Torcedores unidos pedem democracia
Carlos González
Jair Bolsonaro
conseguiu, no final de semana, o que até então era considerado como
improvável: unir os torcedores arquirrivais do São Paulo, Corinthians,
Palmeiras e Santos, que até já cometeram assassinatos
entre si, num movimento em favor da democracia. O ato realizado na
Avenida Paulista tende a se expandir por outras partes do país. No
domingo, em Salvador, integrantes da principal organizada do Vitória,
“Os Imbatíveis”, ensaiaram um protesto nas ruas da Mouraria;
aficionados do Flamengo se defrontaram com bolsonaristas na Praia de
Copacabana; a Praça da Bandeira, em Belo Horizonte, foi o local de
encontro entre atleticanos e cruzeirenses.
A mobilização de
torcedores coincide com o aceno do presidente da República ao clube mais
popular do Brasil, em mais uma investida para acabar com o isolamento
social, aconselhado pela OMS e pelos mais renomados
cientistas e pesquisadores do mundo, e decretado por governadores e
prefeitos, como o método mais eficaz para impedir a expansão do novo
coronavírus. Os 30 mil brasileiros que não desapareceram nos porões da
ditadura militar (1964-1985) vão morrer vítimas
da pandemia.
Sem uma consulta prévia
à chamada nação rubro-negra, principalmente ao Departamento Médico do
clube, o presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, fez rapidamente as
malas e rumou para Brasília, levando na bagagem
seu colega do Vasco da Gama, Alexandre Campello. Com a adesão do
governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha,
Bolsonaro ofereceu aos clubes cariocas,
para treinos e jogos, o Estádio Mané Garrincha. O Flamengo vem
realizando há semanas treinos presenciais, descumprindo decreto do
prefeito Marcelo Crivella.
Pressionada pelos seus
dois principais filiados , a Federação Carioca, com o apoio dos clubes
do interior do estado, decidiu marcar o reinício do campeonato para 14
de junho. Fluminense e Botafogo se posicionaram
contra, sob o argumento de que o retorno dos jogos este mês colocaria
em risco funcionários, comissão técnica, atletas e seus familiares, no
momento em que o Rio registra cerca de 70 mortes diárias de infectados
pelo vírus. Ao mesmo tempo, o governador fluminense,
Wilson Witzel, assinava decreto, prorrogando as medidas preventivas e
de enfrentamento ao Covid 19.
Prefeitos têm feito
apelos – alguns até instituíram a cobrança de multas – para que seus
munícipes fiquem em casa. Ocorre que, o brasileiro, ou não acredita na
existência da pandemia, que já faz do seu país o
segundo do mundo em número de mortes, ou é dotado de uma demasiada
insensibilidade, que se revela desprovido de conhecimentos, cultura e
recursos financeiros.
Essa indiferença, que
impede que a taxa de isolamento social nas cidades chegue a 70%,
facilita a propagação do vírus, levando o sistema de saúde a um colapso.
No entanto, estamos assistindo, com perplexidade,
a reabertura do comércio em municípios do interior do país, onde a
fiscalização do poder público está ausente. Estudos constataram que
pequenas cidades do Nordeste elevaram os índices de contaminação a
partir da chegada de ônibus clandestinos,
procedentes de São Paulo. Em Vitória da Conquista esse índice não chegou aos 40%.
Pressionado,
Herzem Gusmão
avalizou a reabertura do comércio. Resistiu até quando pôde, mas teve
que se dobrar àqueles que “choram de barriga cheia” e que põem a vida
humana em segundo plano. Buzinaços interromperam
seu descanso; lojista acusado de financiar a indústria de fake news
resgatou o verde do movimento integralista (fascista), usando seus
empregados em manifestações de protesto; pastores evangélicos,
preocupados com a perda da fonte de renda dos seus templos,
pleitearam o acesso dos fieis aos cultos; o vereador David Salomão
impediu a interdição de uma barbearia, dirigindo ofensas ao prefeito. O
ato de Herzem acendeu o sinal vermelho no Comitê Científico do
Consórcio Nordeste, criado para auxiliar os governadores da região no enfrentamento à Covid 19.
Voltando ao futebol,
treinos e jogos na Bahia estão proibidos, pelo menos, até o dia 21 deste
mês, por decisão do governo do Estado. Federação e clubes não têm
intenção de se insurgir contra o decreto governamental.
A Arena Fonte Nova, assim como o Maracanã e Pacaembu, foi transformada
num hospital de campanha para receber os infectados pelo coronavírus.
Logo após a suspensão do campeonato,
em
17 de março, o Vitória da Conquista dispensou todos os integrantes do
Departamento de Futebol, incluindo os atletas, minorando uma crise
financeira,
que vem afetando grandes clubes brasileiros e europeus. Impediu também o
surgimento de casos – no Vasco foram 75, sendo 16 jogadores - de
infectados pelo Covid 19. O clube conquistense e os outros 67
participantes do Brasileiro deste ano da série D receberam
da CBF uma ajuda de R$ 120 mil, e a promessa de transporte, hospedagem e
alimentação durante a disputa do torneio, que ainda não tem data
marcada. O presidente Ederlane Amorim agradeceu o auxílio, revelando que
pensou em abrir mão da vaga, mas foi avisado
de que o clube poderia ser punido pela CBF.
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