O quê vai ser do esporte em 2019?
Carlos Albán González
Qual
será o tratamento que Jair Bolsonaro vai dar ao esporte no seu governo?
Esta é a pergunta que vem sendo feita pela comunidade esportiva do
país. Em seus pronunciamentos o capitão da reserva tem deixado claro que
pretende fazer um enxugamento na máquina administrativa, reduzindo os
ministérios, de 29 para 15.
Como
estava previsto, o Esporte, juntamente com a Cultura e o
Desenvolvimento Social, foi incorporado ao Ministério da Cidade. O
mistério e a espera ansiosa de atletas e dirigentes esportivos cessaram
ontem com a indicação de Osmar Terra, ex-ministro de Michel Temer e
ex-deputado pelo MDB, para assumir a pasta.
No
seu primeiro contato com a imprensa revelou que recebeu de Bolsonaro
apenas orientações sobre os programas sociais do governo. Confessou, sem
acanhamento, desconhecimento sobre suas atribuições a partir do próximo
ano, chegando, inclusive, a trocar os nomes dos atuais titulares da
Cultura e Esporte.
Diante
da insistência dos jornalistas esportivos, Osmar Terra prometeu ampliar
o Programa Forças no Esporte (Profesp), administrado pelas Forças
Armadas. Atualmente são beneficiados 23.500 crianças e adolescentes, de 6
a 18 anos, em situação de vulnerabilidade social, em 97 localidades do
país, incluindo Salvador e Feira de Santana. Os alunos recebem material
esportivo e alimentação e são orientados por professores de Educação
Física.
Colocar o Brasil entre os
dez países com grande potencial nos esportes olímpicos foi a pretensão dos
governos do PT. Os programas direcionados pelo Planalto para formar atletas de
alto rendimento e os volumosos recursos – quase 50 bilhões de reais investidos
pelos governos federal e fluminense e pela iniciativa privada -, destinados à
realização da XXXI Olimpíada, em 2016, no Rio de Janeiro, resultaram apenas num
13º lugar, com 19 medalhas (sete de ouro, seis de prata e seis de bronze).
Terminados os Jogos do Rio,
dirigentes e atletas passaram a conviver com a incerteza em relação aos futuros
eventos internacionais, especialmente a Olimpíada de Tóquio, em 2020.
Nesta década, o esporte
brasileiro foi manchado por escândalos financeiros, com repercussão
internacional. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não escondia o orgulho de
trazer para o país, num período de dois anos, os dois maiores espetáculos
esportivos do planeta: a Copa do Mundo e a Olimpíada. Conseguiu, mas com o
sacrifício do povo, que vai pagar a conta dessas farras por muito tempo.
Além do enorme rombo nas
contas da nação e do Estado fluminense, a Copa e os Jogos deixaram um doloroso
legado, que ainda não foi devidamente apurado pela Operação Lava-Jato. Há
evidentes sinais de superfaturamento na construção e reforma de 12 estádios,
quatro a mais do exigido pela FIFA. Alguns deles foram transformados em
“elefantes brancos”. Delegados africanos foram corrompidos na eleição do Rio
para sede dos Jogos de 2014.
As diretorias do COB (seu
ex-presidente, Carlos Arthur Nuzman, ficou detido por poucos dias) e da CBF
foram afastadas pelo COI e FIFA, respectivamente. Várias confederações tiveram repasses
de verbas suspensas. Seus dirigentes são acusados de malversação do dinheiro
público.
A única prisão e condenação
foram feitas pela Justiça norte-americana: o presidente da CBF, José Maria
Marin, além de pagar multa de US$ 4,55 (aproximadamente R$ 16 milhões), passará
os próximos quatro anos numa prisão americana.
O ministro do Esporte, desde
abril, Leandro Cruz, revela que as
verbas orçamentárias de sua pasta vêm encolhendo desde 2015, e a
tendência é de uma maior redução se o ministério for transformado numa
secretaria do MEC. “A capacidade de interlocução é diferente. Um (o ministro)
se dirige ao presidente da República e aos colegas; o outro (o secretário) aos
servidores do segundo escalão”, diz.
Bolsas
O Ministério do Esporte tem
como atribuição acompanhar o cumprimento de duas importantes leis, consideradas
como base de sustentação de atletas e entidades (clubes, confederações e
federações). A Lei de Incentivo ao Esporte (Lei 11.438/2006) permite que
pessoas físicas e jurídicas destinem, de 1% a 6%, em projetos esportivos, parte
do que pagariam de Imposto de Renda.
O outro pilar financeiro da
pasta é a Lei 10.264, sancionada em 16 de julho de 2001, conhecida como Lei
Agnelo Piva. Fonte permanente de recursos, a legislação determina que 2% da
arrecadação bruta das loterias em operação no Brasil, descontadas as
premiações, sejam repassados para os Comitês Olímpico e Paralímpico, para a
Confederação Brasileira de Clubes (CBD), além dos desportos escolar e
universitário. No ano olímpico de 2016 as entidades beneficiadas receberam R$
220 milhões.
