terça-feira, 28 de agosto de 2018

JEREMIAS MACÁRIO - COLUNISTA VIP:



AS CURIOSIDADES DO MUNDO GREGO,
SUAS FILOSOFIAS E SABEDORIAS (IV)
Jeremias Macário
O autor Indro Montanelli, de “História dos Gregos” traça aqui um perfil e curiosidades dos grandes personagens, generais, estadistas e filósofos que marcaram a civilização grega, a mais admirada de todos os tempos, entre os séculos sétimo, sexto e quinto a.C.
PÉRICLES –Sobre este estadista, o escritor afirma que a Idade de Péricles é a idade de ouro de Atenas. Era filho de Xantipo, oficial da marinha que se tornou almirante, em Salamina, e comandou a frota na vitoriosa batalha de Mícale.
  Democrata autêntico, ocupou por 40 anos os mais altos cargos, de 467 a 428 a.C. Sua família deu-lhe educação de príncipe herdeiro e foi o primeiro a introduzir o soldo no exército, para que o apelo às armas não arruinasse as famílias pobres.
Em seu tempo construiu o muro projetado pelo general Temístocles, para isolar a cidade e o porto da terra firme. Vendo nele uma fortaleza invencível, os espartanos mandaram um exército para destruí-lo, mas resistiu. Péricles quis elevar o Partenão, mas os atenienses não quiseram financiar o projeto. Então, ele resolveu construir à sua custa e colocou seu nome no frontispício.
Mesmo casado, apaixonou-se por uma mulher de nome Aspásia, que era estrangeira de costumes discutíveis, ou seja, mulher pública, mas intelectual que lutava pela emancipação feminina, criando o protótipo de “hetera”.
Dizem que, quando Péricles a conheceu, ela era amante de Sócrates. Sua alcova era também frequentada por Alcibíades, Eurípedes e Fídias. Ao notar que sua legítima esposa não era tanto virtuosa, ele ofereceu o divórcio, e transformou Aspásia em primeira dama de Atenas. Mesmo contra a lei constituída por ele mesmo, veio depois a lhe dar um filho.
A DRACMA – Por algum tempo, o sal chegou a constituir a moeda de troca. Para fazer elogio de uma mercadoria se dizia: Vale o seu sal. O contrário dos italianos, os atenienses entenderam que a única maneira de ser esperto é a de não ser. Enquanto os outros estados praticavam a desvalorização de sua moeda, Atenas deu à sua própria dracma um valor estável, tornando-a troca universal. Quando propôs a criação de um fundo comum, o presidente foi Apolo de Delfos, que dava 3% de renda a quem depositasse em suas instituições bancárias e cobrava 20% de juros a quem tomava emprestado. Assim, explodiu o boom comercial garantido pela supremacia naval, pela estabilidade da moeda e pelo sistema crediário.
ALUTA SOCIAL – Depois de instalar bancos nos templos e fazer dos deuses seus presidentes, os cidadãos de Atenas, que eram poucos, desprezavam o trabalho e o considerava humilhante à dignidade humana. O ócio era a mais nobre atividade e primeira condição para qualquer progresso espiritual e comercial.
O trabalho tornou-se monopólio das outras categorias sociais, como os metecos (estrangeiros), libertos e escravos. Ao contrário de Roma, onde o dono do escravo tinha até o direito de matá-lo, em Atenas ele gozava de certa proteção da lei. Se fugisse para o templo por ter sido castigado, ninguém podia tirar de lá. Recebiam pequenos salários e tinham liberdade de movimento e moradia. Atenas praticou a escravidão da maneira mais humana possível. Apesar do sistema capitalista, não existia milionários, a não ser Temístocles que fugiu para proteger seu dinheiro.
UM TEÓFILO QUALQUER – Na sociedade ateniense era aceito o infanticídio, regularmente praticado contra crianças defeituosas, como também em Esparta. Em Roma, as pessoas recebiam três nomes, o próprio, o da família e o da dinastia. O grego recebia um só, como Teófilo (nome do avô), como Teófilo de Címon, para distingui-lo de outros.
  Teófilo qualquer cresce ao ar livre, junto com as mulheres, brincando com os irmãos. Fica vários dias seguidos sem ver o pai, que sai pela manhã para trabalhar ou discutir política na praça. Passa mais tempo no clube e não educa, pessoalmente, o filho. Aos seis anos manda-o par uma escola particular e é levado pela mão de um “pedagogo”, um escravo. Apesar das sugestões de Platão, o estado nunca quis assumir o monopólio da educação.
Em Atenas só se considera propriamente educado quem sabe correr, lutar, lançar discos e dardo. Depois dessa formação média, Teófilo pode aprender oratória, ciência, filosofia e história, seguindo os cursos de mestres que ensinam andando nas vizinhanças, ou sentados debaixo de uma árvore.
