Nando da Costa Lima
Uma nave resplandecente, que do céu incandescente desceu na terra ainda bruta, para evitar uma luta que seria desigual. Os brancos vinham armados, e também bem motivados: sabiam que a terra era boa. Lutariam até a morte com os donos do lugar. João estava decidido, fez até uma promessa, prometeu a Nossa Senhora que assim que lá chegasse ergueria uma igreja em sua homenagem. Todos da caravana fizeram questão de jurar junto com o chefe que daquela terra eles não iam abrir mão. Muitos olheiros tinham ido na região e só voltaram com boas notícias, falavam que era divisa da caatinga com a mata, no inverno era só descer a serra pra aquecer os rebanhos e os homens… No alto da serra tinham várias nascentes de águas cristalinas e a vista se perdia no horizonte. João sabia que era o lugar certo pra criar raízes, e assim fez o nosso fundador. Fez daqui a Vila da Vitória. Só que a história escrita diz que houve vários conflitos com os índios, que mantinham uma dura resistência. Para eles era um paraíso, no inverno desciam pra caatinga. Quem mais sabia o quanto a terra valia eram eles. E as coisas foram resolvidas violentamente, era o único jeito… Dizem que os canos dos clavinotes derretiam de tanto atirar em índios. Não podemos julgar as atitudes dos homens sem termos vivido sua época! Uns falam que foi genocídio, outros acham que não. Pra se ter uma ideia formada é necessário que se aprofunde na história real, não em achismos.
A história de Benevides Cantador era totalmente diferente de tudo que se escreveu ou se contou sobre Vitória da Conquista; Segundo ele, não tinha um índio quando João chegou no Planalto, só ficaram os acampamentos e as marcas da rodeira do disco voador…
— E disco voador tem rodeira?
— É claro que tem! Quando tá em terra, ele usa rodeiras. Entendeu, Dermeval? Você é metido a inteligente só porque é jornalista em São Paulo. Se for pra interromper eu vou deixar essa história de lado e você que se arrume com as mentiras dos livros de História.
Dermeval pediu desculpa, era ele quem mais tava interessado no caso. Era mais uma história que ele poderia publicar num jornal de “Sampa. Benevides aceitou a desculpa, virou outra cachaça e perguntou pro dono da venda:
— Em que parte da história eu estava mesmo?
O rapaz lembrou que ele tinha parado na hora que o disco voador desceu do céu e abriu as rodeiras. Benevides Cantador apertou a gravata e continuou!
— Tem que ter “ciênça” pra entender. Um alienígena saiu do discão, desceu uma escada rolante de mais de quinhentos metros e falou na língua dos índios: “Pataxós pra esquerda, Camacãs pra direita e Imborés na parte de cima do disco”.
Segundo essa versão da história, os índios no início ficaram assustados, mas quando o capitão do disco voador falou na língua deles que tava vindo uma porção de homens brancos pra tomar a terra, aí não teve jeito. Os próprios chefes de cada tribo mandaram todos subirem na nave. O capitão alienígena falou que os deixaria num lugar seguro, e assim o fez. Deixou os pataxós e os camacãs no sul da Bahia, e levou os imborés pra morar com eles em outra galáxia (Segundo Benevides, os imborés tinham parentesco com os alienígenas). Tanto é que você vai pra Porto Seguro e só vê pataxó.
— Quem fala que viu imboré tá mentindo, assim como é mentiroso quem falar que por aqui houve genocídio — Continuou Benevides — Eu, Benevides Cantador, parente dos fundadores, garanto que aqui não morreu um índio. Foram todos abduzidos antes da tragédia graças aos viajantes de outros mundos.
Segundo o Cantador, no local onde fica o Cristo de Mário Cravo era o local onde o “discão” parou e estendeu uma escada rolante até o Simão. E pensando bem, sabe-se tão pouco dessa época que é melhor acreditar que foi assim… As coisas ficam mais leves, até o ar fica mais puro, e as pessoas passam a olhar a terra com mais amor! Faz bem pensar bem.
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