COM 589 TÍTULOS CONQUISTADOS, MORRE AOS 78 ANOS A MAIOR TENISTA BRASILEIRA DA HISTÓRIA
G1 -Foto:
Ao longo de sua premiada carreira, Maria Esther Andion Bueno ficou
conhecida como a Bailarina do Tênis. A alcunha fez jus à plasticidade de
seu jogo gracioso e à habilidade com a raquete. A verdade, no entanto, é
que a maior jogadora do país em todos os tempos foi além: quebrou
paradigmas, brilhou em um esporte em que o Brasil tinha pouca
representatividade, ganhou notoriedade no círculo mais restrito do
esporte e deixou um legado indelével. Sua vida poderia ganhar muitos
outros adjetivos. Maria Esther foi uma vencedora, única e formidável.
Lendária. A ex-tenista, um dos grandes nomes da história do esporte
brasileiro, repousou nesta sexta-feira, 8 de junho, aos 78 anos, vítima
de um câncer.
Ela estava internada no Hospital Nove de Julho, na capital paulista.
Ela não teve filhos. A morte foi confirmada pelo sobrinho de Maria
Esther, Pedro Bueno. O velório acontece neste sábado, de 8h às 15h, no
salão oval do palácio do governo de São Paulo.
No ano passado, Maria Esther havia retirado um câncer do lábio, mas o
tumor se espalhou para a garganta. Ela, então, passou por sessões de
radioterapia no Hospital Albert Einstein e apresentou melhora no quadro.
Entretanto, a situação se agravou no último mês de abril. Enquanto
jogava tênis - hobby que nunca deixou de praticar -, sentiu dores e, de
início, pensou se tratar de uma lesão. Mas após uma visita ao médico e
novos exames, se descobriu que um novo câncer havia se espalhado por
outros órgãos do corpo. A ex-jogadora optou por não fazer quimioterapia.
Desde então, ela vinha sendo tratada com imunoterapia. Maria Esther
continuava lúcida e, na terça-feira, chegou a assistir ao jogo entre
Novak Djokovic e o italiano Marco Cecchinato pelas quartas de final de
Roland Garros.
Com 19 títulos de Grand Slam, Maria Esther Bueno é considerada a maior
tenista brasileira de todos os tempos, tendo alcançado o posto de número
1 do mundo em quatro temporadas (1959, 1960, 1964 e 1966). Ela
conquistou o seu 1º título de Grand Slam em Wimbledon, em 1959, aos 19
anos. Em 1960, ganhou os quatro Grand Slams de duplas ao vencer na
Austrália, com Christine Truman, e em Wimbledon, Roland Garros e no
Aberto dos Estados Unidos, todos em parceria com Darlene Hard. No total,
ganhou 589 títulos ao longo de sua carreira. Ela entrou para o hall da
fama em 1978.
Primeiro título em Wimbledon veio aos 19 anos
Maria Esther Bueno começou a jogar tênis de maneira despretensiosa, em
companhia do irmão mais velho, Pedro, no Clube de Regatas Tietê, na zona
norte de São Paulo. Ambos foram levados ao esporte pelo pai, Pedro
Augusto, sócio número 5 do Tietê, que tinha o tênis como maior paixão
embora trabalhasse como tesoureiro.
A proximidade do clube, que ficava a uma calçada de distância da casa
da família, e a empolgação do pai com o esporte elitista influenciaram
Maria Esther de maneira profunda - ela só descobriria o quanto no
futuro, quando desfilaria suas artes na Inglaterra. No Tietê, ela
lapidou seu backhand de uma mão e um jogo de rede agressivo, suas marcas
registradas. Gostava de contar que era auto-didata em quase tudo no que
dizia respeito ao tênis.
Em 1954, então com apenas 14 anos, o baile realmente começou. Maria
Esther ganhou o título brasileiro contra rivais muito mais velhas na
época. Três anos depois, conquistou o importante torneio Orange Bowl,
para tenistas júnior, na Flórida. Curiosamente, ela havia conseguido
viajar para a competição graças a uma passagem, somente de ida,
fornecida pelo clube. A dificuldade só fez reforçar a trajetória
gloriosa que veio a seguir. Entre 1958 e 1977, quando se aposentou oficialmente, Maria Esther Bueno
- cujo nome fãs e personalidades estrangeiras encurtaram para Maria
Bueno - ergueu 71 troféus, dos quais 19 em campeonatos do Grand Slam:
sete em simples, 11 em duplas e um em duplas mistas. O palco em que mais
brilhou foi justamente o mais antigo e importante de todos: Wimbledon.
Na grama sagrada do All England Lawn Tennis and Croquet Clube, em
Londres, ela amealhou três taças em simples (1959, 1960 e 1964) e outras
cinco em duplas (1958, 1960, 1963, 1965 e 1966). O primeiro título de
Grand Slam veio aos 19 anos.
Em meados da década de 1960, ela estava no auge. E chegou à sua cidade
natal para a disputa dos Jogos Pan-Americanos de 1963 como grande
estrela do evento. Antes de ganhar o ouro nas simples e ser prata nas
duplas, a brasileira teve de driblar um incidente inusitado, do qual
costumava rir.
- A principal recordação foi de um acontecimento um dia antes do início
dos Jogos. Tinha ganhado um filhote de cachorro e estávamos brincando
quando acidentalmente ele mordeu minha mão direita e rasgou bastante a
parte interna de um dos dedos. Foi preciso fazer vários pontos e visitas
diárias ao hospital durante o torneio para que eu pudesse jogar (com
muita dificuldade para segurar a raquete) a semana toda. Os jogos foram
todos relativamente fáceis e na final venci uma ex-campeã de Roland
Garros, uma das melhores jogadoras mexicanas e especialista em quadras
de saibro, Yolanda Ramirez, por 6/3 e 6/3 - disse ela em entrevista à
"Folha de S.Paulo", em 2003.
A ex-tenista foi garota-propaganda de um dos patrocinadores da
Olimpíada do Rio e conduziu a chama olímpica no revezamento da tocha em
julho de 2016. Também participou da cerimônia de encerramento do
megaevento, onde carregou a bandeira brasileira antes da execução do
hino nacional (veja vídeo abaixo).
Em meio às ações como embaixadora, nas duas últimas décadas ela começou
a divulgar o esporte em que brilhou. Tornou-se comentarista da TV
Globo/SporTV e da rede britânica BBC. Em fevereiro deste ano, ela
participou da transmissão do SporTV do Rio Open.
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