MÃE É MÃE
NANDO DA COSTA LIMA
Meu “fio” João Pelêgoera tão dedicado ao patrão que deixava o
burro dormir arreado pra no caso do “coroné“ Eustáquio precisar de alguma
coisa. O pobre do bicho ficou uma peladura só! Fazia pena! O “coroné” em
passeio pela fazenda passou pela casa de João e quando viu o burro naquele
estado, ele que não gostava de malvadeza, ficou tão retado que mandou dois
cabras arrear João e deixar um dia amarrado ao sol. Depois disso João Pelêgo
nunca mais foi o mesmo, ele que era valentão, amofinou. É claro que o arreio
machucou o corpo, lascou o homem pra falar a verdade! Ainda mais com o peste do
neto do “coroné” montando de espora e cortando ele na taca toda hora que
passava por perto. Mas o que mais doeu é que ele tinha o patrão como um herói,
além de ser padrinho do seu filho. Não tinha necessidade daquilo só por causa
de um bicho pagão. Se o bicho dormia arreado era pro bem do “coroné”, que era
um homem doente e a qualquer momento podia precisar de socorro. É o que dá
querer ser prestativo demais! Ainda botaram o apelido de rei dos puxa-saco só
porque não levou a mulher pro hospital pra parir, Julinda foi parir andando,
também, “era só 3 léguas”. Pior era deixar o “coroné“ Eustáquio sozinho depois
de ter comido feijoada à noite. E se ele empanturrasse e passasse mal! Quem é
que ia comprar a Jurubeba Leão do Norte pra aliviar a queimação no bucho? Quem
mais sabe que João Pelêgo não é de adulação com ninguém sou eu que sou a mãe
dele. Puxa-saco! Só esse povo invejoso que acha isso. Injustiça com meu menino!.. Tão servidor que mal recuperou da insolação e já doou
um rim pra filha do “coroné”, até se comprometeu de no caso do netinho de seu
Eustáquio sofrer do mesmo mal da mãe que pudesse tirar o outro. O próprio “dotô”
que fez o transplante distratou o pobre do João sem nem conhecer a gente, falou
pras enfermeiras que nunca tinha visto um filho da puta tão puxa saco, sobrou
até pra mim que sou uma viúva séria. Enquanto meu finado marido era vivo eu só
dei pro “coroné” uma vez, assim mesmo foi por engano, ele falou que tava com
vontade de comer uma coisa diferente, quando notei que ele queria era um
ensopado de leitoa ou uma buchada de bode eu já tinha tirado a “caçola”. Uiuiui,
não gosto nem de lembrar, o “coroné” errou o alvo! Ai minha Santa Getrudes...
até hoje, quando vejo uma garrafa de Jurubeba, eu fico toda arrepiada. Fiquei
um mês sem poder montar a cavalo. Mas não vai ser eu quem vai explicar isso pra
esse povo fuxiquento, já basta a perseguição que eles têm com o meu filho. Se
isso cai na boca deles, meu Deus do céu...
Nenhum comentário:
Postar um comentário