Desistência de Doria nada muda na eleição presidencial, mas provoca hecatombe no PSDB
- João DoriaEmpresário, jornalista, publicitário e político brasileiro, 37.º Governador de São Paulo
João Doria está a um passo de anunciar a desistência de sua candidatura a presidente.
Se confirmada, a decisão terá o mesmo efeito da batida de uma asa de borboleta nos ventos de uma disputa até aqui duopolizada entre Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas com potencial de levar um furacão para dentro do PSDB.
O governador paulista deve ter aprendido alguma coisa em seus tempos de gestor privado. Uma delas é compreender quando a curva dos investimentos pode levar o negócio à falência. Traço em qualquer pesquisa de intenção de voto, ele sabe que está condenado ao ostracismo nos próximos quatro anos se seguir seu plano A.
Sabe também, a essa altura, que melhor faria se ficasse onde está. Ou melhor, se tentasse permanecer onde está até 2026.
A decisão, porém, envolve o dilema típico "se correr o bicho pega, se ficar o bicho come". Doria preparou nos últimos meses o vice-governador Rodrigo Garcia para ser seu sucessor no Palácio dos Bandeirantes. A filiação do aliado ao PSDB era parte desse plano A.
Agora, a sete meses da eleição, o governador pode provocar uma hecatombe se disser que, veja bem, o candidato a governador será ele, o próprio governador. Este é o plano B. Garcia vai aceitar?
Os primeiros indícios apontam para uma rebelião. O vice-governador acaba de entregar seu cargo na Secretaria estadual de Governo e seus aliados falam até em impeachment de João Doria.
Ainda que Garcia topasse ir ao sacrifício a essa altura, o recuo de Doria já terá servido como uma imensa pá de cal sobre os planos nacionais do PSDB.
A legenda, afinal, apostou as fichas em uma prévia entre dois quadros relativamente novos, Doria e Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul, justamente para sinalizar união e fortalecimento.
Na prática, o processo só azedou a relação entre Leite, Doria e os tucanos que jamais aceitaram o ex-apresentador de TV em seus quadros. O ex-governador de Minas Gerais Aécio Neves é hoje o principal entrave para Doria avançar para além do quadrado paulista em direção a Brasília. O boicote é um dos muitos contrastes de uma legenda engolfada pela extrema direita bolsonarista e que vive em uma profunda crise de identidade desde então.
No meio da querela está a disputa dos caciques tucanos em torno do dinheiro do fundo eleitoral, que pode ser dividido em partes mais generosas caso eles se concentrem nas disputas proporcionais e regionais. A contrapartida é perder a vitrine da disputa principal. Não seria improvável que a bancada tucana encolhesse de vez após outubro.
Leite acaba de renunciar ao cargo de governador e pode herdar a vaga da presidenciável. Isso se topar o desafio, cada vez mais hercúleo à medida que a eleição se aproxima.
A mensagem das prévias, a essa altura, já foi para as calendas.
Sob a perspectiva particular, a desistência de Doria faz muito sentido. Para o partido a provável derrota nas urnas seria menos vergonhosa.
Doria foi eleito prefeito de São Paulo em 2016 na mesma onda antipolítica que o levaria ao Bandeirantes dois anos depois. A ascensão meteórica pode agora acabar como um corpo político decadente de um partido em direção à extinção.
NOTA DO BLOG:
Dória renunciou ao governo e entregou o cargo a Garcia. Agora diz que vai se candidatar a Presidente. Durma com um barulho desses!!!
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