RODA VIVA EM FOCO
Ricardo De Benedictis
Assisto com certa frequência o
programa de entrevistas da TV Cultura de São Paulo, o RODA VIVA, há alguns
anos.
Desta feita, o entrevistado foi
Fernando Gabeira, ex-terrorista, ex-deputado federal, atual jornalista,
repórter, comentarista, documentarista, um homem inteligente, e de cuja maneira
de abordar os fatos nos deixa à vontade para pensar nas nossas idas e voltas
pelo mundo nem sempre claro do pensamento socialista.
O programa foi dirigido por Vera
Magalhães e contou com participação dos jornalistas Dora Kramer, Luiz Carlos
Azedo, Ancelmo Gois, Carla Vilhena e Vera Iaconelli.
Logo de início os entrevistadores
levaram Gabeira às cordas com perguntas longas tratando de assuntos, cujas
respostas demandariam muito tempo e foram rechaçados com o jeito Gabeira de
ser. Ele evitou o tempo todo de entrar no ataque frontal a Bolsonaro, que era a
intenção inicial dos entrevistadores e passou a responder com muita calma e
parcimônia as perguntas sobre corrupção nos governos que o antecederam e no
atual. Nisso Gabeira referiu-se às ‘rachadinhas da família Bolsonaro’ e ao fato
do presidente ‘ter influenciado seus filhos a ingressarem na vida pública’.
Também em relação à lavajato, foi sincero ao afirmar que achou errado no final,
quando os procuradores tentaram criar uma Fundação com parte do dinheiro que,
segundo ele, deveria seguir para o Tesouro Nacional, saqueado pelo PT e seus
puxadinhos, nos governos Lula e Dilma. Mas reconheceu normal a aproximação extra-processual
entre juízes e procuradores, quando os fatos demandam ações de alta incidência
criminal e que necessitam interação para seu sucesso. Por outro lado,
mostrou-se avesso às conversas da ‘vazajato’ sem, entretanto, emitir opiniões
mais aprofundadas.
Ancelmo Gois pareceu-nos adoentado,
com a fisionomia abatida e participou menos do programa. Dora Kramer,
inicialmente agressiva, recuou em seus ataques, Vera Iaconelli agressiva, não
teve muito sucesso em seus arroubos contra Bolsonaro e Carla Vilhena, idem.
Quanto a Luiz Carlos, mostrou-se respeitoso e conversou com Gabeira numa
espécie de papo informal. Vez por outra a Vera interrompia Gabeira e em algumas
oportunidades chegou a irritá-lo, quando cortava suas frases e seu raciocínio.
Gabeira reiterou que a esquerda não é
a mesma e que Lula parece pensar como em 2003, mas que o mundo mudou muito e
certos conceitos devem ser revistos. Disse ainda que provavelmente a Direita
volte mais à frente, fenômeno que vem se dando em boa parte do Planeta.
Perguntado sobre a questão das
gerações vindouras, Gabeira disse o que é óbvio para uns, mas nem tanto para
outros, ‘nós somos movidos muito mais pelas perguntas e a cada tempo temos
menos respostas’ em síntese, foi o que depreendemos da sua fala.
Por fim, achamos bom o programa, mas
a falta de um viés que trouxesse o desastre causado pelos governos petistas às
estatais, parecia tabu. Não se tocava. Gabeira ainda fez uma crítica leve a
Alexandre de Moraes e ao inquérito criado por Toffoli do qual ele é relator, ‘e
tudo ficou como dantes no Quartel de Abrantes’.