A cultura
ausente da festa
Carlos Albán
González - jornalista
Caro leitor, é concebível que se promova uma festa em homenagem
ao filho mais cultuado de uma cidade e, nos discursos, com viés político, o
nome do homenageado foi omitido? Os que ocuparam o palanque e se dirigiram a
uma platéia, previamente escolhida, na inauguração do aeroporto, batizado com o
nome de Glauber Rocha (1939-1981), “emporcalharam a memória de quem difundiu a
cultura nacional”, como escreveu Henrique Cavalleiro, filho mais velho do
cineasta conquistense, falecido há 38 anos.
A revolta de Henrique foi acompanhada por suas irmãs, que se
recusaram a comparecer ao ato de inauguração. Paloma Rocha justificou a
ausência, condenando o que classificou como oportunismo político do presidente
Jair Bolsonaro “com o uso indevido do nome de meu pai, o que considero como
mais um golpe contra a cultura brasileira, hoje ameaçada pela censura”.
Avra Rocha manifestou sua recusa em vir a Vitória da
Conquista, reclamando, através das redes sociais, da “intenção política de se
utilizar o nome do meu pai num projeto onde a cultura e a dignidade humana são manchadas
por uma consciência sórdida”. Observou Avra que, nesse ano em que Glauber faria
80 anos, “faz-se necessário recordar a visão de um Brasil liberto, como ele
sempre sonhou”.
A ofensiva contra a cultura nacional externada no ato do
último dia 23 também foi comentada por outra descendente de um baiano que
engrandeceu o nome do nosso país no exterior. Paloma, filha de Jorge Amado
(1912-2001), ao fazer o lançamento da Festa Literária Internacional do
Pelourinho (Flipelô), considerou um
insulto ao povo baiano ter sido alijado da cerimônia.
Num passado recente, Jorge Amado, Glauber Rocha, Monteiro
Lobato e Paulo Coelho, foram perseguidos – presos, torturados, censurados e
exilados – por governos inimigos da cultura. Nos dias atuais já se notam no
horizonte sinais de intimidação. No caso, a supressão do Ministério da Cultura,
a filtragem a que serão submetidas obras do cinema nacional, e a provável
revogação da Lei Rouanet.
Nessa atual fase de falta de incentivo à cultura, a
literatura, observo, tem sido a mais desamparada. O escritor é obrigado a lutar
contra os preços cobrados pelas gráficas; as exigências das editoras, a
internet; a divulgação pelos meios de comunicação; a literatura portuguesa
deixou de fazer parte do currículo do ensino fundamental nas escolas públicas; e
o fechamento de livrarias.
Na verdade, o brasileiro não tem o hábito da leitura. Segundo
a Associação Internacional de Leitura, nossos conterrâneos lêem em média um
livro por ano, enquanto chilenos, uruguaios, argentinos e chilenos lêem quatro:
nos países desenvolvidos a média é de 20. Essa diferença se reflete no número
de livrarias. O setor no Brasil vive sua maior crise, com as redes Saraiva e
Cultura em processo de recuperação judicial. Nos últimos dez anos foram
fechadas 21 mil lojas no Brasil. O número de estabelecimentos em atividade é
menor do que Buenos Aires, capital da Argentina.
Conquistense por adoção, o baiano de Piritiba Jeremias
Macário, com formação universitária em jornalismo, chefiou a Sucursal de “A
Tarde”, por mais de uma década, em Vitória da Conquista. Nesse período,
enriqueceu a cultura do sudoeste baiano, divulgando, através do jornal de maior
circulação do Nordeste, as atividades culturais da região.
Seu amor à arte levou-o a criar o espaço cultural “A Estrada”,
a promover saraus literários, a editar o blog “aestrada” e a lançar quatro
livros.
Ultimamente, Jeremias vem sendo mais uma vítima da crise que
desabou sobre a cultura e do não reconhecimento de uma parcela da população
desta cidade, principalmente daqueles que se beneficiaram do jornalista que ele
foi, por mais de 30 anos.
Para conseguir levar sua última obra – “Andanças – aos leitores,
Jeremias se transformou num mascate literário, percorrendo o sertão baiano. Imita,
mais de meio século depois, o cordelista José Gomes (1907-1964), conhecido como
Cuíca de Santo Amaro. O irreverente trovador, temido pelos políticos, vendia os
seus cordéis nas ruas e ladeiras de Salvador.
Comentário
Caro
González: Gostaria de lembrar ao colega que a filha de Glauber negou-se
a participar da 'festa', antes de conhecer o teor dos discursos e ainda
foi para a mídia para insultar o presidente Bolsonaro, legitimamente
eleito e no exercício da função, para inaugurar e ou inspecionar e ou
visitar qualquer quadrante do nosso território. Quem politiza atos
culturais é a esquerda que você e Jeremias defendem. Distorcer fatos não
fica bem para quem tem total abertura para publicar os belos artigos
que nos enviam, mesmo que não concordemos com alguns deles. O
conquistense não conhece os filhos de Glauber Rocha, que recebeu uma
justa homenagem com seu nome gravado no principal equipamento construído
por aqui nos últimos anos e deviam sentir-se honrados e parar de, aí
sim, utilizar a memória do pai para em seu nome, tentar jogar para a
platéia esquerdopata. Jorge Amado foi perseguido por Getúlio Vargas,
idem Monteiro Lobato. A História é clara. Glauber Rocha transitava
bem na política e não nos consta que tenha sido perseguido, teve um auto-exílio em Cuba, apesar dos
filmes de protestos que o levaram à fama! Um abraço.
Ricardo De Benedictis
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