sábado, 9 de junho de 2018

MARIA ESTHER BUENO, CAMPEÃ EM WINBLEDON EM 1959...


COM 589 TÍTULOS CONQUISTADOS, MORRE AOS 78 ANOS A MAIOR TENISTA BRASILEIRA DA HISTÓRIA
G1 -Foto: Morre Maria Esther Bueno, tenista brasileira mais vencedora da história
Morre Maria Esther Bueno, tenista brasileira mais vencedora da história
Ao longo de sua premiada carreira, Maria Esther Andion Bueno ficou conhecida como a Bailarina do Tênis. A alcunha fez jus à plasticidade de seu jogo gracioso e à habilidade com a raquete. A verdade, no entanto, é que a maior jogadora do país em todos os tempos foi além: quebrou paradigmas, brilhou em um esporte em que o Brasil tinha pouca representatividade, ganhou notoriedade no círculo mais restrito do esporte e deixou um legado indelével. Sua vida poderia ganhar muitos outros adjetivos. Maria Esther foi uma vencedora, única e formidável. Lendária. A ex-tenista, um dos grandes nomes da história do esporte brasileiro, repousou nesta sexta-feira, 8 de junho, aos 78 anos, vítima de um câncer.
Ela estava internada no Hospital Nove de Julho, na capital paulista. Ela não teve filhos. A morte foi confirmada pelo sobrinho de Maria Esther, Pedro Bueno. O velório acontece neste sábado, de 8h às 15h, no salão oval do palácio do governo de São Paulo.
No ano passado, Maria Esther havia retirado um câncer do lábio, mas o tumor se espalhou para a garganta. Ela, então, passou por sessões de radioterapia no Hospital Albert Einstein e apresentou melhora no quadro. Entretanto, a situação se agravou no último mês de abril. Enquanto jogava tênis - hobby que nunca deixou de praticar -, sentiu dores e, de início, pensou se tratar de uma lesão. Mas após uma visita ao médico e novos exames, se descobriu que um novo câncer havia se espalhado por outros órgãos do corpo. A ex-jogadora optou por não fazer quimioterapia. Desde então, ela vinha sendo tratada com imunoterapia. Maria Esther continuava lúcida e, na terça-feira, chegou a assistir ao jogo entre Novak Djokovic e o italiano Marco Cecchinato pelas quartas de final de Roland Garros.
Com 19 títulos de Grand Slam, Maria Esther Bueno é considerada a maior tenista brasileira de todos os tempos, tendo alcançado o posto de número 1 do mundo em quatro temporadas (1959, 1960, 1964 e 1966). Ela conquistou o seu 1º título de Grand Slam em Wimbledon, em 1959, aos 19 anos. Em 1960, ganhou os quatro Grand Slams de duplas ao vencer na Austrália, com Christine Truman, e em Wimbledon, Roland Garros e no Aberto dos Estados Unidos, todos em parceria com Darlene Hard. No total, ganhou 589 títulos ao longo de sua carreira. Ela entrou para o hall da fama em 1978.

