Em média, 6 brasileiros por hora ganham autorização para morar em Portugal
Só no ano passado foram concedidos 28 mil títulos de residência; total de
legalizados passa de 100 mil e Lisboa já é apelidada de ‘nova Miami’ dos
brasileiros; imigrantes citam segurança e economia aquecida.
Investimento em imóveis se destaca
LISBOA
- O Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) português concedeu no
ano passado 28 mil novos títulos de residências a cidadãos brasileiros,
segundo o relatório anual sobre imigração divulgado
nesta sexta-feira, 28. Com isso, o total de brasileiros residindo
legalmente em terras lusitanas ultrapassou a marca dos 100 mil. Só nos
primeiros quatro meses foram concedidas 17 mil autorizações de
residência – média aproximada de 6 por hora. A segurança pública e a economia aquecida são citadas pelos brasileiros como as principais razões para a escolha.
Entre
os novos imigrantes, muitos se mudam com dinheiro para investir em
negócios e imóveis. De acordo com a Associação de Profissionais e
Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal,
os brasileiros se tornaram os maiores investidores estrangeiros no
mercado imobiliário nas cidades de Lisboa e do Porto. No país como um
todo, ficam atrás apenas dos franceses. A imprensa local já apelidou
Lisboa de “nova Miami” dos brasileiros.
Ainda
que muitos venham com visto especial de investidores, o SEF informou
que a maioria dos brasileiros obtém a residência por contrato de
trabalho ou por reagrupamento familiar – quando um dos familiares já tem
direito a residir em Portugal.
O
grande aumento do fluxo de imigração, não exclusiva de pessoas oriundas
do Brasil, tem sobrecarregado os serviços responsáveis por conceder as
autorizações. Nesta sexta, vários postos já não tinham mais vagas para
marcar a renovação do título de residência até o fim do ano.
Para
contornar o problema, o ministro da Administração Interna, Eduardo
Cabrita, anunciou a extensão do horário de atendimento, que passa a ser
das 8h30 às 20 horas – anteriormente, se encerrava às 16 horas.
Mais fácil que os EUA
Foi
a crise econômica do Brasil que levou a empresária Daniela Cox, de 44
anos, e sua família a deixarem o País em 2018. Antes de cogitar
Portugal, a empresária pensou nos Estados Unidos.
“Mas,
com as mudanças do governo (Donald) Trump, estava complicado conseguir o
visto. Como meu marido tem nacionalidade alemã, a Europa ficou muito
mais fácil”, disse. Cidadãos europeus e seus familiares diretos têm
direito garantido à residência em Portugal.
Daniela
se mudou para a região de Lisboa em agosto com o marido e os dois
filhos, então com 5 e 13 anos, e diz que não pensa mais em sair de
Portugal. “Sinto muita saudade, mas sou mais feliz aqui. O ponto
principal é poder andar na rua em paz, me sentindo segura”, afirma.
Ela
cita que a cultura próxima da brasileira, a comida, o idioma e o clima
ameno ajudaram na adaptação de todos. “Meus filhos se dão bem na escola,
não sofreram nenhum bullying ou preconceito.”
Mas,
se a burocracia foi facilitada pela cidadania europeia, conseguir
emprego se mostrou uma tarefa ingrata. Daniela preferiu manter a empresa
aberta no Brasil e trabalha a distância. O marido de Daniela, Pipo Cox,
começou uma empresa de catering em Lisboa e tem tido muito sucesso.
“Mas a clientela é 90% brasileira”, diz a empresária.
O
consultor de sistemas de tecnologia Rodrigo Damasio de Moura, de 39
anos, nem estava procurando emprego quando foi contatado por uma
recrutadora de uma empresa de TI de Portugal. “Não me imaginava deixando
o Brasil, mas eles gostaram do meu perfil, aceitei fazer uma entrevista
e foi dando tudo certo. Em maio do ano passado, eu me mudei”, conta.
Dois
meses depois, trouxe a mulher e os dois filhos, de 14 e 3 anos. Ainda
que tenha vindo com emprego certo, a mudança foi para conquistar
qualidade de vida. “Vim para ganhar a metade do que eu ganhava no Brasil
– e nem penso em voltar. A falta de segurança no Brasil está muito
grave.”
Com
uma população envelhecida e baixas taxas de natalidade, Portugal tem
visto o número de habitantes cair nos últimos anos e precisa de
imigrantes. No último ano, mesmo contabilizando a entrada dos
estrangeiros, perdeu 14 mil habitantes, segundo o Instituto Nacional de
Estatística.
Segundo
o ministro Eduardo Cabrita, o crescimento de quase 50 mil residentes
estrangeiros “está em linha com as necessidades de manutenção do nível
de população ativa”.
Preste atenção
1. Turismo. Quem vai passear não precisa de visto ou autorização. Pode ficar até três meses.
2. Estudo. Para
estudar por mais de três meses, é preciso solicitar o visto de
estudante. Quem faz um curso com duração superior a um ano pode pedir
visto também para a família.
3. Trabalho. Quem
for para Portugal trabalhar deve pedir uma autorização de residência
por contrato de trabalho. A primeira autorização é temporária, por um
ano. Na renovação, o período é estendido a dois anos. Ao fim de cinco
anos, pode-se pedir a residência permanente.
4. Investimento. Quem
investe em imóveis ou negócios pode obter o golden visa. Valores
necessários começam em € 250 mil. Após cinco anos, é possível pedir
residência permanente.
5. Família. Cônjuges,
filhos menores e pais (em algumas condições) de quem mora legalmente em
Portugal podem pedir autorização de residência.
6. Cidadãos europeus. Pessoas
com nacionalidade europeia têm direito a morar no país. O certificado
de residência precisa ser renovado a cada cinco anos.
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