Bahia de todas as cores, classes, crenças e gêneros
Pioneiro em ações afirmativas, clube mais popular do Nordeste reverencia ídolos negros, incentiva mulheres na torcida, combate intolerância religiosa e adere à causa LGBT
El País - España - edição em português
Personalidades negras recebem camisas do Bahia na Fonte Nova. DIVULGAÇÃO
São Paulo 21 NOV 2018 - 20:17 BRST
Uma mascote negra. Homenagens a Marielle Franco e Moa do Katendê, assassinados por motivações políticas. Criação do “Bolsa Ídolo”, que ampara ex-jogadores em dificuldades financeiras. Ronda Maria da Penha no estádio da Fonte Nova para proteger as mulheres. Solidariedade a Claudia Leitte após a cantora, torcedora tricolor, sofrer assédio machista do apresentador Silvio Santos.
Ao inovar com seu Núcleo de Ações Afirmativas, o Esporte Clube Bahia
pretende não apenas promover transformações sociais por meio do futebol,
mas se consolidar como o time mais democrático e inclusivo do Brasil.
O time de várzea que joga pela resistência da população de rua
Com menos de um mês de existência, o Núcleo de Ações Afirmativas lançou sua campanha inaugural no Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa,
destacando religiões de matriz africana e a história do sincretismo
religioso na Bahia. Desde então, não parou mais de fazer barulho no
estádio e nas redes sociais. Uma das ações de maior repercussão foi a Não há Impedimento, em combate à discriminação de gênero. Rendeu ao clube o troféu Honra ao Mérito da Diversidade Cultural LGBT, concedido pelo Grupo Gay da Bahia (GGB), mas também protestos homofóbicos de alguns torcedores e
deboches dos rivais. Porém, nada que abalasse a convicção tricolor de
romper o tabu ao enfrentar preconceitos. “A maioria das reações foi
positiva”, conta o presidente. “Nossa torcida tem entendido a mensagem
de tolerância e respeito às diferenças que o Bahia quer passar.”
Outra bandeira permanente é a Mulheres no Futebol,
que incentiva a participação feminina no clube e nas arquibancadas. Em
março, mais de 1200 torcedoras – a maioria negra – responderam um
questionário que revelou que 43% delas nunca foram sozinhas à Fonte Nova e 38% têm receio de frequentar o estádio por medo de serem assediadas, discriminadas ou agredidas em
brigas de torcida. Com base nas principais queixas, o Bahia desenvolve
ações práticas para aumentar a frequência de mulheres, como a parceria
com a Polícia Militar que levou a Ronda Maria da Penha – composta por
muitas oficiais do sexo feminino – para atender exclusivamente às torcedoras na Fonte Nova. Segundo a diretoria, o apoio ao desabafo de Claudia Leitte contra
Silvio Santos na semana passada é coerente com a postura do clube em
defesa da mulher. “As campanhas de responsabilidade social do Bahia são
muito importantes, porque ajudam a agregar mais torcedoras”, afirma
Júlia Fraga, integrante da torcida Tricoloucas.
As
mulheres também foram lembradas na série de três ações do Novembro
Negro que exalta heróis e personalidades negras. Na primeira, jogadores
entraram em campo estampando em suas camisas nomes históricos como
Dandara, Luiza Bairros, Mãe Menininha do Gantois, Zumbi dos Palmares e
Moa do Katendê. Na segunda, os homenageados foram artistas, integrantes
do movimento negro e ativistas, entre eles o cantor Gilberto Gil, o repentista Bule-Bule, o antropólogo Kabengele Munanga,
a ialorixá Mãe Jaciara e a influenciadora Tia Má. “Fizemos questão de
homenagear inclusive torcedores do Vitória, para provar que a luta
contra o racismo está acima de qualquer rivalidade”, diz Bellintani. A
última ação do mês será nesta quinta-feira, antes do jogo contra o
Fluminense, quando 23 ex-jogadores negros que defenderam o clube, como
Cláudio Adão, Dadá Maravilha, João Marcelo, Fabão e o camaronês William
Andem, serão prestigiados.
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