AS CURIOSIDADES DO MUNDO GREGO,
SUAS FILOSOFIAS E SABEDORIAS (IV)
Jeremias Macário
O autor Indro
Montanelli, de “História dos Gregos” traça aqui um perfil e curiosidades dos
grandes personagens, generais, estadistas e filósofos que marcaram a
civilização grega, a mais admirada de todos os tempos, entre os séculos sétimo,
sexto e quinto a.C.
PÉRICLES –Sobre este estadista,
o escritor afirma que a Idade de Péricles é a idade de ouro de Atenas. Era filho
de Xantipo, oficial da marinha que se tornou almirante, em Salamina, e comandou
a frota na vitoriosa batalha de Mícale.
Democrata autêntico, ocupou por 40 anos os
mais altos cargos, de 467 a 428 a.C. Sua família deu-lhe educação de príncipe
herdeiro e foi o primeiro a introduzir o soldo no exército, para que o apelo às
armas não arruinasse as famílias pobres.
Em seu tempo construiu
o muro projetado pelo general Temístocles, para isolar a cidade e o porto da
terra firme. Vendo nele uma fortaleza invencível, os espartanos mandaram um
exército para destruí-lo, mas resistiu. Péricles quis elevar o Partenão, mas os
atenienses não quiseram financiar o projeto. Então, ele resolveu construir à
sua custa e colocou seu nome no frontispício.
Mesmo casado,
apaixonou-se por uma mulher de nome Aspásia, que era estrangeira de costumes discutíveis,
ou seja, mulher pública, mas intelectual que lutava pela emancipação feminina,
criando o protótipo de “hetera”.
Dizem que, quando
Péricles a conheceu, ela era amante de Sócrates. Sua alcova era também frequentada
por Alcibíades, Eurípedes e Fídias. Ao notar que sua legítima esposa não era
tanto virtuosa, ele ofereceu o divórcio, e transformou Aspásia em primeira dama
de Atenas. Mesmo contra a lei constituída por ele mesmo, veio depois a lhe dar
um filho.
A DRACMA – Por algum
tempo, o sal chegou a constituir a moeda de troca. Para fazer elogio de uma
mercadoria se dizia: Vale o seu sal. O contrário dos italianos, os atenienses
entenderam que a única maneira de ser esperto é a de não ser. Enquanto os
outros estados praticavam a desvalorização de sua moeda, Atenas deu à sua
própria dracma um valor estável, tornando-a troca universal. Quando propôs a
criação de um fundo comum, o presidente foi Apolo de Delfos, que dava 3% de
renda a quem depositasse em suas instituições bancárias e cobrava 20% de juros
a quem tomava emprestado. Assim, explodiu o boom comercial garantido pela
supremacia naval, pela estabilidade da moeda e pelo sistema crediário.
ALUTA SOCIAL – Depois
de instalar bancos nos templos e fazer dos deuses seus presidentes, os cidadãos
de Atenas, que eram poucos, desprezavam o trabalho e o considerava humilhante à
dignidade humana. O ócio era a mais nobre atividade e primeira condição para
qualquer progresso espiritual e comercial.
O trabalho tornou-se
monopólio das outras categorias sociais, como os metecos (estrangeiros),
libertos e escravos. Ao contrário de Roma, onde o dono do escravo tinha até o
direito de matá-lo, em Atenas ele gozava de certa proteção da lei. Se fugisse
para o templo por ter sido castigado, ninguém podia tirar de lá. Recebiam
pequenos salários e tinham liberdade de movimento e moradia. Atenas praticou a
escravidão da maneira mais humana possível. Apesar do sistema capitalista, não
existia milionários, a não ser Temístocles que fugiu para proteger seu
dinheiro.
UM TEÓFILO QUALQUER –
Na sociedade ateniense era aceito o infanticídio, regularmente praticado contra
crianças defeituosas, como também em Esparta. Em Roma, as pessoas recebiam três
nomes, o próprio, o da família e o da dinastia. O grego recebia um só, como
Teófilo (nome do avô), como Teófilo de Címon, para distingui-lo de outros.
Teófilo qualquer cresce ao ar livre, junto
com as mulheres, brincando com os irmãos. Fica vários dias seguidos sem ver o
pai, que sai pela manhã para trabalhar ou discutir política na praça. Passa
mais tempo no clube e não educa, pessoalmente, o filho. Aos seis anos manda-o
par uma escola particular e é levado pela mão de um “pedagogo”, um escravo.
Apesar das sugestões de Platão, o estado nunca quis assumir o monopólio da
educação.
Em Atenas só se
considera propriamente educado quem sabe correr, lutar, lançar discos e dardo.
Depois dessa formação média, Teófilo pode aprender oratória, ciência, filosofia
e história, seguindo os cursos de mestres que ensinam andando nas vizinhanças,
ou sentados debaixo de uma árvore.
Aos dezoito torna-se
efebo e faz o serviço militar. Depois dos 21anos não é mais efebo. É “aner”,
homem autorizado a constituir família. Não gosta muito de se banhar. No lugar,
passa óleo e perfumes no corpo. Sócrates, muito sujo, torce o nariz.
