ATRÁS DO CHICLETE
Nando da Costa Lima
Esses dias encontrei com Massinha e ele me perguntou qual o meu estilo
literário, se era conto, crônica ou “causo”. Pois bem, não é nenhum desses. Eu
escrevo romance “comprimido”, estilo genuinamente conquistense. É mole?
Até parece
que foi ontem...
Deusinete e Averaldo, um
casal simples que tinha muito em comum, adoravam o carnaval e tinham verdadeira
paixão pelo Chiclete com Banana. Essa paixão pelo Chiclete era tão exagerada
que eles faziam qualquer negócio pra estarem presentes em qualquer
apresentação da banda. Quando souberam que "Béu" estaria em Conquista
animando a micareta só faltaram endoidar, daquela vez eles iriam poder
realizar um velho sonho em comum, é que tanto ela como ele pagavam caro para
serem filmados pela TV, trocando um beijo apaixonado atrás do Chiclete com
Banana, essa ideia era quase uma obsessão. Dessa vez eles estavam perto de
casa, tinha tudo pra dar certo. Antes de começar a festa eles já sabiam todos
os locais onde estavam localizadas as câmaras de televisão, só não entraram pro
Massicas porque a grana tava curta. O jeito era seguir o Chiclete de fora das
cordas, mas não tinha erro! Dentro ou fora das cordas a televisão não ia deixar
passar nada.
No primeiro dia de
micareta eles estavam inquietos e mesmo sabendo que o Chiclete só ia sair à
tarde foram cedo pra Praça do Gil, quando deu meio dia já estavam travados de
conhaque. Deusinete tava tão bêbada que tentou agarrar Sabino (o dono do Bar)
pensando que era "Béu" do "Chicrete", aí o pau quebrou, e o
soco no olho que Averaldo acertou no amor impediu que eles tentassem realizar o
sonho do beijo atrás do trio logo no início da festa. No segundo dia ofereceram
uma garrafa de guaraná cheia de "cheirinho da Loló" pra Averaldo, ele
pensou que era coisa pra beber e tomou toda de vez. Só não morreu porque Dr.
Cabral tava por perto e fez uma respiração boca a boca, demorou mais de meia
hora pra ressuscitar o homem, o Dr. ficou com o "beiço" roxo e
Averaldo mesmo depois de recuperado do desmaio ainda saiu trocando as pernas.
O terceiro dia foi terrível, tiveram que chegar cedo pra conseguir um banco
vazio na pracinha, pegaram um que ficava de frente pra câmara, com o estômago
naquele estado a coisa ia ficar bem mais difícil. Mesmo assim eles estavam
dispostos a tentar, só não tentaram porque Deusinete achou de comer um acarajé
e não se sabe como ela conseguiu cair daquele jeito em cima do tabuleiro de
Carmem, a coisa só não foi mais séria porque o dendê ainda não estava no ponto,
ela caiu sentada em cima do tacho, foi preciso a ajuda de dois policiais para
desentalar Deusinete do tacho, ficou com a bunda parecendo cara de gringo
quando toma muito sol. E mais uma vez voltaram pra casa sem realizar o
planejado.
E veio o quarto e último dia, ela
com o olho roxo e a bunda que era uma bolha só e ele com o estômago pra sair
pela boca, mesmo assim ainda tinham esperança. . . O azar foi que quando
estavam treinando o beijo num trio que vinha na frente do Chiclete, Averaldo
deu bobeira e deixou o pé na frente; o trio não só passou por cima como ainda
deu uma paradinha pra tocar umas cinco músicas enquanto ele berrava de dor e o
pessoal que estava em volta fazia o mesmo pensando que era alguma dança
inventada em Salvador. Quando o trio resolveu sair de cima de seu pé não deu
nem tempo dele cair pra trás de dor, foi aparado por um policial e quase ia
preso por dançar a Timbalada com muita violência. Só depois de muita explicação
é que foi levado pro hospital em lugar da cadeia. E assim o casal passou a
micareta Alto Astral, não chegaram nem a ver o Chiclete de perto... Antes não tivessem
vindo.
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