EDUCAÇÃO E OS PROBLEMAS SOCIAIS
Jeremias Macário
Sem cidadãos pensantes,
os gênios malditos têm terreno livre para agir e tornar nosso país num lugar de
trevas. É preciso saber distinguir o verdadeiro do falso. Tudo tem a ver com a
educação, inclusive no aspecto da distribuição de renda no Brasil, uma das mais
perversas da terra.
Todos concordam que a educação de qualidade
é a saída primordial para o desenvolvimento e a redução gradual da desigualdade
social, uma das mais profundas e cruéis do planeta que leva milhões a viver na
extrema pobreza. Por que, então, os governos não investem pesado no setor, como
meta prioritária nos seus programas de trabalho? Será culpa da elite burra e
retrógrada que não quer ver a ascensão das camadas mais baixas?
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
Contínua (2016/17) dá conta que a Bahia liderou o ranking nacional da
desigualdade de renda no período, sobretudo por sexo, cor ou raça. O salário
médio real da metade dos trabalhadores que ganhavam menos na Bahia caiu de 472
reais para 444, enquanto o rendimento médio dos 10% de trabalhadores com
maiores salários aumentou de 5.946,00 reais para 7.833,00 reais. De acordo com
os pesquisadores, a concentração de renda tem a ver com a escolaridade e a
geração de emprego formal. Entre as regiões, a Nordeste é a mais desigual.
Há séculos a educação nunca esteve no
primeiro plano das ações políticas, cujos personagens se habituaram a usar a
ignorância para se elegerem. Ai os problemas sociais, de saúde e de violência
se agigantaram de uma forma que, em paralelo, estes itens têm de ser reforçados
para que o projeto educacional prospere. Fica difícil transmitir conhecimento
de conteúdo para uma criança com fome, doente ou com problemas familiares de
ordem econômica e social em casa.
Mesmo o professor sendo preparado, como
ensinar uma criança cujos pais são alcoólatras, viciados em drogas, e em um lar
onde o ambiente é de constante violência, sem contar o aspecto de pobreza? Fora
estes problemas, muitas vezes o aluno reside em áreas de risco nas cidades e
vive em permanente tensão psicológica. Em outros casos tem irmãos traficantes,
e ele está sempre tentado a deixar a escola.
No meio rural, a degradação social não difere
muito, sem contar a distância que o estudante tem que enfrentar entre sua casa
e o colégio, muitas vezes estradas intransitáveis, rios e matos fechados. Por
tudo isso e mais as péssimas condições das salas, o ensino termina sendo
improdutivo. Nesse emaranhado de dificuldades, somente poucos conseguem
sobressair virando manchetes de jornais como verdadeiros super-heróis.
Não adianta querer mudar metodologias, trocar
disciplinas, criar novas bases curriculares, as quais sempre existiram,
discutir planos e mais planos, montar estratégias e treinar o corpo docente
exigindo formação de nível superior, se estas questões, a maioria de ordem
social, não forem resolvidas.
Não basta só a escola ser atraente se nela o
aluno que frequenta é mais uma peça problemática da engrenagem, em decorrência
da desestruturação familiar e da própria exclusão social em que vive. Pela
falta de compromissos sérios dos governos para com a educação ao longo desses
séculos, a desordem tomou proporções monstruosas em todos os níveis, tornando
mais complexa e custosa a retomada do ensino de qualidade no país.
Uma coisa está atrelada
a outra e, no meio de tudo isso, as elites brasileiras são extremamente burras
e egoístas, e sempre de tudo fizeram para não distribuir a renda. A
incompetência e os desvios de roubos dos governantes terminaram na privatização
da educação, restrita às camadas burguesas de maior poder aquisitivo.Até as
universidades públicas viraram lugar de ricos e desprezaram os curso de
ciências humanas, principalmente a filosofia.
COLÉGIOS MILITARES
Como a situação é complexa, dado ao estado em
que se chegou, os ditos mentores teóricos e responsáveis pelas normatizações de
regras e normas do setor sempre estão apontando possíveis saídas, como, por
exemplo, a “militarização do ensino”, como atesta convênio assinado entre União
dos Municípios da Bahia e a Diretoria de Ensino da Polícia Militar, para
escolas do interior.
Várias entidades e partidos de esquerda
desaprovaram a intenção e classificaram a medida como autoritária, arbitrária e
contraditória. O superintendente de política para a educação básica da
Secretaria Estadual de Educação, Ney Campello, garantiu que a pasta não tem
relação com o convênio, apesar do apoio dado pelo governador da Bahia.
Campello explicou que
apenas três colégios das PMs podem ser criados na rede estadual já que a
parceria entre a Secretaria de Segurança Pública e a SEC só permite a
existência de 17 unidades. O superintendente, formado num colégio militar,
criticou o que chamou de patrulhamento e preconceito, e afirmou que disciplina
não tem nada a ver com autoritarismo.
Sobre a questão, a Associação Nacional pela
Formação dos Professores da Educação divulgou nota onde defende que a concepção
de mundo pedagógico, de formação humana e projeto de escolarização da classe
trabalhadora, difere do projeto do braço armado do Estado burguês. Disse não
ser função dos aparelhos de segurança se envolver em assuntos que não são da
sua alçada.
A nota assinada por docentes prega que a
solução para a qualidade na educação não é disciplina militar, mas
investimentos públicos e uma gestão comprometida com a promoção de direitos
sociais dos alunos e da comunidade. No clima atual de conservadorismo e
extremismo em que vivemos, deve ter muita gente por aí defendendo o método da
porrada como salvação para a educação de qualidade.
Enquanto se discutem experiências e regimes
escolares, um relatório do Banco Mundial que avalia e debate educação e aprendizagem
em vários países informou que os estudantes brasileiros poderiam demorar mais
de 260 anos para atingir a proficiência em leitura dos alunos dos países
desenvolvidos.
Em matemática, segundo a instituição, a
previsão é que os alunos levarão 75 anos para atingir a pontuação média
registrada nos países ricos. Os dados do banco mostram que 125 milhões de
crianças em todo mundo não possuem conhecimentos básicos de leitura e
matemática, mesmo frequentando a escola (260 milhões não estão estudando).
Para o Brasil, o relatório não é nenhuma
surpresa diante da realidade da falta de políticas públicas sociais voltadas
para a educação. Neste item precioso, o nosso país está na contramão do
progresso do planeta. Precisamos de pelo menos quatro gerações para sairmos da
utopia para a realidade. Nesse caos social e político, tudo não passa do sonho.
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