domingo, 22 de outubro de 2017

NANDO DA COSTA LIMA - COLUNISTA VIP:



Os atores
Nando da Costa Lima
 
            Todo ser humano tem um pouco de ator. Todos nós, em determinados momentos da vida, temos que representar... Independente de profissão e credo. Advogados, médicos, peões, cientistas, todos usam um pouco da dramaturgia para desempenhar melhor o seu papel. Mas quero falar dos atores de verdade, os profissionais, os apaixonados por teatro, cinema, televisão, circo. Eles são incríveis, mesmo quando ainda não famosos. Acho que de tanto emprestarem o corpo a personagens distintos, eles se tornam pessoas mais compreensivas, mais liberais. E é lógico que, por ofício, são necessariamente cultos (ou nem sempre). O ator dá tudo de si para agradar seu público, é claro que quando são elogiados ou ovacionados, parece que transcendem. Tenho para mim que eles usam os aplausos e elogios como um alimento pra alma... Por isso eu os acho diferentes. O ator também tem aquele lado “médium”, é quando ele incorpora um personagem! E não importa que seja anônimo, quando ele assume pra sociedade que é ator, automaticamente passa a ser ator, mesmo que a maioria das pessoas acrescente um “pequeno” termo pejorativo: “Aquele ator doido...”, ou “Aquele doido metido a ator”. Infelizmente, tem esses detalhes. Talvez por isso a grande maioria dos atores passa o ofício de pai pra filho, ou mãe pra filha. Porque o único pai que aceita de “primeira” um filho ator é um pai ator... O resto pode até aceitar, mas fica com uma pulga atrás da orelha. E também, numa família de atores, o simples convívio leva os filhos a se interessarem pela carreira dos pais. A maioria dá segmento!
            Aqui no Planalto da Conquista, quando se fala em artes cênicas, logo vem Gildásio Leite na mente de várias gerações. Um ator conquistense que trabalhou com os melhores cineastas brasileiros, como Glauber Rocha, Walter Salles, Tuna Espinheira. É lógico que por essas redondezas devem ter grandes atores, mas pra minha geração, Gildásio marcou, talvez pela atuação nos filmes de Glauber Rocha. Sem falar do lado carismático do ator.Gildásio é um daqueles caras que já nasce predestinado a ser artista.
            Talvez seja uma das profissões mais difíceis que se tem notícia, pra você chegar lá o caminho é muito árduo, a grande maioria dos atores é boa. Como eu já disse, só de assumir o estado de ator, o cara já deve ser considerado. Ele tem que ser muito corajoso pra falar que vai se dedicar em tempo integral. Hoje até que não, apesar de ainda existir muito preconceito. Nos anos 60, o cidadão assumir que era ator era uma roleta russa: ou ele ficava famoso e caia nas graças do povo ou não se destacava e passava o resto da vida como aquele ator meio doido... A sociedade adora rótulos, mesmo sabendo que rotular o ser humano é extremamente anti-social.
            Mas os atores, independente de qualquer coisa, levam uma grande vantagem sobre os mortais comuns: eles podem, brincar de Deus! Até nos emprestam suas asas! Num dia eles são barões, no outro mendigos. Vilões ou heróis, homem, mulher. O ator pode ser tudo sem deixar de ser ele.

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