DISTOPIA, BARBÁRIE E RESISTÊNCIA NAS
INSTALAÇÕES DE EDMILSON SANTANA
Jeremias Macário
A instalação de quatro exposições de nível
nacional e internacional do escultor conquistense, Edmilson Santana, no Museu
Pedagógico Padre Palmeira, expressou e resumiu tudo do que foi discutido no
XIII Colóquio Nacional e VI Colóquio Internacional, realizado nas dependências
da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia-Uesb, na semana passada, com o
tema principal “Distopia, Barbárie e Contraofensivas no Mundo Contemporâneo”.
Seu trabalho, que deve ficar pouco tempo no
local (uma pena), que faz uma forte crítica sobre a educação no Brasil
“Ducação” como está lá exposto e também nos dizeres “Fexado pra Balansso”, e
cadeiras escolares quebradas, amarradas por cordas no teto, mostram como o
ensino está sendo “pisoteado e machucado” por anos de governantes relapsos, corruptos,
inconsequentes e incompetentes. Ao visitar, deixe, livremente, seu recado no
grande mural da liberdade.
UM “SOCO” EM NOSSA
SOCIEDADE
A mostra causa um impacto
logo na entrada e tem uma sinergia muito forte. É um “soco” bem dado em nossa
sociedade que só visa o consumismo, como bem desabafou o artista. Pela sua
ousadia e criatividade, merece ser visitada, principalmente, por jovens
estudantes, professores, artistas, intelectuais e por todo cidadão, pela sua
mensagem política e social de distopia, barbárie e contraofensivas.
Edmilson tocou no âmago
sensível da educação, que homenageia ainda os educadores Anísio Teixeira e
Paulo Freire, mas também apresentou as distorções e anormalidades da nossa
contemporaneidade, como a mídia das Fake News, especialmente nas redes sociais,
entupidas de raivas e intolerâncias. Mostra o passado das máquinas de
datilografia. O visitante ainda tem o privilégio de ouvir e refletir a narração
de uma mensagem poética e crítica, gravada no texto do artista-compositor
Arnaldo Antunes.
O escultor, com sua peculiar sensibilidade
artística, escancarou as feridas abertas da ditadura através das fotos imortais
do fotógrafo Evandro Teixeira, que se fez presente aos colóquios e ao Museu,
quando falou da sua trajetória de coberturas jornalísticas no Brasil (Jornal do
Brasil), no Chile, na morte do poeta Pablo Neruda, e em várias partes do mundo,
retratando povos excluídos, sem uma pátria própria, como os curdos, zapatas e
palestinos.
CONTRAOFENSIVAS
As imagens de Edmilson, que nasceu em
Itapetinga, mas veio para Vitória da Conquista ainda criança nos braços da sua
mãe, dizem tudo e valem a pena serem visitadas, porque estamos ficando inerte e
precisamos nos indignar e reagir contra as barbáries e os retrocessos, como as
ditaduras e as tiranias que roubam de nós a liberdade de expressão e a democracia.
Muitos povos, inclusive da América Latina, já estão fazendo suas contraofensivas,
não aceitando a ultraconservadora fascista que quer impor a barbárie social,
como está figurada nas instalações de Edmilson Santana.
Ainda dentro do tema dos colóquios, a montagem
do escultor Santana apresenta em sua arte uma exposição de contraofensivas da
humanidade contra a estupidez. Destaca a realização da 3ª Internacional
Comunista que está completando 100 anos, onde os trabalhadores do mundo foram
convocados para se unir em oposição ao capitalismo explorador e ganancioso dos
patrões.
Seu trabalho mostra também a reação dos
estudantes e dos brasileiros contra o regime ditatorial na célebre “Marcha dos
100 MIL”,em 1968, fotografada por Evandro Teixeira, com quem tive uma rápida
conversa em visita à minha casa. Suas fotos hoje têm o reconhecimento nacional
e internacional, e Edmilson soube bem captar a mensagem através das botas
militares de extensos cadarços, complementando as imagens do que foi aquele
regime opressor de mais de 20 anos em nosso país.
OS COLÓQUIOS
Sua mostra retratou justamente a forma de
resistência na história dos povos, que também passam pela utopia (o sonho de
suas realizações), a distopia (as anormalidades dos órgãos), e a resistência encorajadora
para alcançar os objetivos pretendidos,na base da luta, como bem explicou o professor
Cláudio Felix, organizador dos colóquios, realizados na Uesb e no Museu Padre
Palmeira, que debateram Educação em Tempos de Barbárie e Distopias –um olhar
para o suicídio, drogas e gêneros.
Esse capítulo e os colóquios tiveram mesas redondas,
conferências e temáticas sobre religião, repressão e resistência na formação
social e política no Brasil; educação pública brasileira; as evidências da
ditadura militar; o debate atual sobre a desconstrução e construção das
identidades do gênero e feminismo; história, trabalho, educação e cultura
camponesa – modos de luta pela terra; democracia, violência e
anti-intelectualíssimo; infância e educação infantil; preto de cabelo feio:
vivenciando o racismo; diálogos conexos - linguagem, arte e cultura como resistência
à barbárie contemporânea, dentre outras discussões, captadas e interpretadas nas
instalações impactantes do escultor Edmilson Santana.
Nenhum comentário:
Postar um comentário