A
Advocacia-Geral da União (AGU) apresentou à Justiça Federal do Distrito
Federal o primeiro pedido de condenação de 54 pessoas físicas, três
empresas, além de uma associação e um sindicato, acusados de financiar o
fretamento de ônibus para os atos que depredaram os prédios da Praça
dos Três Poderes, no dia 8 de janeiro. Na lista dos nomes apontados como
responsáveis constam ex-candidatos bolsonaristas e empresários. O órgão
quer que os envolvidos paguem R$ 20,7 milhões à União.
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Na
ação, a AGU afirma configurar “ato ilícito quando o titular de um
direito (no caso em específico o direito à livre manifestação e reunião
pacífica), ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo
seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes, nos
termos do art. 187 do Código Civil”. Estas pessoas e empresas já tiveram
os bens bloqueados.
Alguns
deles, como João Carlos Baldan, ostentam fotos com o ex-presidente Jair
Bolsonaro nas redes sociais ou com integrantes de seu governo, como os
ex-ministros Milton Ribeiro e Marcos Pontes. O órgão quer que os
envolvidos sejam condenados em definitivo a ressarcir R$ 20,7 milhões ao
erário.
O empresário de Bento Gonçalves (RS) Cesar Bagatini
confirmou em janeiro ter participado de "manifestações pacíficas", mas
não das invasões, e que também financiou os atos.
Nelson
Eufrosino, conhecido como "Nelsinho Chapeiro" é mais um dos nomes na
lista de suspeitos. Ele aparece em imagens que circulam nas redes, em
que pede para ser filmado depredando o prédio do Congresso Nacional. Já
Jorge Rodrigues Cunha constava como um dos primeiros presos após os atos
golpistas, ainda na semana após o acontecimento.
Na ação, que
inclui no polo passivo 54 pessoas físicas, três empresas, uma associação
e um sindicato, a AGU afirma configurar “ato ilícito quando o titular
de um direito (no caso em específico o direito à livre manifestação e
reunião pacífica), ao exercê-lo, excede manifestamente os limites
impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons
costumes, nos termos do art. 187 do Código Civil”. Estas pessoas e
empresas já tiveram os bens bloqueados.
Conheça algumas pessoas condenadas pela AGU por financiar os atos golpistas:
Adailton Gomes Vidal
Dono
da empresa Vidal Transportes, de Pinhais (PR), tem 48 anos e recebeu
pagamentos do Auxílio Emergencial. Não respondeu ao contato do GLOBO em
janeiro.
Ademir Luis Graeff
Aos 47 anos, é dono de empresa
de comércio varejista na cidade de Missal (PR). Seu nome foi associado à
empresa de turismo Transgiro, em viagem de Marechal Cândido Rondon (PR)
para Brasília no domingo. Graeff afirma não saber como o nome foi parar
na lista de financiadores, conta que fez uma excursão com a Transgiro
há mais de dez anos e que é contra os atos antidemocráticos do dia 8.
Adoilto Fernandes Coronel
Dono
da Madeportas, empresa de materiais de construção do Mato Grosso do
Sul, aos 50 anos, consta como financiador de uma viagem de Maracaju (MS)
que transportou 56 pessoas para Brasília. Contatado pelo GLOBO, não
respondeu.
Alethea Verusca Soares
Aos 48 anos, teria fretado
um ônibus de São José dos Campos (SP) dois dias antes do ataque
terrorista. Ela foi presa pela Polícia Civil do DF na terça-feira, 10,
por envolvimento na invasão às sedes dos Três Poderes. Antes, a
bolsonarista publicou nas redes vídeos e fotos participando dos
acampamentos bolsonaristas no Departamento de Ciência e Tecnologia da
Aeronáutica (DCTA) de São José dos Campos. O GLOBO não conseguiu
localizar a defesa de Alethea.
Amir Roberto El Dine
Administrador,
de 53 anos, da empresa Polati El Dine Médicos Associados, no campo da
atividade médica laboratorial, restrita a consultas. Procurado pelo
GLOBO em janeiro, não respondeu.
Aparecida Solange Zanini
Moradora de Três Lagoas (MG), negou envolvimento com os atos e financiamento.