Primeiro título em Wimbledon veio aos 19 anos

Maria Esther Bueno começou a jogar tênis de maneira despretensiosa, em companhia do irmão mais velho, Pedro, no Clube de Regatas Tietê, na zona norte de São Paulo. Ambos foram levados ao esporte pelo pai, Pedro Augusto, sócio número 5 do Tietê, que tinha o tênis como maior paixão embora trabalhasse como tesoureiro.
Maria Esther Bueno após conquistar, aos 19 anos, o título de simples de Wimbledon em 1959  (Foto: Allsport Hulton/Archive)
A proximidade do clube, que ficava a uma calçada de distância da casa da família, e a empolgação do pai com o esporte elitista influenciaram Maria Esther de maneira profunda - ela só descobriria o quanto no futuro, quando desfilaria suas artes na Inglaterra. No Tietê, ela lapidou seu backhand de uma mão e um jogo de rede agressivo, suas marcas registradas. Gostava de contar que era auto-didata em quase tudo no que dizia respeito ao tênis.
Maria Esther Bueno comenta sobre sua carreira e relembra Wimbledon: Em 1954, então com apenas 14 anos, o baile realmente começou. Maria Esther ganhou o título brasileiro contra rivais muito mais velhas na época. Três anos depois, conquistou o importante torneio Orange Bowl, para tenistas júnior, na Flórida. Curiosamente, ela havia conseguido viajar para a competição graças a uma passagem, somente de ida, fornecida pelo clube. A dificuldade só fez reforçar a trajetória gloriosa que veio a seguir. Entre 1958 e 1977, quando se aposentou oficialmente, Maria Esther Bueno - cujo nome fãs e personalidades estrangeiras encurtaram para Maria Bueno - ergueu 71 troféus, dos quais 19 em campeonatos do Grand Slam: sete em simples, 11 em duplas e um em duplas mistas. O palco em que mais brilhou foi justamente o mais antigo e importante de todos: Wimbledon. Na grama sagrada do All England Lawn Tennis and Croquet Clube, em Londres, ela amealhou três taças em simples (1959, 1960 e 1964) e outras cinco em duplas (1958, 1960, 1963, 1965 e 1966). O primeiro título de Grand Slam veio aos 19 anos.  
Maria Esther Bueno durante bate-bola no Rio Open, em 2014 (Foto: Reprodução) Tamanho sucesso levou a menina que batia bola às margens do Rio Tietê a lugares impensáveis. Primeiro a alçou ao posto de número 1 do ranking mundial em 1959. Com o sucesso, ganhou em apelo popular a ponto de virar selo dos Correios em homenagem às suas vitórias em Wimbledon.
Em meados da década de 1960, ela estava no auge. E chegou à sua cidade natal para a disputa dos Jogos Pan-Americanos de 1963 como grande estrela do evento. Antes de ganhar o ouro nas simples e ser prata nas duplas, a brasileira teve de driblar um incidente inusitado, do qual costumava rir.
Maria Esther Bueno em Wimbledon, em 1966 (Foto:  Leonard Burt/Getty Images) - A principal recordação foi de um acontecimento um dia antes do início dos Jogos. Tinha ganhado um filhote de cachorro e estávamos brincando quando acidentalmente ele mordeu minha mão direita e rasgou bastante a parte interna de um dos dedos. Foi preciso fazer vários pontos e visitas diárias ao hospital durante o torneio para que eu pudesse jogar (com muita dificuldade para segurar a raquete) a semana toda. Os jogos foram todos relativamente fáceis e na final venci uma ex-campeã de Roland Garros, uma das melhores jogadoras mexicanas e especialista em quadras de saibro, Yolanda Ramirez, por 6/3 e 6/3 - disse ela em entrevista à "Folha de S.Paulo", em 2003. 
A ex-tenista foi garota-propaganda de um dos patrocinadores da Olimpíada do Rio e conduziu a chama olímpica no revezamento da tocha em julho de 2016. Também participou da cerimônia de encerramento do megaevento, onde carregou a bandeira brasileira antes da execução do hino nacional (veja vídeo abaixo).
Em meio às ações como embaixadora, nas duas últimas décadas ela começou a divulgar o esporte em que brilhou. Tornou-se comentarista da TV Globo/SporTV e da rede britânica BBC. Em fevereiro deste ano, ela participou da transmissão do SporTV do Rio Open.
Maria Esther costumava afirmar que gostava de dar informações sobre os bastidores dos atletas, dos eventos e do jogo em vez de fazer uma análise ponto a ponto das partidas. Faz todo o sentido para alguém que fez do tênis um balé. Ou uma poesia. Ou uma elegante fantasia. Tudo se encaixa na descrição que inúmeros especialistas da modalidade fizeram ao longo de décadas de Maria Esther Bueno, agora ícone eterno do esporte brasileiro.




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