MAIS UM CASO PARA O ARQUIVO
Jeremias Macário
Confesso que se fosse com um filho meu ou
parente mais próximo, não queria, nem aceitava conversa de reunião com comando
da polícia, nem com políticos que aproveitam o momento para fazerem média. Todo
mundo está “careca” de saber que no final tudo cai no esquecimento através da
lentidão da justiça. Depois de um mês, quem importa mais?
Estou me referindo ao caso do artista
plástico Manoel Arnaldo dos Santos Filho, de 61 anos, o “Nadinho”, morto no
sábado, em Candeias, na Região Metropolitana de Salvador, por policiais
militares que deram a versão de que a vítima reagiu com uma arma calibre 32 e
atirou duas vezes contra eles. O artista foi baleado duas vezes.
Mais uma trapalhada e despreparo deles,
seguidos de “explicações” e incriminações descabidas porque sabem que tudo
termina em impunidade. Como tantos outros, vai ser mais um caso que vai para o
arquivo morto. Depois chamam a família para apaziguar os ânimos e prometer
“severa investigação nas apurações”.
São vários os exemplos com o mesmo “modus
operandi” da polícia que causa revolta, e é por isso que digo que não queria
papo com ninguém se acontecesse com um familiar meu. Nunca acredito nisso de
polícia (Corregedoria) investigar polícia, quando deveria ser da alçada da
justiça comum. Cadê o Ministério Público?
Para ficar num exemplo bem mais próximo de
nós, alguém aí se lembra do caso do menino Maicon, há cerca de cinco anos, num
bairro da periferia de Vitória da Conquista? A polícia foi atender a um chamado
de desordem no local e entrou atirando pra todos os lados. A criança foi
atingida e morreu.
A sociedade foi a primeira a ficar em
silêncio porque se tratava de gente pobre e humilde. Disseram no início que os
policiais estavam sendo investigados. Hoje, ninguém fala mais do assunto, e os
culpados continuam atuando. O caso virou arquivo morto. O brasileiro precisa se
rebelar e se indignar contra esta farsa.
A polícia continua agindo com agressividade
porque é despreparada e mal treinada, mas as autoridades e o próprio comando
não querem nem ouvir falar de reestruturação da corporação, até mesmo de sua
extinção, com a criação de uma nova instituição de segurança, adaptada aos
tempos modernos e com uma nova filosofia de trabalho, sendo bem instruída e bem
paga.
Sempre dizem que o assunto é muito polêmico e
complicado. Tudo fica no mesmo, se arrastando, e muita gente sendo morta por
imperícia. Aí, os culpados quando matam, inventam coisas das suas vítimas para
tentar reparar os erros. Tempos depois voltam a trabalhar nas ruas.
Quando acontecem mortes violentas de
inocentes, como do artista de Candeias, a mídia entra para fazer seu
estardalhaço midiático sensacionalista e, pouco tempo depois, nem comenta mais
sobre a questão. A polícia chama a família para uma reunião, e os políticos,
que não são nada bestas, também entram na jogada.
Depois tudo permanece como dantes e logo
aparece outro caso semelhante. Tudo volta a se repetir porque o sistema segue arcaico,
arbitrário, corporativista e truculento, que só se importa com hierarquias.
Como a sociedade se fecha em conluio e prefere ficar em silêncio, a grande
maioria das mortes entra para o arquivo morto.
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