Bruno Marcos de Souza Campos
Morador de Belo Horizonte, não retornou o contato do GLOBO.
Carlos Eduardo Oliveira
Policial
Militar de São Paulo. Participou de atos que questionavam o resultado
das eleições no município de São Pedro (SP), onde mora. Ele é suspeito
de fretar um ônibus da cidade a Brasília dia 6 de janeiro. Contatado
pelo GLOBO em janeiro, não quis se pronunciar.
Cesar Bagatini
Cesar
Bagatini, empresário de Bento Gonçalves (RS), é CEO da empresa de
marketing e branding de marcas Coneex MD. Ele é apontado como
financiador de veículo que transportou 36 pessoas de Garibaldi (RS) para
Brasília. Ele nega financiamento de frete e participação nas invasões
do dia 8, mas confirma que participou, com um grupo, das “manifestações
pacíficas”. “Ninguém entrou lá dentro, fomos em grupo e ficamos no
gramado”, afirmou ao GLOBO em janeiro.
Claudia Reis de Andrade
Empresária de Juiz de Fora, no ramo de imóveis. Procurada pelo GLOBO, não respondeu.
Daniela Bernardo Bussolotti
Dona da empresa Ferro & Pvc. Procurada, não respondeu.
Dyego Primolan Rocha
Personal
trainer de 35 anos, de Presidente Prudente (SP), é suspeito de
financiar ônibus que transportou 34 pessoas. Foi procurado, mas não
houve retorno.
Fernando José Ribeiro Casaca
Empresário de São Vicente (SP), dono da empresa Technotel Ltda. Procurado em janeiro, não respondeu ao contato.
Franciely Sulamita de Faria
Moradora de Nova Ponte (MG), não respondeu ao contato do GLOBO.
Genival José da Silva
Morador
de Ribeirão Preto (SP), tem foto com o ex-presidente Jair Bolsonaro nas
redes sociais e é suspeito de financiar os atos golpistas. Procurado em
janeiro, disse que em sua viagem “não teve patrocínio nem financiador,
todos dividiram o valor da viagem e seu nome foi colocado porque foi ele
o organizador.
— Todo o grupo contribuiu com um pouco de dinheiro
e eu coloquei meu nome como contratante do serviço porque estava
organizando. Nós participamos, sim, da manifestação pacífica, mas
ninguém entrou em nenhum dos prédios nem vandalizou nada, disse Genival
José da Silva, que viajou a Brasília em um grupo de 41 pessoas.
Hilma Schumacher
Moradora de Belo Horizonte, não retornou ao contato do GLOBO.
Jasson Ferreira Lima
Morador
de Paracatu (MG), é dono de uma empresa de transporte coletivo fretado.
Contatado por telefone, não respondeu e desligou após a identificação.
Jean Franco de Souza
Morador de Mirassol (SP), foi procurado pelo GLOBO em janeiro, mas não respondeu ao contato.
João Carlos Baldan
Apontado
pela Advocacia-Geral da União como um dos financiadores dos atos
antidemocráticos do último domingo, o empresário João Carlos Baldan
postou na manhã da invasão da Praça dos Três Poderes que a “boiada
(estava) chegando” em Brasília. Baldan é apontado pela representação da
AGU como o responsável por fretar um ônibus no dia 6 de janeiro de São
José do Rio Preto, em São Paulo, com destino a Brasília. Não respondeu
os contatos em janeiro.
Jorge Rodrigues Cunha
De Pilar do
Sul, em São Paulo, é apontado também como responsável de um frete de
ônibus de Campinas com destino ao Largo do Rosário, em Brasília. Em suas
redes ele publicou diversos vídeos do acampamento montado no quartel da
capital federal e está na lista de presos pelos atos antidemocráticos.
Jorge fez uma transmissão ao vivo na última segunda-feira de dentro de
um dos ginásios que os presos pelos atos foram levados. Procurado em
janeiro, não respondeu os contatos da reportagem.
José de Oliveira
Morador de Bom Jesus dos Perdões (SP), não foi localizado pela reportagem.
José Roberto Bacarin
Morador de Cianorte, no Paraná, não respondeu o contato da reportagem.