Aos dezoito torna-se efebo e faz o serviço militar. Depois dos 21anos não é mais efebo. É “aner”, homem autorizado a constituir família. Não gosta muito de se banhar. No lugar, passa óleo e perfumes no corpo. Sócrates, muito sujo, torce o nariz. Éhospitaleiro e acha natural a mentira, como o Ulisses, seu herói, o mais descarado da história. Acha lógico acabar de matar a sabre o inimigo ferido, roubar-lhe as armas e a carteira, saquear a cidade e violentar as mulheres. Não ama a natureza e destrói plantas e animais.
UMA NICE QUALQUER – As heteras foram as únicas que conquistaram lugar na história grega, como as gheishas japonesas e as cocotes parisienses. Frinéia foi uma delas. Andava sempre coberta de véus, e duas vezes por ano tomava banho de mar completamente nua. Atenas se reuniana praia para vê-la. Clessidra foi outra famosa, e Gnatena investiu tudo na filha, a qual era emprestada por uns 10 mil reais por noite. Foram as mulheres mais cultas.
Quando cansado de filosofia, Platão ia descansar na casa de Arqueanassa. Epicuro dedicava boa parte de suas teorias sobre o prazer de Dânea e Leôncia. Sófocles teve longa intimidade com Teorides. Já idoso, o grande Míron quando viu Laís perdeu a cabeça e lhe ofereceu tudo o que tinha para que ficasse com ele à noite. Diante da recusa, pintou o cabelo e deu uma renovada completa no visual. Então, disse-lhe a bela Laís: Meu amigo, não esperes obter hoje o que ontem neguei ao teu pai. Recusou uma rica oferta do feio Demóstenes, mas entregava-se gratuitamente a Aristipo, só porque gostava da sua filosofia.
 Conta Plutarco que, quando em Mileto houve uma onda de suicídio entre as mulheres, o governo pôs fim ordenando que os corpos das vítimas fossem expostos nus diante da população.
Mas, a Nice qualquer, depois de moça, fica em casa e veste túnica de lã branca. Na combinação do casamento, deve esperar que o paiacerte o pretendente com o outro pai. Possui um dote. Os critérios para o casamento são basicamente econômicos. Setiver sorte, aos 16 se casará com um de 30 ou 40 anos. Tem obrigação à fidelidade. Caso contrário, o marido será chamado de côrno, palavra inventada pelos gregos. O marido pode ter concubina.
 Na idade heroica, por uma mulher se desencadeava uma guerra. Na civilização aquéia, ou dórica, a mulher é protagonista. Isso confirma a origem nórdica dos conquistadores. Onde dominaram, como em Esparta, ela desfruta de outra posição. Mesmo sendo capital do progresso político e cultural, Atenas foi a cidadela da reação no plano das relações familiares. Nice é uma mulher de harém. Vê raras vezes seu marido, que só volta à casa para dormir.
Sobre a história de Heródoto, de que elas comiam na cozinha e não na sala de jantar com seus maridos, dizem que as de sangue meridional tinham jurado nunca sentar-se à mesa com eles. Os conquistadoresmatavam todos os homens, esposando as viúvas.
FÍDIAS NO PARTENÃO –Mesmo com fortes objeções, Péricles convenceu o parlamento a reconstruir a Acrópole e contratou os arquitetos Ictino e Calicarte, sob a supervisão de Fídias, pintor que trabalhara no ateliê de Polignoto de Tarso, o grande mestre do início do século V a.C. que fez os afrescos de Ulisses no Inferno, o Saque de Troia e As Mulheres Troianas.
Fídias trocou o pincel pelo formão, quando em Atenas quatro escolas disputavam a primazia, a de Régio, a de Argos, a de Egina e a de Atenas. Ele se encantou com os artistas Agelada e Policleto, de Argos. Outro mestre de Fídias foi Míron, autor do famoso Discóbulo, e preferia os atletas e animais. Sua “Bezerra” era tão natural que um admirador gritou: Muge!
Dizem que Fídias tinha mania de grandeza e não era muito social. Foi incriminado por furto de ouro e marfim que lhe foram entregues para confecção de uma estátua da deusa Atena. Não soube justificar e foi condenado. O governo de Olimpia ofereceu-se para cobrir os danos de Atenas e dele encomendou a construção da estátua de Zeus. Novamente recorreu ao marfim e ao ouro. A obra foi considerada uma das sete maravilhas.
Depois de Olímpia, voltou para Atenas onde o tornaram a prender e o detiveram até a morte. Partenão, derivado de ton Parthenon, significa “das virgens”, o cubículo das sacerdotisas da deusa. Com o correr do tempo, acabou dando o nome a todo o complexo. Com Péricles, iam visitar o tempo seus amigos e alguns inimigos políticos. Sócrates levava seus discípulos Alcibíades e Platão. Iam seu ex-mestre Anaxágoras, Parmênides com seu aluno Zenão, Sofocles, Eurípedes e tantos outros, naquela pátria da filosofia de pouco mais de 200 mil habitantes e 30 a 40 mil cidadãos.

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