SÃO JOÃO DE RAÍZES TRADICIONAIS
E TRANQUILO AINDA É EM PIRITIBA
Jeremias Macário
Valeu a pena o grande esforço para curtir
aquele São João tradicional de raízes nordestinas, tão escasso e bem sossegado,
sem confusão, ao estilo antigo de um arraial na roça. Estava em Juazeiro da
Bahia e no sábado, na véspera da festa, decidi com minha esposa Vandilza
Gonçalves viajar de ônibus do tipo pinga-pinga para Piritiba, no Piemonte da
Chapada Diamantina.
Para matar as saudades dos velhos tempos logo
cedo pegamos um ônibus de Juazeiro até Senhor do Bonfim, cerca de 130
quilômetros. De lá outro para Jacobina passando por Antônio Gonçalves,
Pindobaçu, Saúde e Caem num estrada totalmente esburacada onde o poder público
estadual não dá a mínima atenção. De Jacobina até Piritiba, atravessando Miguel
Calmon, foi outra maratona de aventura, mas chegamos no destino por volta das
16 horas.
A partir daquele momento, mesmo estafados,
tudo foi festa a começar da casa dos primos Roquinho,Leucia, Luane, Róssia e
Dilton que nos receberam com muita alegria e disposição, com comidas e bebidas
típicas do período junino, sem contar a recepção de outros amigos como o
próprio Dalmir.
À noite, todos caíram
no forró da Praça Getúlio Vargas, do “Arraiá Capim Guiné” onde sempre me lembro
dos velhos tempos de moleque jogando bola no chão de cascalho, nos primeiros
anos de emancipação da cidade, entre final dos anos 50 e início dos 60. Pena
que não encontrei como meu amigo e companheiro cantor e compositor Wilsson
Aragão que se apresentou no palco dia antes de ter chegado à cidade. Longa vida
ao nosso grande talento musical piritibano.
Com bandas tradicionais de pé de serra da
região, bem diferentes daquelas sertanejas, arrochas e axés porcarias que
cobram quantias altas do povo, a praça estava lotada com mais de 15 mil pessoas
balançando o corpo e no ritmo animado do forró. O que mais me impressionou foi
a tranquilidade de todos na festa, sem brigas, e a decoração de casas de taipa,
bonecos e expressões da vida do homem nordestino. Fiquei contagiado com aquele
clima fraternal de que tanto necessitamos nos dias atuais.
Foi mais um São João memorável, desses que
faz a gente se sentir mais otimista e crente de que nem tudo está perdido neste
país que sempre primou por destruir nosso patrimônio cultural com misturas
estrangeiradas. As noites foram tranquilas com total segurança para todos, e
durante os dias a Prefeitura Municipal manteve as programações tradicionais dos
concursos de quadrilhas e apresentações populares da terra da farinha da mandioca.
Entre as comidas típicas, licores e quentões,
não faltou o beiju feito à moda antiga das casas de farinha. No domingo à
tarde, a Praça Getúlio Vargas estava praticamente lotada para uma das atrações
esperadas que se repete todos os anos em Piritiba. Trata-se da célebre Corrida
de Jegue que diverte visitantes e participantes da atividade.
Pelo calor humano e receptividade aos
turistas de várias partes, principalmente de Feira de Santana e Salvador,
Piritiba ainda realiza um dos melhores São João da Bahia onde todos brincam sem
medo, longe da violência das grandes cidades. Na madrugada, muitos seguem a pé
para suas casas como fizemos de sábado para domingo, como se estivéssemos em
outro Brasil, longe da violência e das notícias trágicas.
Roquinho e sua esposa abriram as portas de
sua casa aos parentes e amigos num clima festivo e cativante ao ponto de quase
esquecermos de curtir as ruas festivas do São João de Piritiba que continua
deixando uma boa impressão aos visitantes. O colorido das barracas na praça, a
música junina e sua gente hospitaleira deixaram saudades e o testemunho de que
ainda existe São João autêntico no Nordeste.
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