mantendo suas benesses e mordomias e fazendo reformas políticas capengas, arrancando mais de quatro bilhões de reais da nação para financiar suas campanhas.
  Confesso que não me apetece mais falar deste assunto porque me dá náuseas, mas a revolta é maior e supera a escolha. Entre os povos antigos da Mesopotâmia (Assírios e Babilônios), Celtas, Cartagena, Maias e outros, quando as coisas não iam bem, a colheita era fraca e sofriam derrotas nas guerras, os sumos sacerdotes sacrificavam animais e seres humanos nos templos para aplacar a ira dos seus deuses. Eram rituais macabros.
   Mesmo com realidades e tempos totalmente diferentes, aqui no Brasil o povo continua sendo convocado aos altares dos sacrifícios para derramar seu sangue como se tivesse praticado alguma heresia ou pecado contra os “deuses”, barões, coronéis e reis governantes que regem os destinos do país.
   Dos seus olimpos dos prazeres e das orgias eles mandam raios e tempestades, mas a população está irada e não suporta mais tantas imolações de inocentes. Este jogo pode virar e os “deuses” serem eliminados e esquecidos para sempre.
  Como se fossem “deuses” intocáveis, o Congresso Nacional, Judiciário e outras classes privilegiadas, como os militares, sempre ficam fora dos cortes de despesas públicas. Eles esbanjam, e os súditos cobrem os rombos com suas próprias vidas.
   O Executivo não toca nesta casta porque dela é refém para o “toma lá dá cá” bem escancarado. O mercado financeiro, as grandes fortunas e os supersalários são outros “deuses” intocáveis a quem o povo faz sacrifícios de morte.
  Esses deuses deviam, pelo menos, se calar para não provocar mais raiva. Agora mesmo, o mordomo-chefe e sua cúpula, depois de saírem por aí distribuindo emendas parlamentares, num montante de oito bilhões de reais, e cargos para pagar votos em suas defesas, impõem severos cortes aos empregados do seu poder, deixando, como sempre, o Legislativo e o Judiciário de fora. Estão sendo negados os serviços necessários e mais urgentes, como nas áreas da saúde, educação e segurança.
  Das medidas insignificantes para cobrir o rombo nos cofres públicos de cerca de 160 bilhões de reais, nenhuma atinge os “deuses” intocáveis. O negócio é ir empurrando com a barriga e todo corpo para o próximo aventureiro que vier. O futuro será ainda mais ingrato e tenebroso. Quem viver verá a bagaceira!
 Vamos ao pacote da montanha que pariu um rato: - Elevação da alíquota previdenciária dos atuais 11% para 14% para os servidores do Executivo que recebem acima de 5,3 mil reais por mês;
- Congelamento por 12 meses do reajuste dos servidores, excluindo aí os militares;
- Extinção de 60 mil cargos de confiança do executivo federal (dizem que já estão desocupados. Não dá para acreditar);
- Redução dos salários iniciais de todas as categorias do serviço público;
- Implantação do teto (furado) remuneratório do serviço público (atual de 33,7 mil reais por mês);
- Congelamento do reajuste para cargos e comissões do poder executivo;
- E redução da ajuda de custo a servidores no caso de transferência e auxílio-moradia.
   Os “deuses” intocáveis continuam, entretanto, com seus auxílios-moradias, verbas indenizatórias, cobertura de todas as despesas em viagens (refeições, hospedagem e outros custos até com mulheres), gastos com veículos próprios, combustíveis e outros tantos penduricalhos, benesses e mordomias.
  Portanto, para não irritar mais ainda a “gentalha” que fica aqui embaixo na sarjeta, esses “deuses” deviam se calar, mas não, eles fustigam e instigam mais ainda a todos nós simples mortais.  
 Como exemplo mais recente, vamos citar a “reforma” política desbotada do Distritão e do Fundo bilionário de quase quatro bilhões de reais, furtado do povo para financiar campanhas. Nosso inculto povo nada entende de Distritão, Distritão Misto, de Distrital Misto e outras coisas intricadas eleitorais.
  Cadê que não derrubaram o voto obrigatório, o foro privilegiado, o fim das coligações, das emendas parlamentares, da reeleição eterna para deputados, senadores, vereadores, prefeitos, governadores e presidentes, nem reduziram o número de parlamentares nos legislativos da Câmara dos Deputados, do Senado (deveria ser extinto) e das Câmaras de Vereadores?
  Cadê que eles não proporam acabar com as suplências de senadores que nunca receberam um voto sequer da população? Não aprovam a extinção da figura dos vices que só servem para aumentar gastos? Não acabam com mais da metade dos partidos, muitos dos quais “barrigas de aluguel”? Não simplificam o sistema eleitoral vigente, acabando de vez com o voto comprado?
  Deveriam ter um gesto nobre de podar seus tentáculos, mas isso é esperar demais de quem não tem pudor de manter uma imagem negativa de falsos representantes de um povo que, a partir da crise de 2014, ficou mais pobre 22% no Brasil, segundo trabalho do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Mais de 4,1 milhões de brasileiros entraram na faixa de pobreza entre 2014/15. Desses, 1,4 milhão voltaram para a extrema pobreza. É o pior quadro social desde 2000.
  Nada disso é do interesse dos “deuses” intocáveis que querem se perpetuar no poder, exigindo dos sumos sacerdotes que sacrifiquem, impiedosamente, mais seres humanos vivos em seus templos. Enquanto isso, os pobres brasileiros, na mais profunda das suas desigualdades sociais, têm que aturar e ouvir suas ironias e desfaçatezes, como se todos fossem otários e burros.

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