O ministério tem também como
função administrar os programas Bolsa Atleta e Bolsa Pódio, cuja manutenção esteve
ameaçada logo depois dos Jogos Olímpicos do Rio, em virtude da redução dos
recursos governamentais e a fuga de patrocinadores. Contudo, a Portaria nº 250,
de 9 de agosto último, assinada pelo ministro Leandro Cruz, contempla com a
Bolsa Pódio (Lei 12.29/2011) 127 atletas olímpicos e paralímpicos, inseridos
entre os 20 melhores do mundo em suas modalidades de competição, e candidatos
em potencial à conquista de medalhas em
torneios internacionais. As ajudas mensais por um ano variam entre R$ 5 mil e
R$ 15 mil por mês. Atletas do judô têm sido os maiores beneficiados.
Já o Bolsa Atleta atende a
um universo maior de esportistas, compreendendo os de base, paralímpicos,
estudantis e olímpicos. No ano passado chegou a inscrever 5.830 atletas, com
maior predominância de competidores do atletismo, da natação, do handebol e do
tiro. Aqueles que são amparados pelo programa recebem de R$ 370 a R$ 1.300
mensais durante um ano.
Forças Armadas
Entre os 19 brasileiros que
conquistaram medalhas nos Jogos de 2016,
13 eram militares, inscritos no Programa Atletas de Alto Rendimento (PAAR),
mantido desde 2008 pelo Ministério da Defesa, em parceria com o Ministério do
Esporte. Esse bom desempenho tem sido usado pelos que defendem a continuidade
do programa, visando os Jogos Mundiais Militares de 2019 na China – em 2011, no
Rio, o Brasil ficou em 1º lugar, e, em 2015, na Coreia do Sul, foi superado somente pela Rússia – e a
Olimpíada de 2020, no Japão.
O PAAR contempla hoje 627
alistados nas Forças Armadas entre soldados e terceiros-sargentos, atletas de
27 modalidades olímpicas, fazendo jus aos mesmos direitos dos militares da ativa. Na condição de
temporários (oito anos de permanência na caserna), eles têm permissão de
conseguir outros meios de ajuda.
Se, por um lado, o programa
do Ministério da Defesa vem sendo bem administrado e colhendo bons resultados,
por outro lado tem sido muito discutida, inclusive por uma comissão especial no
Congresso, a continuidade da ajuda das estatais (Banco do Brasil, Caixa
Econômica, Furnas, Petrobras, Correios, BNDES, Eletrobrás, Infraero e Furnas).
A recessão econômica e o baixo
rendimento do país em alguns esportes, como basquete, natação e tênis, aliados
aos comprovados atos de corrupção de dirigentes que se perpetuam nas presidências
das entidades esportivas, têm levado as estatais a reduzir ou suspender esses
auxílios. A prudência manda que se aguarde uma manifestação do governo que toma
posse no primeiro dia de 2019.
Muito se questiona sobre o
patrocínio que a Caixa vem dando desde 2012 a 24 clubes profissionais, das
séries A (de R$ 25 milhões a R$ 6 milhões) e B (de R$ 4 milhões a R$ 1,5
milhão) do Campeonato Brasileiro. A verba para este ano foi de R$ 153 milhões,
que, convenhamos, seria melhor aplicada em obras de caráter social.
A Caixa refuta, afirmando
que, “nosso patrocínio é refletido no bom desempenho dos clubes, além de
representar a inclusão da cultura brasileira, usando o futebol como elemento de
integração sócio-econômica”. Sobre a ajuda ao Esporte Clube Bahia, que recebeu
R$ 6 milhões, mesmo valor dado ao Vitória, o banco assim se manifesta: “É com
orgulho que patrocinamos o primeiro campeão do Brasil e o dono da melhor
torcida do país. Dá-lhe, Bahêa!”
Times dos presidentes
Natural de Glicério, município situado a 443 kms. da capital paulista,
com 4.500 habitantes, Bolsonaro é descendente de italianos, primeiros
colonizadores que chegaram à região. Esse seria o motivo de sua admiração pelo
antigo Palestra Itália, hoje Palmeiras. No domingo passado, o futuro ocupante
da Presidência cogitou em ir assistir seu time ganhar o Campeonato Brasileiro,
no estádio do Vasco, em São Januário. A ideia foi descartada pelos responsáveis
por sua segurança.
Antigos companheiros de Lula garantem que ele era vascaíno, mas, como
planejava fazer carreira política em São Paulo, virou corinthiano. Já
presidente, conseguiu que a FIFA vetasse o moderno Morumbi (estádio do São
Paulo) para abertura do Mundial de 2014, ao mesmo tempo em que pediu a
Odebrecht que construísse o Itaquerão, que hoje representa para o Corinthians
uma dívida superior a R$ 1 bilhão.
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