Josiany Duque Gomes Simas
Foi
responsável, segundo a AGU, pelo fretamento de um ônibus no dia 6 de
janeiro de Cuiabá para Brasília. A pedagoga tentou se eleger deputada
federal nas últimas duas eleições por seu estado. Em 2022, pelo
Patriota, recebeu R$ 325 mil repassados pela direção nacional do partido
para sua campanha, que não foi vitoriosa. Ela não se elegeu e teve
apenas 622 votos no pleito. Nas redes, Josiany se apresenta como "pró
armas" e compartilhou dezenas de fotos e vídeos fazendo campanha para o
ex-presidente Jair Bolsonaro. Procurada em janeiro, não retornou os
contatos do GLOBO.
Leomar Schinemann
Morador de Casa-Guarapuava (PR), não retornou o contato do GLOBO.
Marcelo Panho
De Foz do Iguaçu (PR), não atendeu o contato do GLOBO.
Marcia Regina Rodrigues
De
Ribeirão Preto (SP), atuou como cabo eleitoral de Isaac Dalcol Antunes
(PL), candidato a deputado federal por São Paulo. Recebeu R$ 5 mil para
atividades de mobilização do candidato na última eleição. Procurada em
janeiro, não retornou o contato.
Marcio Vinicius Carvalho Coelho
De Marilia (SP), não respondeu o contato da reportagem.
Sandra Nunes de Aquino
Moradora de Sorocaba (SP), não respondeu o contato da reportagem.
Sheila Mantovanni
Professora
de 46 anos, em Mogi das Cruzes (SP), foi presa na terça-feira, após
participar dos atos terroristas no domingo. Em uma rede social, a
professora e se diz de direita e conservadora. A reportagem não
conseguiu contato com ela.
Stefanus Alexssandro Franca Nogueira
Stefanus
Alexssandro Franca Nogueira foi candidato a vereador na cidade
paranaense de Ponta Grossa, nas eleições de 2016. Procurado, não
respondeu aos contatos do GLOBO.
Nelson Eufrosino
No
Facebook, é conhecido como "Nelsinho Chapeiro" e aparece em vários
vídeos quebrando janelas e depredando prédios na Praça dos Três Poderes.
As imagens viralizaram e páginas afirmam que Nelson é um dos 1.200
presos detidos em Brasília. No entanto, o nome do bolsonarista não
aparece na lista divulgada pela SEAP-DF. Nelsinho foi chamado na
internet de "terrorista de Ourinhos" e, no dia dos ataques, pediu para
ser filmado depredando prédio no Congresso Nacional. Ele teria ido para
Brasília em um ônibus que partiu do acampamento localizado ao lado da
Câmara Municipal de Ourinhos (SP) na tarde da última sexta-feira (6).
Michely Paiva Alves
Empresária
de Limeira (SP), de 35 anos, é dona da empresa Mittag Presentes. É
suspeita de financiar um ônibus de Limeira na empresa TRANSMEGA
TRANSPORTES E TURISMO EIRELI e seu nome consta na lista dos 1200 presos.
Nas redes sociais, apenas o perfil da empresa segue ativo. O dela, é
bloqueado. Além disso, a empresária recebeu pagamentos do Auxílio
Emergencial entre 2020 e 2021, segundo o Portal da Transparência.
Marcos Oliveira Queiroz
De São Paulo (SP), não respondeu o contato da reportagem. Recebeu pagamentos do Auxílio Emergencial e do Bolsa Família.
Marco Antonio de Souza
É dono de uma empresa de produtos automotivos. Desligou o telefone ao saber do que se tratava a ligação.
Marlon Diego de Oliveira
Marlon
Diego de Oliveira foi candidato a vereador na cidade de Tupã (SP) em
2020, pelo PP. Em fevereiro de 2022, a prefeitura ingressou com uma ação
contra a empresa em que ele é sócio por loteamento irregular de imóveis
e riscos ao meio ambiente.
É suspeito de ter fretado um ônibus saindo de Presidente Prudente no dia 6 de janeiro. Não retornou às tentativas de contato.
Monica Regina Antoniazi
Ao telefone, respondeu que não estava em Brasília no dia dos atentados.
—
Teve vários ônibus na minha cidade. A gente trabalha com uma caixinha
de doações lá ,em frente ao QG do Exército. Algumas pessoas foram
responsáveis, mas eu não fui a Brasília e não vou responder mais nada,
só com advogado — disse, ao Globo.
