MODUS VIVENDI
Ricardo De Benedictis
Ele
se encontrou com um velho amigo que havia muito tempo não via, num
shopping da cidade em companhia de uma loira muito bonita. Aliás, ambos
tinham atração fatal pelas loiras ou pelas morenas, ou por qualquer
teteia que lhes aparecesse. E o Antonio foi logo falando: - E aí don
Juan, sempre desfilando com belas mulheres, como nos velhos tempos!
Ele não se fez de rogado e devolveu: - E você, Antonio, como está seu cardápio ultimamente? Soube que se casou novamente e virou sentinela, em casa?
-
Nada, rapaz, peguei uma morenaça e você precisa ver, é a segunda
Tiazinha. Gostosa que só ela. Daí pra cá fiquei mais caseiro, mesmo. A
mulher gosta!
Exageros à
parte, os amigos eram dois inseparáveis caçadores de talentos. Cada dia
tinham uma nova aventura a enfrentar. Mas os anos haviam passado e sem
perceber, já estavam pra lá dos 60 e nem se davam conta, apesar de
continuarem charmosos como quando brilhavam nos 30!
O
Antonio procurava pela morena que havia sumido na multidão do Shoping e
ele ficou por ali, fazendo hora para ajudar o amigo a passar o tempo,
sem se aborrecer com a demora da amada, que também havia escapulido para
uma turnê nas lojas para olhar as vitrines. E eis que ela surge com um
pacotinho nas mãos e o amigo beijou feliz o rosto da amada que foi logo
lhe apresentando: Olha aqui amigão, parece ou não parece com a Tiazinha?
Parecer, não parece muito não, pensou, mas dizer o que para o amigo que
não cansava de elogiar sua nova conquista? Ela até tinha alguns traços,
curvas e beleza, mas não lembrava a famosa de 20 anos atrás! De
qualquer sorte, concordou e falou com sinceridade que a moça era linda. -
Parabéns, menina. O amigo aí sempre teve bom gosto! E a mulher
derreteu-se em sorrisos de satisfação!
Depois
ela saiu para comprar um perfume e ficaram colocando o papo em dia.
Falaram das suas profissões, ele disse estar aposentado e o amigo que
era médico falou em sua especialidade, com muito trabalho e vida cara,
família grande, filhos para sustentar na Faculdade, mas sem esquecer de
tocar no assunto mulheres. E aí entraram na área das finanças. Ele disse
que ganhava pouco na aposentadoria, mas que lhe era o bastante, uma vez
que deixara para trás a velha mania de trocar de carrão três, quatro
vezes por ano. Enquanto o amigo falou em seu possante, que a mulher
dirigia muito bem e que ele até gostava para ir de um consultório a
outro nos horários determinados, etc.
Algum tempo se passou, a morena voltou, despediram-se e nem marcaram um novo encontro.
Na
verdade, eu acordei e tudo isso se passou num breve sonho madrigal que
me ocorreu. O amigo médico faleceu faz anos e eu vou me arrastando pela
vida. Essa coisa de mulher bonita é verdade, mas já passou. Isso faz
muito tempo.
Hoje nem de
carro preciso. Meus filhos me levam onde quero, ou mesmo os amigos.
Também na época sonhada, nem Uber existia e o cheiro de gasolina ajudava
a arrebatar os corações das meninas.
Resta
um esclarecimento. Tudo isso ocorreu em sonho. Um sonho quase
verdadeiro se não fosse tão rico em detalhes. A essência é que é fato.
Tempo
bom, mas que hoje já não tem graça. Só lembranças, saudades e muitos
drones com pirocas voadoras aos olhos de ministros e outras autoridades
corruptas que circulam pelo mundo como se andassem de bicicleta na praça
da cidade.
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