Enquanto pastores evangélicos apoiam Bolsonaro, cúpula católica lava as mãos
(Colaboração de Carlos Albán González para este Blog)
Estaria Jesus, nestas eleições, a favor de um candidato que prega a violência como panaceia para todos os males?
JUAN
ARIAS - correspondente de el país no brasil
-
Há momentos na história dos povos, como hoje no Brasil, onde os cristãos
não podem ser omitir quando os direitos fundamentais das pessoas, como
suas liberdades e defesa dos mais fracos, estão em perigo. No Brasil,
166 milhões de pessoas, cerca de 86% da população,
declaram-se cristãs. Nessa
parcela, 64,6% são católicas e o restante, evangélicas. Para ambos
os grupos, sua constituição religiosa são os textos da Bíblia, do Antigo
e do Novo Testamento. Ambas os grupos cristãos têm como lema a paz e a
fraternidade, bem como a defesa dos mais
humildes e esquecidos pelo poder.
As igrejas evangélicas pregam, como vi escrito até em um caminhão, que
"Cristo está voltando". Pergunto-me, no entanto, se os evangélicos e
católicos não seriam pegos de surpresa se, de fato, o inocente e
pacífico Jesus
de Nazaré, crucificado por defender os perseguidos e desprezados pelo poder, aparecesse nos dias de hoje entre eles. Estaria
Jesus, nestas eleições, a favor de um candidato que prega a violência como panaceia para todos os males,
que zomba das minorias ameaçadas pela intransigência, que ensina
crianças a usar as mãos inocentes para imitar um revólver e que, vítima
de um ataque
injusto, como são todos os atos de violência, continua, de seu leito no
hospital, fazendo gestos como se estivesse disparando uma arma?
Se Cristo voltasse, ficaria, certamente, surpreso com a notícia
publicada pelo jornal Folha
de S. Paulo, de que a Confederação dos Conselhos de Pastores do Brasil decidiu apoiar a candidatura do capitão reformado Jair
Bolsonaro, sob o pretexto de frear uma possível vitória da
esquerda. Os evangélicos, como todos os cidadãos, têm o direito de
preferir um candidato de esquerda ou de direita. Eles são, no entanto,
seguidores do profeta que morreu por defender todas as
minorias perseguidas em seu tempo e que se recusou a ser defendido por
seus discípulos com a espada. Não poderia, por isso, abençoar aqueles
que não só pregam a violência e até mesmo o extermínio dos inimigos, mas
também fazem alarde sobre isso.
E, se pode nos surpreender o fato de que as igrejas evangélicas
declarem, por meio de seus pastores, seu apoio ao candidato que fez das
armas seu estandarte sagrado, também surpreende que a Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lave as mãos e não
tenha a coragem de assumir uma posição clara sob a desculpa de que a
Igreja "não se pronuncia sobre candidatos". O cardeal Sérgio da Rocha,
que agora preside a CNBB, em uma cerimônia em Brasília no último dia 14,
havia defendido que os católicos não devem
apoiar candidatos "que promovam a violência", referindo-se a Bolsonaro.
Em seguida, os bispos divulgaram um comunicado para esclarecer que o
cardeal havia dado sua opinião pessoal, e que a CNBB "não se pronuncia
sobre candidatos". Os bispos, mais uma vez,
lavaram as mãos, um gesto que traz tristes lembranças, quando Pôncio
Pilatos, antes de condenar Jesus à morte, também lavou as mãos.
A Igreja
Católica, que carrega nas costas dois mil anos de história, já
pagou caro no passado por ter feito uso da violência contra os hereges,
nas fogueiras da Inquisição e nas guerras religiosas. Ainda surpreende
aquele ambíguo lavar de mãos do papa Pio XII diante
de Hitler e do Holocausto.
E pagou caro por seus pecados de traição à sua doutrina de paz e de
defesa das liberdades, assim como seu apoio às piores ditaduras.
Uma coisa é que, como princípio, as igrejas cristãs proclamem sua
independência em assuntos transitórios da política, e outra que, quando a
política se torna um perigo nacional, se permitam lavar as mãos ou
ficar do lado dos opressores dos fracos e daqueles
que desejam fazer da violência o centro de gravidade de um país. Para
isso, não existe perdão.
No cristianismo, a neutralidade quando a vida e os direitos das pessoas
estão em jogo é um pecado. A Bíblia é clara. No livro do Apocalipse
(3:15-16), aqueles que preferem covardemente lavar as mãos são
repreendidos: "Assim, porque és morno, e nem és frio nem
quente, vomitar-te-ei da minha boca”. O Deus cristão exige a coragem de
saber se posicionar contra os violentos, no pelotão dos indefesos
condenados ao esquecimento e principal alvo da violência.
Nenhum comentário:
Postar um comentário