FILOSOFIA, LEITURA E LADROAGEM
Jeremias Macário
“Penso, logo existo”. Comecei a pensar com
mais clareza e a compreender melhor a lógica das coisas quando iniciei meus
estudos básicos de filosofia nos antigos cursos ginasial e no clássico no
Seminário de Amargosa e de Salvador. As citações dos pensamentos dos grandes
filósofos gregos me deixaram encantado e até hoje não me canso de revê-los nos
livros. Eles me ensinam a aprimorar o conhecimento e o saber.
Passados muitos anos de
luta e viver, hoje sinto-me triste e desiludido quando vejo um governo
desastroso renegar o ensino daquela que é a mãe de todas as ciências, e ainda colocar
a sociologia também como um estudo sem valor para os jovens. É como dizer que a
partir de agora é proibido pensar no Brasil. As pessoas, há muito tempo, estão
deixando de existir porque deixaram de pensar, como diz a lógica.
Serve para todas as
profissões
Como disse um leitor de um jornal da capital,
a filosofia ensina a pensar, e esse dom do pensar serve para todas as profissões.
Mas, para o ministro do Bozó, ela tem pouca importância. Na sua ótica vesga, a
prioridade é aprender a fazer contas, mas como fazer contas sem saber pensar?Os
grandes filósofos como Arquimedes, Pitágoras, Aristóteles e outros foram
matemáticos, astrônomos e inventores.
Diante de tantas insanidades nestes primeiros
meses do governo do capitão, só posso pensar que o país está sendo conduzido
por um bando de malucos. Como disse o leitor lá na frente, “o tempo é o senhor
da razão” Em 341 a.C., o pensador grego Epicuro afirmou que todos são capazes
de aprender filosofia em todas as idades, sendo ela um caminho para a
liberdade.
O conhecimento
filosófico é fundamental para o desenvolvimento humano e ensinar a interpretar
melhor a vida, e até achar algum sentido para ela. Para a ignorância, a
estupidez e o totalitarismo, a filosofia é um grande perigo. Entre a
militarização e os astrólogos, o Ministério da Educação virou uma balbúrdia, e
o grande chefe Bozó chama os estudantes e os professores de idiotas e inocentes
úteis, repetindo os mesmos chavões da esquerda.
LEITURA
A perda pelo hábito da
leitura no país levou o brasileiro a deixar de pensar e a engolir tudo que
recebe como se fosse um pacote de verdade. Infelizmente, perdemos também a
filosofia do ler. Uma prova é que o setor livreiro vive em crise, de acordo com
a Câmara Brasileira do Livro. Estamos mais habituados à oralidade. Entre o
primeiro bimestre de 2018, em comparação com o atual, as vendas de livros
caíram 18% em volume e 19% em valor. Se serve de consolo, em Vitória da
Conquista, conforme o movimento das livrarias Nobel, o valor de vendas entre
2017 e 2018 se equiparou, mais por causa da demanda por livros infanto-juvenil
e de autoajuda.
Parece uma contradição, mas, graças à
expansão digital, nunca se escreveu e se leu tanto, considerando o acesso fácil
às redes sociais e aos textos em formato PDF. Se o célebre poeta clássico
Eurípedes colecionava papiros, a substituição deste meio pelo livro também
provocou problemas. No papiro, a leitura não tinha quebras de continuidade.
Muitos devem ter questionado o novo invento.
Lidamos hoje com a competição dos impressos
versus os meios digitais, só que o livro tem ao seu favor a confiabilidade. Além
de ser documental, a mensagem impressa fica registrada. Uma gigantesca caixa
digital de Pandora foi aberta espalhando o mal pelo mundo, com informações
falsas e adulterações. Por outro lado, a leitura nas redes está mais limitada a
títulos de manchetes e a pequenos textos, sem muito conteúdo.
LADROAGEM
De um polo ao outro, dizem os historiadores
que a ladroagem contra o povo no Brasil está na gênese. Assim fizeram os
portugueses que aqui chegando abocanharam as melhores terras. Quando D. João VI
e sua comitiva aportaram no Rio de Janeiro, fugindo de Napoleão, em 1808, foram
logo se apropriando dos imóveis de seus moradores.
As ladroagens passadas e as atuais, mais as
mordomias das três castas dos poderes deixaram os servos e súditos brasileiros
na tanga. Depenaram e ainda continuam
depenando o que resta. A corrupção não para, e todos são inocentes. Aliás, é o
país do mundo que tem mais inocentes dos crimes que cometeram.
Como se fossem príncipes regentes,
recentemente o Supremo Tribunal Federal fez uma licitação para compra de
alimentos no valor de 1,13 milhão de reais, com a exigência de champanhe brut
com quatro premiações internacionais, uísque de 18 anos, medalhões de lagosta ao
molho de manteiga e outras iguarias de luxo.
Enquanto isso, existem no Brasil cerca de 28
milhões de subocupados, sendo 13 milhões de desempregados, dez milhões
trabalhando menos horas do que necessita e mais cinco milhões de desalentados,
gente que já perdeu a esperança em conseguir um emprego. Nos hospitais,
milhares morrem nos corredores sujos por falta de atendimento médico adequado.
A educação é de péssima qualidade, e a miséria se alastra nas favelas e
periferias pobres de esgotos a céu aberto por falta de saneamento. Se ao longo
desses séculos fosse dado ao povo uma educação de qualidade e conteúdo para poder
pensar e se indignar, o Brasil seria outro e não esse paradoxo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário