quinta-feira, 7 de maio de 2020

CARLOS ALBÁN GONZÁLEZ - COLUNISTA VIP:

Futebol de luto com a morte de Schmidt
Carlos González - jornalista
“Nunca mais o despotismo regerá nossas ações, porque com tiranos não combinam. Tricolores, corações”. No dia 9 de setembro de 2013, ao tomar posse na presidência do Esporte Clube Bahia, Fernando Roth Schmidt, em seu discurso, parafraseou o Hino da Independência da Bahia, de autoria do alferes Ladislau dos Santos Titara, numa alusão ao grupo que impôs ao Tricolor um regime ditatorial que durou 19 anos. Democrata, esportista, administrador, advogado, político e professor universitário, Schmidt faleceu na madrugada de hoje (dia 4), aos 76 anos, no Hospital Jorge Valente, em Salvador, vítima de complicações neurológicas.
Primeiro clube brasileiro a realizar eleições diretas, após anos de batalhas na Justiça, os sócios do Bahia elegeram Fernando Schmidt, com 67% dos votos válidos, para um mandato tampão de pouco mais de um ano. A Arena Fonte Nova recebeu no dia 7 de setembro de 2013, numa democrática festa cívica, mais de 5 mil torcedores. Sócio remido desde outubro de 1983, orgulho-me de ter participado do processo eleitoral do meu clube e de ter sido eleito membro do Conselho Deliberativo.
Cavalheiro, afável no trato social, Schmidt conseguiu reunir em torno de sua administração aqueles que lhe fizeram oposição no pleito de 2013. Apesar do pouco tempo no cargo, conseguiu colocar a casa em ordem, tirando praticamente o clube do zero, pois até uma parte do seu valioso patrimônio, os troféus, estavam no lixo. Além do título de campeão baiano de 2014, Schmidt recuperou o Fazendão, que estava na iminência de ir a leilão, e deu continuidade à construção do novo centro de treinamento, em Dias d’Ávila.
“Em 15 meses pavimentou o processo de recuperação e ampliação do patrimônio azul, vermelho e branco”, registrou hoje o Bahia em nota oficial. Nos anos 70, a década de ouro do heptacampeonato baiano, Schmidt ocupou a presidência entre 1975 e 1979. Durante sua gestão foi adquirido o CT do Fazendão Tricolor, que deu a estrutura necessária para que o Bahia conquistasse seu segundo título brasileiro, em 1988.
Estudante universitário, Fernando Schmidt participou de atos pacíficos contra a ditadura militar (1964 a 1985). Com a volta do regime democrático foi eleito vereador por Salvador. Posteriormente, foi secretário municipal (1986 a 1988), diretor da Codeba, ministro interino do Trabalho (2003) e secretário do governo do estado (2013).
Vestindo a camiseta azul do seu time, com o escudo e as duas estrelinhas do lado esquerdo, Fernando Schmidt está agora ao lado de outros grandes tricolores, como os fundadores e diretores do clube em 1931, capitaneados por Waldemar Costa, o primeiro presidente. Lá estavam outros tricolores, que deixaram o seu nome gravado na história do clube de maior torcida do Nordeste:  Adroaldo Ribeiro Costa, Teixeira Gomes, Rubem Bahia Ribeiro, Lourinho e Jones (chefes de torcida), Osório Villas Boas, Antônio Pithon, Hamilton Simões, Antônio Miranda, Alemão (massagista), Nélson Pinheiro Chaves, José Bahia Ramos, e os jogadores Biriba, Roberto Rebouças, Lessa, Tyrso, Vicente Arenari, Marito, Gílson Porto e outros que vestiram a camisa das três cores.
Fernando Schmidt foi sepultado hoje, às 15 horas, no Cemitério do Campo Santo.

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