AS CURIOSIDADES DO MUNDO GREGO –
FILOSOFIAS E SABEDORIAS (Parte IX)
JEREMIAS MACÁRIO
Por volta de 350 a.C. os ricos em Atenas se
tornaram tão antissociais que preferiam lançar seus bens ao mar a reparti-los
com os pobres. Tinham mais ódio à riqueza alheia do que compaixão pela miséria
pessoal. Aristóteles conta que existia um clube aristocrático que tinha como
juramento agir contra a coletividade. Muitos se rebelaram contra as desordens,
as sonegações, a corrupção e os abusos. Cada um procurava defender seus
interesses, como no nosso país de hoje.
EPAMINONDAS – Atenas,
Tebas e Esparta ainda se mantinham em condições de salvar uma Grécia
desordenada e ensanguentada por volta de 400 a.C. As riquezas, segundo
Aristóteles,se concentravam na classe patronal, que as guerras haviam reduzido
a um pequeno número. Esparta continuava prepotente e prevaricadora.
Com um corpo de 12 mil mercenários
espartanos, sob o comando do ateniense Xenofante, o rei persa Ciro foi
derrotado e morto em Cunassa. O episódio encheu de orgulho a Grécia e convenceu
Agesilau, rei de Esparta,de que a Pérsia era um grande império, mas de barro.
Atenas
e Tebas se uniram aos persas de Artaxerxes. Em Cnido, o almirante ateniense
Cônon destruiu a frota espartana em 394 a.C. Agesilau mandou oferecer todas as
cidades gregas da Ásia em troca da neutralidade. Em 387 houve a paz de Sardes.
Chipre e toda Ásia grega passaram a ser persas.
Esparta continuou sendo a maior potência, mas
sendo vista como traidora e impôs governos oligárquicos na própria Beócia. Com
isso, o jovem Pelópidas tramou uma conspiração e junto a outros assassinaram os
ministros espartanos e reorganizaram a Confederação da Beócia. Pelópidas
proclamou a guerra santa, decretou mobilização geral e confiou o comando do
exército a Epaminondas, um dos personagens mais complexos da antiguidade.
Mesmo homossexual (na
Grécia não era sinônimo de efeminação), Epaminondas, de família aristocrática,
era sisudo e quieto desde menino. Por incrível que pareça, não gostava de
guerra. Quando lhe ofereceram o comando respondeu: Pensem bem. Se fizerem de
mim seu general, eu farei de vocês os meus soldados e, como tais, terão uma
vida muito dura.
Epaminondas dispunha de
seis mil homens contra dez mil de Esparta. Com sua tática, colocou um grupo de
trezentos jovens homossexuais em dupla que juraram fidelidade até a morte.
Esparta foi derrotada. O general convenceu-se que poderia dar a Tebas o
primado. Entrou no Peloponeso, libertou Messene e fundou Megápolis.
Ódios e ciúmes
impediram a unificação da Grécia. Atenas saudou a vitória contra Esparta, mas
via com maus olhos o crescimento de Tebas, Chegou a coligar-se com o inimigo
para derrubar Epaminondas. Deu-se a batalha de Mantinéia em 362 a.C. e venceu
outra vez, mas foi morto por Grilo, filho de Xenofante. Com ele, morreram os
sonhos da hegemonia de Tebas.
A DECADÊNCIA DA “POLIS”–
Atenas voltou a sonhar com a supremacia e voltou a construir os antigos muros,
se cuidando para não cair nos mesmos erros depois de Péricles, mas não teve
jeito. Criou nova Confederação com colônias submetidas a ela, adotando mesmos
métodos. Muitas cidades se rebelaram e veio a segunda Confederação em 355, em
meio a revoltas e repressões.
O vocabulário de Atenas, como cita o autor do
livro História dos Gregos, Indro Montanelli, foi acrescido de três palavras:
Pleonexia (mania de supérfluo), Chrematistike (febre de ouro) e Neoplutoi
(nossos tubarões). Platão dizia que havia duas Atenas, a dos pobres e a dos
ricos em luta.