No final, agradeceu por ter
sido informada sobre o nome dela constar na relação. Antoniazi é
suspeita de fretar um ônibus saindo de Piracicaba no dia 6 de janeiro.
Nelma Barros Braga Perovani
Nelma
é próxima ao ex-ministro Milton Ribeiro, a quem descreve como amigo em
uma foto na internet. Também aparece em imagens ao lado de Marcos Pontes
e Daniel Silveira, e participou de encontro com Tarcísio de Freitas em
2022.
Ela é a criadora de um canal de mensagens no aplicativo
Telegram, chamado de Selva Brasil, mas o grupo não foi encontrado. Em
tese, o canal foi bloqueado. Nelma é suspeita de ter fretado um ônibus
de Bauru, no dia 5 de janeiro, e não respondeu às tentativas de contato
em janeiro.
Patrícia Alberta dos Santos Lima
De Belo
Horizonte, Minas Gerais, é apontada pela AGU como uma das financiadoras
dos ônibus que levaram os golpistas até a Esplanada. Ela também
participou dos atos e está presa no Complexo da Colmeia.
Pedro Luis Kurunczi
Apontado
como um dos supostos financiadores dos atos golpistas em Brasília,
Pedro Luis Kurunzi já foi condenado por crime contra a ordem tributária.
Segundo a denúncia do Ministério Público Federal, o empresário declarou
que uma de suas empresas em 2011 e 2012 teve receitas de R$ 2 milhões,
enquanto a Receita Federal descobriu que os livros contábeis da empresa
registravam R$ 14,5 milhões em notas fiscais. Pelo crime, já transitado e
julgado, ele cumpriu dois anos de pena em regime aberto, que, segundo
sua defesa, foi convertido em prestação de serviços à comunidade e
multa. No total, foram sonegados mais de R$ 1,2 milhão em imposto de
renda e tributações.
Procurada, sua defesa negou que ele estava na capital federal durante os atos golpistas e criticou a AGU.
—
Ele não pagou e não financiou esse valor todo. Mas o contrato precisa
ficar no nome de uma pessoa e, ele sendo empresário esclarecido, acabou
deixando no nome dele. Foram várias pessoas que resolveram fazer essa
arrecadação para poder participar dessa manifestação em Brasília. O que
era discutido era uma manifestação pacífica. O Pedro não tinha
conhecimento e muito menos incentivaria atos de vandalismo. Eles
simplesmente ajuizaram uma ação contra todos que fretaram ônibus a
Brasília. É regra ter uma relação de passageiros e eles tem condições de
apurar se algum deles tiveram relação com o vandalismo — afirmou Ana
Paula Delgado, advogada do empresário.
Sobre a condenação por crime tributário, a advogada afirmou em janeiro que o empresário cumpriu a pena integralmente.
Pablo Henrique da Silva Santos
De Belo Horizonte (MG), não respondeu ao contato da reportagem.
Rafael da Silva
Morador de Catalão (GO), não respondeu o contato da reportagem.
Rieny Munhoz Marçula
De
Campinas (SP), é dona de uma empresa de serviços estéticos, com
manutenção de cílios e sobrancelhas. Procurada, não respondeu o contato
da reportagem.
Rosangela de Macedo Souza
Moradora de
Riolândia (SP), é servidora pública e atua como oficial administrativa
do São Paulo Previdência (SPPREV). Procurada, não respondeu ao contato
do GLOBO.
Ruti Machado da Silva
De Nova Londrina (PR), é dona da empresa de transporte escolar “R M Services”. Procurada, não atendeu a reportagem.
Sulani da Luz Antunes Santos
Empresária
no ramo estético em Vinhedo (SP), é dona do La Mariee Estética e
Cabelo. Procurada, não retornou o contato da reportagem.
Vanderson Alves Nunes
De Francisco Beltrão (PR), foi contatado pela reportagem, mas não respondeu.
Outras pessoas citadas pela AGU
Adriano Luis Cansi
Anderson Luis de Oliveira
José Marcolino Ramos
Sheila Ferrarini
Valfrido Chieppe Dias
Yres Guimaraes
Zilda Aparecida Dias