A DEMOCRACIA E A LIBERDADE SÓ SE AS FORÇAS ARMADAS
QUISEREM.
DEMOCRACIA NÃO É FAVOR DOS MILITARES AOS CIVIS
JEREMIAS MACÁRIO
Não existem equívocos
nem dúvidas nas palavras destrambelhadas e autoritárias do capitão. Sem essa de
que não foi bem assim e tentar disfarçar com outras interpretações fajutas de
que não foi isso que quis dizer. Faz parte da estratégia inocular aos poucos e
em doses homeopáticas a pílula dourada do medo, ou amarela, de uma doutrina de ufanismo
nacionalista retrógradofascista. Existe um esquema silencioso e lento de
repressão. Está difícil explicar e traduzir.
Existe uma plataforma obscurantista
com o sonho de amordaçar e perfilar a sociedade brasileira nas fileiras
militares de uma ordem e disciplina ao modelo deles, colocando a democracia e a
liberdade na comissão de frente para impressionar os incautos. Sempre tenho dito
que só estamos no começo introdutório da peça e vem muito mais coisa por aí.
Há cinco ou seis anos ninguém acreditava que
a marcha da extrema-direita iniciada com as intransigências e intolerâncias dos
evangélicos e seus aliados conservadores chegaria ao poder. Agora ninguém teme
que a liberdade de expressão esteja sendo minada porque temos as instituições
do judiciário, do legislativo e da própria mídia mimada para defendê-la.
Em pouco mais de dois meses do governo do
capitão, comandado pelos nove ou dez generais, só ouvimos impropérios e
estupidez dele, de seus filhos aloprados, de ministros e políticos que seguem a
cartilha de levar o Brasil ao primitivismo. Ainda não saíram do palanque do
ódio e do rancor contra as esquerdas e Lula que está preso em Curitiba. São
apelações para a falta de argumentos, e olha que a oposição continua opaca e
muda.
A LIBERDADE E AS FORÇAS
ARMADAS
Nesta semana brotou mais um vitupério da boca
do capitão de que a democracia e a liberdade só existem quando as forças
armadas assim desejem e queiram. Não existem subterfúgios para uma declaração
desse quilate. Quer dizer, então, que se de uma hora para outra os militares
decidirem não mais querer a liberdade, ela será imolada, passando por cima das
fracas e desacreditadas instituições. Na concepção deles, ditadura só existe de
esquerda. De direita é ordem e disciplina.
Não dá para ficar engolindo explicações enganosas
de contemporização onde cada um
interpreta ao seu modo. O recado foi bem claro e não há espaço para enrolação
de que não foi bem assim. Continuam nos tratando de burros e idiotas, se bem
que poucos tenham percebido isso. Nesse vai e vem de réplicas e troca de definições
da fala do capitão, o mais afrontoso foi que a sociedade brasileira ficou de
fora como guardiã e conquistadora da democracia e da liberdade.
É como se ela, a população, não contasse e, passivamente,
aceita o que vem do alto. Os políticos ofendidos (outros das fileiras
bolsonaristas concordaram), por exemplo, só citaram o judiciário e o
legislativo que estão atentos para lutarem pela liberdade. Logo esses poderes de
imagem arranhada que perderam a credibilidade. Como sempre, o povo ficou de fora,
como se tudo já estivesse dominado.
Não se enganem que os generais, por mais
moderados que sejam, vieram de uma Escola Superior de Guerra com estratagemas
planejadas, cujos maiores instrutores sempre foram o oficialato dos Estados
Unidos. A forma de oprimir não é a mesma do golpe civil-militar de 1964, que
eles mesmos negam ter existido.
A intervenção agora está sendo feita de
maneira branca com o aval do voto popular e com o consentimento de uma maioria
desavisada que acha que tudo isso de opressão é coisa maluca das esquerdas.
Infelizmente, poucos conhecem nossa história e, por isso, ela é fácil de ser
repetida, de acordo com cada tempo e em cada situação política, econômica e
social.
Vamos recapitular o que vem acontecendo nestes
poucos mais de dois meses de novo governo, sem reação firme dos intelectuais,
estudantes, artistas, professores e da parte mais instruída da sociedade, a não
ser manifestações de ódio pelas redes sociais. Existe um silêncio sepulcral da
oposição. A impressão é que estamos sendo dopados lentamente por uma droga
inofensiva considerada de besteiras sem importância.
Comecemos pelo menino veste azul e menina
veste rosa. Aluno tem que estudar onde moram os pais. Cantar o hino nacional
perfilados. Até ai nada a opor, mas sem o perfilado. Ler uma carta do MEC com
os dizeres do slogan do capitão “Brasil acima de tudo. Deus acima de todos”, e
ordenar que os diretores filmem os estudantes. Eles querem uma escola que não
pense, e não uma escola sem partido. A troca de farpas entre um filho do
capitão e um ministro, chamando-o de mentiroso. O outro filho que tripudiou da
morte do neto de sete anos de Lula. A “ajuda humanitária” aos venezuelanos a
mando do Trump para instigar mais revoltas. O capitão de Belo Horizonte que
disse que não ia tolerar críticas políticas no carnaval. O vídeo obsceno de um
homem nu no carnaval, divulgado na rede pelo capitão-presidente foi demais!
Escandalizou!
O mesmo que bate
continência para a bandeira norte-americana, elogia a ditadura daqui e a do
Alfredo Stroessner do Paraguai, incensa a democracia, para disfarçar os
desavisados. É demais a cara de pau demagógica de que as duas únicas mulheres
do seu governo valem por 20 homens!Por último, a democracia e a liberdade sobre
o cabresto das forças armas, e muito mais monstros do medo rondam nossos lares.
Quanto ao slogan
“Brasil acima de tudo”, trata-se de plágio de um mote nazista dos anos de 1930,
“Alemanha acima de tudo”. É também o verso de uma canção nacionalista do século
XIX. São passados míticos de segunda mão, próprios de regimes disciplinadores e
opressivos. O “Deus acima de todos” prega um Onipotente autocrático do Velho
Testamento. E se o Brasil está acima de tudo, como poderia Ele estar acima do
Brasil? Deus não está nesta disputa.
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