“O BRASIL NÃO É TRANSGRESSOR DO MEIO AMBIENTE”
Jeremias Macário
Esta afirmativa, de deixar qualquer pessoa
esclarecida irada e se sentindo ludibriada, é da ministra da Agricultura,
rebatendo críticas dos países europeus, especialmente Alemanha e a França.
Senhora ministra, isso soa aos ouvidos como uma mentira proposital, ou que a
senhora não conhece nada da área. Não acredito em ingenuidade, e sim que a
senhora cometeu uma afronta a todos os brasileiros instruídos, chamando-os de
burros, idiotas e ignorantes. Senhora ministra, não diga isso porque é
vergonhoso, pois os europeus acompanham e sabem muito bem de tudo o que
acontece no Brasil! Não adianta tentar enganar, jogar a sujeira debaixo do
tapete e querer tapar o céu com uma peneira.
Isso é muito feio, senhora ministra! Não é
assim que se deve vender o produto Brasil lá fora, passando uma ideia
falsificada, do tipo “coisa do Paraguai”, que perdoem nossos Hermanos do outro lado.
As agressões ao meio ambiente no Brasil estão aí escancaradas para todo mundo
ver, desde da aldeia em que cada um vive até a mais distante deste país
continental. Mais decente seria fazer um mea culpa e se comprometer a adotar
medidas para conter as transgressões, visto que o governo do capitão dos
generais está fazendo o contrário. A lista das transgressões, ou o BO do meio
ambiente, é extensa e a folha corrida pode ir da terra até a lua.
Desmatamentos e outras
transgressões
Não sou nenhum especialista do setor, mas nem
precisa ser para falar, mostrar e denunciar as depredações ao meio ambiente no
Brasil, coisas ainda primitivas. Vamos começar pelos desmatamentos na Amazônia,
cujas estatísticas indicam que duplicaram no último ano pra cá, tendo como
fatores a ganância dos madeireiros, do setor do agronegócio(pecuária e
agricultura), dos mineradores, dos carvoeiros e dos grileiros de terra, só para
ficar por aí.
Senhora ministra, seu presidente quer reduzir
e não mais demarcar as áreas dos quilombolas, dos índios e até extinguir as de
preservação ambiental, e acabar com paraísos como Angra dos Reis para
transformá-la numa Cancun mexicana para os capitalistas se esbaldarem! Ele
pretende desviar o dinheiro do Fundo da Amazônia para indenizar proprietários
que invadiram terras de preservação.
O Brasil é um dos
países do mundo que mais usam agrotóxicos na agricultura, inclusive de produtos
proibidos lá fora. No seu governo (quem manda são os generais) nunca se liberou
tantas substâncias perigosas, com tanta rapidez para o uso dos produtores
rurais. E a “famosa” espuma tóxica do Rio Tietê, em São Paulo, todas as vezes
que chove? Não é transgressão ao meio ambiente?
Na Mata Atlântica, é o
segmento imobiliário que mais derruba árvores para construir prédios, viadutos
e condomínios de luxo, incluindo também as invasões nos morros, que
avançam devido a falha na fiscalização
do poder público. Desde a colonização, somente 8% de toda área ainda sobrevive.
Desenvolvimento sustentável aqui é um marketing dos empresários para destruir a
natureza e encher os bolsos de dinheiro, dando uns minguados empregos.
No Sudoeste da Bahia
No cerrado, o
agronegócio constrói barragens afetando nascentes e desviando o curso dos rios,
como aqui no nosso oeste baiano e na Chapada Diamantina no caso dos
hortigranjeiros (região de Lençóis, Andaraí e Mucugê). As transgressões estão
lá para todos verem. Basta conversar com qualquer morador do lugar. Dos 80
quilômetros de extensão do Rio Utinga, que deságua no Marimbus (pantanal da
Chapada), metade morreu em decorrência do excesso da retirada de água para
irrigação. O Rio Itapicuru também está morrendo devido a derrubada das matas
ciliares.
Em Caetité e Pindaí, no
sudoeste da Bahia, em nossa aldeia, uma mineradora vai construir uma grande
barragem de resíduos de minérios, sem prévia consulta da população que está em
pânico. Em Vitória da Conquista, a Serra do Piripiri foi toda depredada ao
longo dos anos para pavimentar a BR-116 e edificar prédios, matando as
nascentes, só sobrando um pouco do Verruga, praticamente morto no seu leito.
Deserto no Nordeste
O Nordeste, senhora ministra, está virando um
deserto de tanto extraírem madeiras para as carvoarias, sem contar as
prolongadas secas em razão do aquecimento global. O “Riacho do Navio”, cantado
há muito tempo pelo rei do baião, Luiz Gonzaga, não tem o mesmo cenário de
outrora. A letra diz: Riacho do Navio/corre pro Pajeú/o rio Pajeú vai despejar
no São Francisco/o rio São Francisco vai bater no meio do mar/lá iá,lá iá, lá
iá, lá iá, lá iá. O “Riacho do Navio” está morto e agora é o mar que invade o
São Francisco 50 quilômetros adentro.
E, por falar no “Velho
Chico”, sempre um agoniante quando batem as estiagens, cadê a revitalização tão
prometida e anunciada pelos governantes? Agora mesmo, no final de junho, estive
lá visitando e fiz uma prece para que ele não morra, mas o rio está precisando
muito mais de ações concretas do que orações. A barragens, como a do
Sobradinho, estão com suas vasões bem abaixo do normal, chegando hoje a cerca
de 500 metros por segundo. É de doer ver extensos areões onde eram ocupados por
suas águas, e somente algumas partes navegáveis, com muita dificuldade. As
barragens cometeram altas agressões ao meio ambiente, e o mar está virando
sertão.
Ficaria aqui, senhora ministra, um ano
escrevendo e pesquisando para lhe provar que o Brasil do rompimentos das
barragens de minérios, um país com alto déficit no que tange ao saneamento básico,
onde poucos municípios, dos mais de cinco mil, não têm aterro sanitário e sim
lixões, comete sim, transgressão ao meio ambiente. Não adianta esconder isso de
ninguém, quanto mais dos europeus. Por essa e outras, é que esse acordo do
Mercosul não vai sair do papel, enquanto não se resolver sair do atraso e do
primitivismo.Não é assim mentindo, senhora ministra, que se defende uma
soberania nacional!
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