OS ESCRITORES E OS BUMBUNS ESTRAGADOS
Jeremias Macário
Não vi nenhuma citação ou lembrete nos meios
de comunicação sobre a passagem do Dia do Escritor, 25 de julho. Também pudera,
num país que pouco valoriza a leitura de livros e onde é lanterna na lista
mundial nos testes de redação nas escolas! Não dá para esperar outra coisa
dessa sociedade consumista onde a estética do bumbum está acima do exercício da
mente e da beleza de se cultuar o conhecimento e o saber.
As festas literárias, aqui e acolá ainda nos
dá certo alento de esperança, mas muito pouco se for comparar com outras nações,
e me refiro às próximas de nós, como na Argentina, Peru, Colômbia e Chile, só
para apontar estas que já foram detentoras de prêmios Nobel de Literatura.
Aqui, as nossas escolas se arrastam nos índices precários de educação, que
nunca foi prioridade e meta principal de desenvolvimento dos governantes.
Hoje fiquei espantado
e, ao mesmo tempo, surpreso com uma matéria num jornal da capital, cuja
manchete diz que “Salvador lidera ranking de número de leitores de livros”. A
pesquisa é da consultoria JLeiva Cultura & Esportes, em parceria com o
Instituto Data Folha e Fundação Roberto Marinho. Entre doze capitais, Salvador
possui maior número de leitores.
Destaca o estudo que 72% dos soteropolitanos
leram, ao menos, um livro no período de junho a julho de 2017, equivalente a
quatro pontos acima da média geral. Logo em seguida aparecem Belo Horizonte
(70%), Rio de Janeiro e Porto Alegre com 69%. De acordo com o diretor da
Fundação Pedro Calmon, Zulu Araújo, o resultado é fruto de um trabalho intenso
de estímulo à leitura e à escrita na cidade de Salvador.
Ao mesmo tempo, fiquei sem entender quando a
mesma pesquisa atesta que Salvador é a capital que menos frequenta bibliotecas
(32%) e ocupa a última colocação em atividades como ida a museus (19%) e festas
populares (36%). É a segunda pior marca de frequência em concertos e circos.
Não parece um equívoco ou contradição? Dá para confiar nesses dados? Uma
explicação é que o cenário é decorrente da desigualdade econômica e social. O
argumento só me convence em parte.
OS BUMBUNS ESTRAGADOS
Nesta semana, para
variar, os bumbuns químicos e siliconados estragados roubaram a cena dos
escândalos diários de corrupção, o que demonstração, de qualquer forma, a
degradação moral e ética em que vive o nosso país. A mídia, principalmente a
Globo, caiu de pau no “Dr. Bumbum”, mas deixou de mostrar o outro lado das
pessoas que, mesmo sabendo dos riscos desses procedimentos com médicos e
atendentes não especializados em cirurgias plásticas, colocam a busca do corpo
perfeito, sem necessidade, acima até de uma possível morte.
Não sou nenhum “advogado”, mesmo porque não
é minha profissão, do “Dr, Bumbum”, mas ninguém foi coagido e obrigado a fazer
preenchimento da bunda, das coxas ou dos peitos, apesar de saber dos riscos e
em lugares impróprios. Portanto, não são totalmente coitadinhas e vítimas como
mostradas pela mídia, que não alerta, nem aborda a outra questão.
Falta nessas pessoas, que primam mais pela
estética do corpo do que pela a do espírito e da cabeça, personalidade e
amadurecimento de vida através da educação e da cultura. Falta consciência
profunda de que um dia seu corpo vai ter que cair, vai envelhecer e morrer, e
que seja assim para que seja cumprido o ciclo natural da vida, com cuidados
saudáveis e não superficiais e fúteis de uma sociedade supérflua.
Mas, infelizmente, centenas e milhares de
mulheres preferem seguir o “conselho” da Paty Bumbum que agora não teve a
mínima vergonha na cara de recomendar que é melhor morrer “bonita” com uma
intervenção maluca desse tipo, do que morrer “feia”. Só pode ser muita
depressão e ansiedade para entrar de bumbum numa conversa dessa de puro
interesseda grana fácil, extraída de pessoas tão vulneráveis e volúveis.
Nas redes sociais, essas mulheres optam pelo
absurdo em detrimento do racional, influenciadas por outras e outros que cobram
delas mais silicones nos bumbuns, só para ouvir que suas partes estão no lugar
perfeito com mais beleza e mais gostoso para o parceiro ou parceira. Além de
considerar uma morte como fatalidade e normal, a Paty Bumbum ainda coloca Deus
no meio.
O que não consigo mesmo entender é que tem
gente que faz esses implantes químicos com agulhas impróprias (veterinárias)
até em salões de beleza, e depois que estoura os casos de enfermidades, defeitos
no corpo e infecções com morte, vão para televisão denunciar suas terríveis
experiências, mas sem mostrar seus rostos. Onde ficou a coragem e a
determinação irredutível quando resolveram se entregar a tais procedimentos,
mesmo sabendo que corriam riscos nesses açougues e em mãos incertas?
Por fim, onde estão os conselhos, as
associações, as instituições de medicina, a Justiça, Ministério Público, o
Ministério da Saúde e até mesmo a polícia para prender e banir essa gente
clandestina do mercado? Só investiga e prende quando morre alguém? Todos são
culpados. Aqui, no país das piadas, tudo é a “migué”, cada um faz o que quer, embora
tenha um trem cheio de leis.
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