Isócrates acrescentou que os ricos tornaram
tão antissociais que preferiam lançar seus bens ao mar a reparti-los com os
pobres. Estes têm mais ódio à riqueza alheia do que compaixão pela miséria
pessoal. Aristóteles conta que existia um clube aristocrático que tinha como
juramento agir contra a coletividade.
Era a legalização da
desordem e dos abusos. As sonegações e a corrupção eram regras correntes. Todos
procuravam gozar a vida e nada mais. Segundo Teopompo, já não havia mais uma
família estável e o desregramento não se limitava às classes altas. Para
encontrar uma pessoade boa espécie, seria preciso procurá-la no cemitério –
dizia Isócrates.
Na polis todos eram
soberanos e súditos. Todos eram deputados de si mesmos. Todos iam ao parlamento
defender seus interesses. Cada um, conforme o sorteio, competia presidir a uma
pritania, uma secção do Conselho de Estado. O agnosticismo político era
considerado um crime e uma imoralidade. O estado-maior não era de carreira. Os
generais eram improvisados. Recebiam o cargo de acordo com a posição política.
Cada qual era seu
próprio comandante, seu próprio súdito, legislador, soldado, médico, sacerdote
e filósofo. Xenofante, ex-aluno de Sócrates, se tornou um areté, isto é, um
homem completo, capaz de discorrer sobre tudo, mas sem profissão definida.
Ao profissional
permitia-se o desenvolvimento da sua profissão. Assim fez Alcibíades que se
colocou a serviço de Esparta e depois da Pérsia, só que foi condenado como
traidor. Xenofante não pensou em traição, mas em Atenas, como um homem de
ofício ia aonde o ofício o chamasse. Sua obrigação era a competência.
Os chamados “técnicos”
não queriam saber de uma polis de limites estreitos, e foram eles que formaram
a palavra Cosmópolis, um mundo não mais limitado por muros e cortado por
autarquias nacionais. Muitos gregos começaram a pensar em termos de Grécia, e
não mais de Atenas, Tebas ou Esparta.
Platão e Aristóteles
disseram que uma polis só é bem governada quando os cidadãos são tão poucos que
todos se conhecem entre si. Isso já não acontecia nas polis gregas. O congresso
impunha uma divisão mais complexa, bem mais especializada do trabalho. A
cidade-estado já não se ajustava às novas necessidades da sociedade.
DIONÍSIO DE SIRACUSA –
No quarto século antes de Cristo, Siracusa, a mais importante colônia grega,
continuou a se desenvolver ainda que em meio a turbulências, entre períodos
democráticos e totalitários.
Dionísio foi o tirano
mais desapiedado e mais iluminado. De sua fortaleza de Ortígia dominou a cidade
com métodos stalinistas e critérios socialistas. Na distribuição de terras, não
fazia distinção entre cidadãos e escravos. Quando os cofres do Estado estavam
vazios, anunciava que o deus Deméter lhe aparecera em sonhos, pedindo a todas
as mulheres que depositassem suas joias no templo. Todas obedeceram e que
transgrediu a ordem, a polícia aparecia para dissuadi-las.
Para expulsar os
cartagineses da ilha, mandou requisitar todos os mecânicos gregos. Os que
recusassem, mandava raptá-los. A invenção da catapulta deixou-o exultante.
Julgou que, com tal arma nas mãos, ninguém mais poderia resistir-lhe. Mesmo com
guerras de trinta anos, os gregos continuaram donos da Sicília oriental e os cartagineses
da ocidental.
Quando o filósofo pitagórico Fíncias, por ele
condenado à morte, lhe pediu um dia de licença para ir à casa fora da cidade
resolver um assunto pessoal, Dionísio consentiu. Vendo que Fíncias voltou a
tempo, poupou-o da condenação.
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