MAIS UMA E LOGO VEM OUTRA.
Jeremias Macário
As tragédias no Brasil começam com
condolências, consternações e sentimentos dos irresponsáveis e sempre terminam
sem a punição dos culpados. Aliás, no caso de Brumadinho, em Minas Gerais, o
culpado foi a barragem que não se conteve e resolveu se arrebentar, sem mais, nem
menos. No caso do Ninho do Urubu do Flamengo, no Rio de Janeiro, foi o danado
do ar condicionado que não aguentou a pressão da carga e provocou um
curto-circuito.
Estão ai as respostas,
e nem são mais necessários os rosários intermináveis de explicações técnicas de
engenheiros, fiscais, ambientalistas e outros phds entendidos no assunto, com
as defesas, do outro lado, nas versões dos armengueiros que burlam as leis
porque no país das impunidades, as instituições são falhas no dever das rígidas
fiscalizações. Na base do jeitinho brasileiro onde multas são para não serem
pagas, o capital fala mais alto que o humano.
Nem bem terminaram as extensas e
espetaculosas coberturas jornalísticas da mídia, recheadas de imagens e
entrevistas repetidas por várias vezes, com choros e lágrimas no vale de lamas
que soterraram centenas de pessoas, ai vem outra tragédia do Flamengo para
roubar a cena, que dizimou uma dezena de jovens adolescentes que sonhavam pela
fama de brilhar nos campos de futebol.
O presidente do clube aparece com a cara de
consternado e nada fala sobre a irregularidade cometida de abrigar os meninos
num barracão provisório de containers, totalmente irregular, que não tinha nem
alvará da Prefeitura Municipal, a qual disse ter aplicado 30 multas contra o
Flamengo. Nesta hora, o torcedor não aparece para criticar, protestar e se revoltar
como faz quando o time tem resultados negativos.
Todos se calam e engolem o choro, inclusive
pais e parentes porque acham que foi
apenas uma fatalidade. Neste fato específico da tragédia, não me refiro apenas
ao Flamengo, mas também aos outros grandes times do Brasil que acumulam um
monte de irregularidades, não somente em suas instalações físicas dos seus
centros, mas também no âmbito financeiro,deixando de pagar INSS, IPTU, FGTS e
outras obrigações de taxas e impostos por lei.
Agora mesmo, acabamos de saber que o Vasco e
o Fluminense não possuem alvarás dos seus centros de treinamento. Pode
investigar que a grande maioria dos clubes não funciona corretamente como
devia. As instituições que fazem vistas grosas são também culpadas, mas desta
vez foi o ar condicionado o vilão. Na próxima tragédia anunciada pode ser outro
objeto, outro aparelho ou a própria natureza.
O nosso futebol é uma bagunça e uma vergonha no
campo e através das cartolagens corruptas de viciados em desrespeitar e
descumprir as leis. Os clubes comportam-se como se não fossem empresas
jurídicas, como qualquer uma que tem obrigações e seguir normas de
responsabilidade, A CBF e as federações são complôs suspeitos de grupos
vitalícios que vivem a fazer seus conchavos para se perpetuarem no poder.
Não vou mais aqui repetir a enfadonha lista
de tragédias do nosso país, nas quais o homem é o predador inconsequente e
irresponsável, mesmo quando o fenômeno parte da natureza, como a tormenta nesta
semana no Rio de Janeiro. No caso da Barragem do Feijão, em Brumadinho, existe
uma insensatez secular.
A princípio, como entender
a construção de instalações administrativas, inclusive um refeitório, abaixo de
uma barragem de minério? Além de barramentos feitos com métodos antigos e
inseguros, com custos mais baixos, deixam povoados próximos, na mesma direção.
Se houvesse seriedade neste país, não deveria haver habitações abaixo e, se já existissem,
a empresa deveria ser obrigada a desapropriá-las antes de montar a barragem.
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