Peculiaridades do “Lomantão”
Carlos González - jornalista
Para que amanhã não venham dizer que o jornalista só sabe
criticar, quero inicialmente dar nota dez ao sistema de drenagem do Estádio
Lomanto Júnior, elogiado em rede nacional pela TV Globo. Domingo passado, após
o dilúvio, a água cobria toda a extensão do campo. Vinte minutos depois da
paralisação das chuvas, a bola corria sem anormalidade. Aproveito para
parabenizar os brigadistas (bombeiros voluntários), incansáveis na ajuda
prestada aos torcedores, que não escondiam o temor de uma tragédia. Mais uma!
O prefeito Herzem Gusmão aproveitou o comentário do
apresentador Tadeu Schmidt para elogiar sua administração, que ele chama de “histórica”.
Percorreu, como faz todas as semanas, as rádios da cidade, prometendo pedir recursos
ao governo federal para recuperar os estragos
causados pela tromba d’água. Em desobediência ao 2º Mandamento, o nome
do Senhor foi pronunciado várias vezes.
A natureza fez da praça de esportes de Vitória da Conquista
um verdadeiro cartão-postal de uma cidade desprovida de atrações turísticas. O
verde da floresta, onde predominam os eucaliptos, no entorno do estádio, leva o
torcedor, nos jogos diurnos, a esquecer que está sentado no cimento duro e
quente das arquibancadas. Lamentavelmente, nos últimos anos, dezenas de árvores
foram derrubadas na área atrás da chamada – um contrassenso – “Tribuna da
Imprensa”.
É justamente por essa “tribuna” que inicio os comentários
sobre as peculiaridades do “Lomanto
Júnior”. O local se constitui de sete ou oito cabines, ocupadas pelas emissoras
de rádio e televisão de Conquista e de Salvador, e de um sanitário para todos
os gêneros. Os legítimos profissionais
de imprensa, sem desmerecer os colegas de outros veículos de comunicação, são
os que escrevem para jornais, revistas e blogs. Esses são obrigados a colocar seus
note books sobre as pernas, sentados na desconfortável arquibancada, no meio da
torcida.
O ECPP Vitória da Conquista disputou a Copa do Brasil entre
os anos de 2015 e 2018, contra, respectivamente, Palmeiras, Náutico, Coritiba e
Boa Esporte. Naquelas oportunidades ouvi muitas reclamações e críticas de
companheiros de jornais de São Paulo, Pernambuco, Paraná e Minas Gerais, que
aqui estiveram para a cobertura dos jogos. Levei as queixas deles ao
coordenador de Esportes (não lembro o nome; provavelmente já foi substituído)
da Secretaria Municipal de Cultura. Nenhuma medida prática foi tomada para atender
aos profissionais que vão aos estádios para trabalhar e não para se divertir.
Na ocasião, sugeri ao assessor da prefeitura que fossem
reservadas cinco ou seis cadeiras, com bancadas, no setor coberto, abaixo das
cabines de rádio e TV. Qual não foi minha surpresa ao saber que o local é
reservado para os sócios do ECPP Vitória da Conquista. Mas o estádio é
municipal; é do povo, argumentei. Por que o privilégio?
Radialista, ex-comentarista esportivo, Herzem Gusmão deve
conhecer perfeitamente o trabalho cansativo dos profissionais de mídia nos complexos
esportivos. São os primeiros a chegar e os últimos a sair.
Depois de três vistorias da Federação Bahiana de Futebol
(FBF), o “Lomanto Júnior” foi liberado como uma das sedes do campeonato
estadual de 2019. Evidente que alguns “absurdos” não constam do manual de
inspeção da FBF. Menciono alguns: jogadores reservas e comissão técnica ficam
de frente para o sol, absorvendo vitamina D, utilizada no fortalecimento do
sistema ósseo. Por falta de uma central de som, o Hino Nacional é transmitido
dos alto-falantes de uma camioneta preta, com aparência de um carro mortuário.
Como os sanitários masculinos estão distribuídos no alto de uma colina muitos
marmanjos, principalmente deficientes físicos e idosos, sentem cansaço na
subida, optando por “regar” os pés de eucaliptos. O comércio de comidas e
bebidas poderia ser melhor ordenado, com a instalação de quiosques.
A Prefeitura conquistense vai ter praticamente nove meses
para fazer as obras que o “Lomantão” necessita. Se o ECPP Vitória da Conquista
não se classificar entre os quatro semifinalistas do campeonato – hoje é o
quinto colocado -, o seu último jogo diante da torcida alviverde será no dia 10
de março, contra o Juazeirense. As outras duas partidas serão fora, frente ao
Fluminense, em Feira de Santana, e Jacobina.
Financeiramente, o ano que se inicia não está trazendo
vantagens para o ECPP Vitória da Conquista, na iminência de tomar o mesmo
caminho de centenas de clubes, médios e pequenos, em todo o país, obrigados
pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) a mandar embora seus jogadores, a
partir de março, engrossando a lista de desempregados, após os campeonatos
estaduais.
Um fenômeno natural que desabou sobre a cidade, no último
domingo, à tarde, levou na enxurrada a
previsão de uma boa arrecadação, o que sempre acontece com a presença do Bahia.
Dos 10.725 ingressos colocados à venda foram adquiridos 6.771, proporcionando
uma renda de R$ 77.155,00, sendo apurados pelo ECPP Vitória da Conquista a soma
de R$ 45.823,70. Nas duas partidas anteriores em casa, contra Atlético de
Alagoinhas e Jequié, passaram pelas bilheterias do “Lomantão” apenas 3.018 pagantes, que deixaram R$
45.401,00. O clube mandante arrecadou R$ 18.671,11.
Prejuízos também tiveram alguns pequenos comerciantes:
mercadoria e equipamentos de trabalho rolaram na cachoeira que se formou na arquibancada
central do estádio. A torcida organizada Criptoniata perdeu os instrumentos
musicais e dezenas de rolos de papel higiênico, que seriam lançados na entrada
do time em campo.
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