O Rei do Bode
Nando da
Costa Lima
Da Choça até o
Furado da Roseira, não tinha um criador que tivesse mais bode que Elpídio. Era
o rei do bode, o solteirão mais cobiçado da caatinga! Elpidão arrasava, além de
só andar bem vestido, tinha uma vistinha de ouro na dentadura, que acabava de
matar a mulherada de paixão. Muitos tentavam imitá-lo, mas não chegavam nem aos
pés, só ele com aquele palito no canto da boca e o dente de ouro à vista
conseguia botar as meninas pra suspirar. Ter um caso com aquele “pão” (na época
“pão” era o gato de hoje, e gato era sinônimo de ladrão) era o sonho da
mulherada. Até mulher casada perdia as estribeiras quando ele passava no Corcel
cor de abóbora com a jante roxa e luz interna de boate além dos pneus faixa
branca e a frase escrita no para-choque traseiro: “100% macho”. O rei do bode tinha bom gosto, só comia filé a finas
ervas acompanhadas do melhor vinho composto do mundo. E era um violeiro
razoável, fazia questão de falar que aprendeu a tocar na beira do rio Gavião.
Seu fraco eram as meninas de “Sompaulo”, tinham tudo com ele. Levava logo pro
restaurante dormitório de Nilson. E a rotina de Elpídio era a mesma, quando não
estava contando os bodes ou namorando, tava diante do espelho admirando a “lindreza”
e falando pra mãe que se fosse mais novo ia tentar ser modelo em Conquista,
modelo macho, daqueles que só faz propaganda de cigarro e bebidas fortes!
Mas nem tudo é
pra sempre, principalmente beleza! O Rei do Bode de um dia pra outro começou a
amarelar e perder peso. Os entendidos foram em cima: deve ser próstata. Desse
dia em diante a vida dele virou um inferno. Já tinha batido em meia dúzia! Era
só ouvir falar em toque retal que o homem endoidava. Médico ele não queria nem
ver a cara, pra ele Dr. que forma pra ficar futucando o rabo dos outros só pode
ser um degenerado! Já tinha falado pra família que no dele só ele pegava. Já
imaginou, ele, o maior namorador do trecho, deitar a bunda pra cima pra um
“dotozim” qualquer cutucar! Pudessem esquecer... A família não desistia, todo
dia levava um amigo que já tinha feito o exame de toque, explicaram que não
precisava ficar de bunda pra cima, chegaram até a levar Dr. Walmick que foi
colocado pra fora assim que Elpídio conferiu o tamanho dos dedos do Dr! Aqui
não! No meu nem o Papa mete o dedo! A família já estava pra desistir, foi aí
que Bilau teve uma ideia brilhante: vamos encher o sacana de pinga que aí ele
nem nota a dedada. E não deu outra, estava tão bêbado que quase dormiu na sala
de exame, voltou pra casa que nem viu. Só fizeram jogar na cama.O médico
explicou que ele não tinha nada na próstata, era só uma “virose”.
No outro dia cedo Elpídio pulou da cama e gritou pra mãe –
Hoje eu faço o tal do exame sem beber nada, liga pro doutor -. A velha explicou
pacientemente tudo que ocorreu, que o exame já tinha sido feito. Mas Elpídio
insistiu, liga pro doutor! Ligar pra quê meu filho? – Fala pra ele que o Rei do
Bode tá perguntando quanto ele cobra por um tratamento intensivo em casa, não
precisa falar pra ninguém que se trata de um retoque, é só entre nós dois! A
mãe de Elpídio quase desmaia de desgosto, balançou a cabeça com ar de
reprovação e resmungou pra comadre – Bem que o povo fala que filho de
cachaceiro não pode beber nem água em copo de vidro! O pai desse menino nunca
me enganou, quando não tava pescando tava caçando onça com João Rasga Fronha. Também um doutor com a mão daquele tamanho deveria
procurar outro ramo da medicina. Pra mim esses “dotô” que mexe com o cú alheio
tinha que ser mais “franzino”, não podia pesar mais de 50 kg! Mas como toda mãe
de solteirão, acabou cedendo, e olhando
de cara feia pro filho pegou o telefone e não se fez de rogada: “Dr., aqui é a mãe da Rainha do Bode...”
Nenhum comentário:
Postar um comentário