AS CARTAS DA INDEPENDÊNCIA
Professor Luiz Américo Lisboa Júnior
Em
7 de setembro de 1822 D. Pedro receberia em São Paulo cartas de D.
Leopoldina, então regente e de Jose Bonifácio relatando a radicalização
das Cortes de Lisboa que propunham a volta do Brasil a condição de
colônia. Ordenam seu imediato retorno a Lisboa, não mais aceitariam as
suas ordens como príncipe regente e prenderiam todas as autoridades
brasileiras que ousassem desobedecer tais deliberações. A tensão
política chegava ao limite. É nesse clima
que ele recebe as
cartas e ao lê-las, não vacila, compreende que a situação é
irreversível, e então o príncipe português mas brasileiro de coração,
proclama a nossa independência. O Brasil foi o único país em que um
português, uma austríaca e um brasileiro reunidos num mesmo ideal o
tornaram livre. Lendo essas cartas 200 anos depois não há como
dimensionar o sentimento patriótico desses personagens da nossa
história. A veemência contida nas palavras de Bonifácio e de Leopoldina e
a atitude firme de D. Pedro compreendendo os seus significados mudariam
para sempre a história brasileira. Leiam e se emocionem, pois, esse é o
sentimento que elas até hoje nos proporcionam. Independência ou morte
foi a resposta dada aos apelos.
CARTA DE LEOPOLDINA (REGENTE DO REINO)
Rio de Janeiro 2 de setembro de 1822
Pedro
o Brasil está como um vulcão. Até no Paço há revolucionários. Até
oficiais das tropas são revolucionários. As cortes portuguesas ordenaram
vossa partida imediata, ameaçam-vos e humilham-vos. O Conselho de
Estado aconselhava-vos para ficar. Meu coração de mulher e de esposa
prevê desgraças se partirmos agora para Lisboa. Sabemos bem o que tem
sofrido nosso país. O rei e a rainha de Portugal não são mais reis, não
governam mais, são governados pelo despotismo das Cortes que perseguem e
humilham os soberanos a quem devem respeito. Chamberlain lhe contará
tudo o que sucede em Lisboa. O Brasil será em vossas mãos um grande
país. O país que vos quer para seu monarca. Com o vosso apoio ou sem o
vosso apoio ele fará a sua separação. O pomo está maduro, colhei-o senão
apodrece. Ainda é tempo de ouvirdes o conselho de um sábio que conheceu
todas as cortes da Europa, que, além de vosso ministro fiel, é o maior
de vossos amigos. Ouvi o conselho do vosso ministro se não quiserdes
ouvir o de vossa amiga. Pedro, o momento é o mais importante de vossa
vida. Já dissestes aqui o que ireis fazer em São Paulo, fazei, pois.
Tereis o apoio do Brasil inteiro e, contra a vontade do povo brasileiro,
os soldados portugueses que aqui estão nada podem fazer. Leopoldina.
CARTA DE JOSE BONIFACIO (PRESIDENTE DO CONSELHO DE MINISTROS).
Senhor,
as Cortes ordenaram minha prisão, por minha obediência a Vossa Alteza.
E, no seu ódio imenso de perseguição, atingiram também aquele que se
preza em o servir com a lealdade a dedicação do mais fiel amigo e
súdito. O momento não comporta mais delongas ou condescendências.
A
revolução já está preparada para o dia de sua partida. Se parte, temos a
revolução do Brasil contra Portugal, e Portugal, atualmente, não tem
recursos para subjugar um levante, que é preparado ocultamente, para não
dizer quase visivelmente. Se fica, tem, Vossa Alteza, contra si, o povo
de Portugal, a vingança das Cortes, que direi?! Até a deserdação, que
dizem já estar combinada. Ministro fiel que arrisquei tudo por minha
Pátria e pelo meu Príncipe, servo obedientíssimo do Senhor Dom João VI,
que as Cortes têm na mais detestável coação, eu, como Ministro,
aconselho a Vossa Alteza que fique e faça do Brasil um reino feliz,
separado de Portugal, que é hoje escravo das Cortes despóticas. Senhor,
ninguém mais do que sua esposa deseja sua felicidade e ela lhe diz em
carta, que com esta será entregue, que Vossa Alteza deve ficar e fazer a
felicidade do povo brasileiro, que o deseja como seu soberano, sem
ligações e obediências às despóticas Cortes portuguesas, que querem a
escravidão do Brasil e a humilhação do seu adorado Príncipe Regente.
Fique, é o que todos pedem ao Magnânimo Príncipe, que é Vossa Alteza,
para orgulho e felicidade do Brasil. E, se não ficar, correrão rios de
sangue, nesta grande e nobre terra, tão querida do seu Real Pai, que já
não governa em Portugal, pela opressão das Cortes; nesta terra que tanto
estima Vossa Alteza e a quem tanto Vossa Alteza estima. José Bonifácio
de Andrada e Silva.
Ricardo De BenedictisCaro
professor Luiz Américo Lisboa Júnior. Nada mais verdadeiro que os
fatos. Enquanto historiadores de araque procuram desonrar a memória
histórica, estas cartas dizem a realidade da época e justificam o gesto
do nosso D. Pedro I.
Parabéns
amigo e Vivas ao Brasil nos 200 anos da sua Independência.
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