sábado, 30 de junho de 2018

NANDO DA COSTA LIMA - COLUNISTA VIP:

LAUDICÉIA
Nando da Costa LIma
Não chegava a ser um matriarcado, mas elas foram fundamentais na nossa evolução social, política e espiritual. Eram elas que assumiam nas horas mais graves, sempre pendendo pro lado da razão, da paz. Evitaram várias desavenças que manchariam ainda mais a nossa história. É claro que temos nossas manchas! Na política de “curral” dos coroneis, tudo era motivo pra lançar mão das armas, a repetição papo amarelo fazia parte do cenário. E foi nesse clima que elas evitaram um desfecho trágico para uma briga que se arrastaria por décadas, ou quem sabe séculos.
Aquela briga estava sendo esperada há muito tempo...,foi em 1919, quando os grupos políticos denominados Peduros e Meletes decidiriam quem ficaria com o poder atra­vés das armas, um tempo distante onde a palavra era mantida à risca! Os Meletes tinham assumido o poder sob pressão e que­riam mantê-lo a qualqer custo. Dino Correia já estava em Conquista quando o melete Almirante sacou a pistola e deu alguns tiros pra cima, dizendo que a situação seria resolvida a bala, ele tinha cons­ciência que estava dando início a uma luta que decidiria o destino da política e principalmente do seu pai, o juiz Araújo, um dos líde­res Meletes. Almirante tinha se casado com Iazinha há poucos dias: Iazinha era pedura...
Coronel Gugé tinha se afastado do cargo de intendente em 1916, seu genro foi nomeado em seu lugar, depois disso a oposi­ção começou criticar a política do sucessor através do jornal " O CONQUSTENSE". Os Peduros levaram a melhor nos debates pela imprensa graças ao poeta Maneca Grosso que atacava os meletes pelo jornal "A PALAVRA". Dino Correia só entrou na briga depois que espancaram seu ex-professor por causa de um artigo dirigido ao Juiz Araújo. Dino ficou muito sentido com a surra que deram em Maneca Grosso e resolveu dar o troco. Maneca era dia­bético e faleceu devido à violência sofrida.
Os Peduros estavam entrincheirados em pontos estatégicos da cidade, os Meletes estavam acuados, um homem morreu no iní­cio da luta e tudo indicava que iria acontecer uma carnificina. Os chefes meletes Maneca Moreira e o juiz Araújo, esperavam o pior, eram experientes e conheciam a capacidade do inimigo, os homens de Dino eram em maior número e estavam mais bem armados, muitos jagunços dos Meletes que se diziam valentes fu­giram assim que correu o boato que o "coroné" Dino ia sangrar todo Melete capturado, alguns deixaram até as armas antes de correr. A morte estava rondando, era só os Peduros resolverem fechar o cer­co, a cauã tinha lançado seu canto agourento mais uma vez sobre o céu de Conquista! Mas felizmente desta vez havia uma mulher, que por coincidência era parteira, uma pessoa reponsável pela chegada da vida, tenha evitado tantas mortes. Dona Laudicéia Gusmão não se intimidou com o tiroteio e atravessou a Rua Grande seguida por Henriqueta Prates (uma das introdutoras do kardecismo em Conquista), Joana Angélica Santos e Eufrosina Freitas, como se fossem bandeiras brancas. Ela queria por fim àquela briga entre parentes que acabaria em tragédia caso não houvesse interferência, sua marcha foi vitoriosa! As mulheres da cidade, incentivadas por sua coragem, acompanha­ram a parteira pelas ruas em sinal de protesto pelos acontecimentos. Foi Dona Laudicéia que conseguiu um acordo enre os dois lí­deres, o coronel Dino já tinha saído vitorioso, abriu mão da violên­cia, o que não era comum na época! E assim a atitude de coragem de uma mulher evitou uma grande tragédia que novamente man­charia nossa história de sangue.
Os Peduros assumiram o poder na figura de Dino Correia. O juiz Araújo e vários outros oposicionistas escaparam da morte e da humilhação graças à interferência de Dona Laudicéia, A Parteira da Paz!
Como eu disse no início da história: não chegava a ser um matriarcado. Mas só não era porque elas, sabiamente, deixavam eles pensarem que mandavam. Ou seja: o burro era do “coroné”, mas quem comandava a rédea era a patroa...

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