Na década de 1990, a dona Arminda era uma respeitável cabo-eleitoral no
município de Vitória da Conquista, na Bahia.
Mulher ativa e prestativa, viúva, sustentava sozinha a família, sempre alegre e
com aquela força de vontade.
Um dos seus filhos residia em São Paulo e a filha de codinome Paizinha, vivia
com ela na Bahia, onde estudava e namorava...
O filho que trabalhava na paulicéia, costumava levar na carteira fotos da
família, inclusive uma foto da irmã Paizinha, que exibia aos amigos da rua onde
morava, na Vila Maria...
Um destes amigos, o Francisco, apaixonou-se pela moça da foto e tanto insistiu
que conseguiu autorização para um contato. Daí em diante, passaram a se
corresponder através de cartas amorosas, telefonemas e muitas promessas de
viajar para a Bahia, tudo com a devida reciprocidade...
O tempo foi passando e uma bela noite, quando se preparava para descansar, a
dona Arminda foi atender a porta e deparou-se com um rapaz desconhecido carregando
uma mala...
E o dito cujo foi logo se apresentando...
- Olá minha sogra, eu sou o Francisco e estou aqui para realizar o sonho da
minha vida, casando-me com a Paizinha...
Dona Arminda levou aquele susto. Ela já havia falado ao telefone com o pretenso
namorado da Paizinha, mas não imaginava que aquele romance à distância tivesse
conseqüência...
- Oh, meu filho, vamos entrar, não repare a nossa casa desfeita, pois não
esperávamos recebê-lo, você já jantou?
- Não sogrinha, estou um pouco cansado e faminto, gostaria de tomar um banho
para esperar minha noivinha...
Arminda tratou de colocar toalha e sabonete no banheiro e enquanto o rapaz
cantava embaixo do chuveiro, foi para o fogão e fez um bife acebolado com
arroz, juntando a um pouco de feijão que sobrara do almoço... Arrumou a mesa e
serviu o futuro genro que mostrava-se muito feliz...
- Obrigado sogrinha, será que a paizinha vai demorar?
- O horário da escola é cerca das 22 horas, retrucou...
Após o jantar, ficou conversando com o Francisco que não parava de falar da sua
alegria de poder, enfim, encontrar a amada... e o tempo foi passando... Perto
da meia-noite, Arminda aconselhou o aflito Francisco a deixar o encontro para o
dia seguinte e assim foi o apaixonado Francisco dormir.
Uma hora havia se passado e eis que chega a Paizinha na garupa de uma moto... e
Arminda ainda escutou os beijos estalados que a filha trocava com o
motoqueiro...
- Olha aqui, Paizinha, seu noivo chegou de São Paulo e está dormindo... já
imaginou se ele visse esta cena?
- Que é isso mãezinha, meu colega só é amigo...
Paizinha apressou-se para dormir, o mesmo fazendo Arminda...
Mais tarde, cerca de 4 horas da madrugada, Arminda ouviu um ruído estranho
vindo do quarto da filha. Pensou que o Francisco tivesse acordado e que estivessem
em colóquio de amores... Levantou-se e foi, na ponta dos pés para
conferir. Foi aí que levou aquele susto... A filha estava contorcendo-se em
dores... Imediatamente chamou um táxi e levou-a para o Pronto Socorro do
hospital mais próximo, onde todos a conheciam...
- Oh dona Arminda, recebeu-a a enfermeira, o que a Paizinha tem?
- Não sei, minha filha, ela sente muitas dores e mal pode falar...
Imediatamente os enfermeiros plantonistas colocaram Paizinha na maca e
levaram-na para a sala de atendimento de emergência...
Arminda passou cerca de uma hora e já com o dia amanhecendo foi abordada pelo
Dr. Geraldo, seu amigo, que veio ao seu encontro com um belo menino nos
braços...
- Pronto, Arminda, agora você é vovó...
- O que doutor, não é possível, a Paizinha está com dores no estômago, deve ter
havido algum equívoco!...
- Nada disso Arminda, sua filha estava grávida e o seu neto está aqui em suas
mãos...
- Arminda ficou alguns minutos com a criança nos braços, perplexa... – Que
diabos a Paizinha me arranjou, logo agora que seu noivo veio para casar-se...
Levou a criança para o berçário, conversou com a filha traquina e foi para casa
pensando em como dar a notícia para o Francisco...
Chegou em casa, pôs a mesa com o café,o leite, cuscus, aipim cozido, pão, manteiga,
queijo, biscoitos e outras iguarias e ficou aguardando o Francisco acordar, o
que aconteceu logo depois...
- Oh minha sogrinha, onde anda a minha noivinha?
- Francisco, tenho um assunto muito sério para lhe falar, mas primeiro tome o
café...
- Mas sogrinha, por que não chama a Paizinha para me conhecer, é que estou
louco para vê-la...
- Oh, meu filho, a Paizinha teve que sair cedo e depois do café conversamos...
(Que posso dizer ao pobre do meu futuro genro?) – pensou...
Após o café, o Francisco prontificou-se a ouvir o que a sogra tinha para lhe
dizer...
- Olhe, meu filho, aconteceu algo desagradável e eu nem sei como lhe contar...
- Mas sogrinha, o que foi que houve?
- Bem, a Paizinha está no hospital, mas não é nada grave... Vamos vê-la e no
caminho eu explico tudo...
O Francisco ficou muito nervoso, mas foi consolado pela sogra..
- Não é nada para preocupar... Fique tranqüilo...
E saíram. Pegaram um ônibus e o Francisco insistindo para saber o que tinha
acontecido, mostrando-se muito aflito...
Chegando à sala de espera do hospital, Arminda contou que a filha havia parido
um belo menino e, enquanto falava, já a enfermeira trazia o recém nascido.
Ao ver o garoto envolvido nas fraldas, o Francisco exultava...
- Veja minha sogra, como o meu filhão parece comigo... O nariz, a boca, já os
olhos são da senhora, olha para o paizão, filhão... dizia para o belo menino...
e assim, quase em êxtase, invadiu a enfermaria para abraçar e beijar a noiva
que o via pela primeira vez...
Paizinha achava tudo natural e Arminda pensava...
- Que grande imbecil esse meu genro!...
Houve o casamento, com muita comemoração... O tempo foi passando e quando o
garoto completava seis meses de nascido, Arminda disse para o genro que já era
hora de procurar um trabalho em São Paulo, uma vez que naquele lugar não
haveria colocação para a sua qualificação...e aí ele desconversou...
- Olha aqui, sogrinha, eu adorei a senhora, minha esposa e a Bahia é uma terra
maravilhosa... A comida aqui tem sustança... É forte... temos de criar nosso filhão
por aqui mesmo... Em São Paulo é tudo tão poluído...
OS: Esta narrativa é adaptada de uma história que o Beto
Napoli me contou e garante que é verdadeira. Eu não conheci dona Arminda,
Paizinha e muito menos o seu maravilhoso maridão!