Éhospitaleiro e acha natural a mentira, como o Ulisses, seu herói, o mais
descarado da história. Acha lógico acabar de matar a sabre o inimigo ferido,
roubar-lhe as armas e a carteira, saquear a cidade e violentar as mulheres. Não
ama a natureza e destrói plantas e animais.
UMA NICE QUALQUER – As
heteras foram as únicas que conquistaram lugar na história grega, como as gheishas
japonesas e as cocotes parisienses. Frinéia foi uma delas. Andava sempre
coberta de véus, e duas vezes por ano tomava banho de mar completamente nua.
Atenas se reuniana praia para vê-la. Clessidra foi outra famosa, e Gnatena
investiu tudo na filha, a qual era emprestada por uns 10 mil reais por noite.
Foram as mulheres mais cultas.
Quando cansado de
filosofia, Platão ia descansar na casa de Arqueanassa. Epicuro dedicava boa
parte de suas teorias sobre o prazer de Dânea e Leôncia. Sófocles teve longa
intimidade com Teorides. Já idoso, o grande Míron quando viu Laís perdeu a
cabeça e lhe ofereceu tudo o que tinha para que ficasse com ele à noite. Diante
da recusa, pintou o cabelo e deu uma renovada completa no visual. Então,
disse-lhe a bela Laís: Meu amigo, não esperes obter hoje o que ontem neguei ao
teu pai. Recusou uma rica oferta do feio Demóstenes, mas entregava-se
gratuitamente a Aristipo, só porque gostava da sua filosofia.
Conta Plutarco que, quando em Mileto houve uma
onda de suicídio entre as mulheres, o governo pôs fim ordenando que os corpos
das vítimas fossem expostos nus diante da população.
Mas, a Nice qualquer,
depois de moça, fica em casa e veste túnica de lã branca. Na combinação do
casamento, deve esperar que o paiacerte o pretendente com o outro pai. Possui
um dote. Os critérios para o casamento são basicamente econômicos. Setiver
sorte, aos 16 se casará com um de 30 ou 40 anos. Tem obrigação à fidelidade.
Caso contrário, o marido será chamado de côrno, palavra inventada pelos gregos.
O marido pode ter concubina.
Na idade heroica, por uma mulher se
desencadeava uma guerra. Na civilização aquéia, ou dórica, a mulher é
protagonista. Isso confirma a origem nórdica dos conquistadores. Onde
dominaram, como em Esparta, ela desfruta de outra posição. Mesmo sendo capital
do progresso político e cultural, Atenas foi a cidadela da reação no plano das
relações familiares. Nice é uma mulher de harém. Vê raras vezes seu marido, que
só volta à casa para dormir.
Sobre a história de
Heródoto, de que elas comiam na cozinha e não na sala de jantar com seus
maridos, dizem que as de sangue meridional tinham jurado nunca sentar-se à mesa
com eles. Os conquistadoresmatavam todos os homens, esposando as viúvas.
FÍDIAS NO PARTENÃO –Mesmo
com fortes objeções, Péricles convenceu o parlamento a reconstruir a Acrópole e
contratou os arquitetos Ictino e Calicarte, sob a supervisão de Fídias, pintor
que trabalhara no ateliê de Polignoto de Tarso, o grande mestre do início do
século V a.C. que fez os afrescos de Ulisses no Inferno, o Saque de Troia e As
Mulheres Troianas.
Fídias trocou o pincel
pelo formão, quando em Atenas quatro escolas disputavam a primazia, a de Régio,
a de Argos, a de Egina e a de Atenas. Ele se encantou com os artistas Agelada e
Policleto, de Argos. Outro mestre de Fídias foi Míron, autor do famoso
Discóbulo, e preferia os atletas e animais. Sua “Bezerra” era tão natural que
um admirador gritou: Muge!
Dizem que Fídias tinha
mania de grandeza e não era muito social. Foi incriminado por furto de ouro e
marfim que lhe foram entregues para confecção de uma estátua da deusa Atena.
Não soube justificar e foi condenado. O governo de Olimpia ofereceu-se para
cobrir os danos de Atenas e dele encomendou a construção da estátua de Zeus.
Novamente recorreu ao marfim e ao ouro. A obra foi considerada uma das sete
maravilhas.
Depois de Olímpia,
voltou para Atenas onde o tornaram a prender e o detiveram até a morte.
Partenão, derivado de ton Parthenon, significa “das virgens”, o cubículo das
sacerdotisas da deusa. Com o correr do tempo, acabou dando o nome a todo o
complexo. Com Péricles, iam visitar o tempo seus amigos e alguns inimigos
políticos. Sócrates levava seus discípulos Alcibíades e Platão. Iam seu
ex-mestre Anaxágoras, Parmênides com seu aluno Zenão, Sofocles, Eurípedes e
tantos outros, naquela pátria da filosofia de pouco mais de 200 mil habitantes
e 30 a 40 mil cidadãos.