quarta-feira, 19 de agosto de 2020

CARLOS GONZÁLEZ - JORNALISTA E COLUNISTA VIP:

 

A politização da saúde em Conquista 

Carlos González - jornalista 

O julgamento político e administrativo de Herzem Gusmão Pereira está marcado para 15 de novembro. O foro, evidente, não será o Tribunal Penal Internacional, em Haia, nos Países Baixos, que deve avaliar as denúncias de crime contra a humanidade, feitas por quatro entidades brasileiras ao presidente Jair Bolsonaro, o mais recente mentor político e ideológico – os primeiros foram os irmãos Vieira Lima, condenados por enriquecimento ilícito -  do prefeito de Vitória da Conquista, que, há poucos dias, negou três vezes – o cristão certamente conhece o episódio bíblico “O Arrependimento de Pedro” - ser partidário do bolsonarismo. O corpo de jurados será formado pelos eleitores do município. 

Os jurados/eleitores vão levar em consideração os acertos e erros cometidos por Herzem nesses quatro anos, na áreas da saúde, educação, mobilidade urbana, urbanismo, cultural, no acatamento à Lei de Responsabilidade Civil, na preservação do meio ambiente, nos esportes e entretenimento, nas ações sociais e, acreditem, na sua conduta religiosa, procurando, aparentemente, manter-se distante da Igreja Católica, cujos fieis viram com perplexidade o seu prefeito se ausentar, no dia 14 de dezembro passado, da recepção ao representante do papa Francisco na região, o arcebispo dom Josafá Menezes. 

Com nove mil servidores nos seus quadros, a prefeitura de Vitória da Conquista foi buscar lá fora empresas de consultoria, que até o momento não justificaram as remunerações recebidas. Ao mesmo tempo, assessores dos primeiro e segundo escalões vivem apreensivos com as frequentes demissões. 

A gestão de Herzem Gusmão foi marcada pelo favorecimento à classe rica e aos líderes neopentecostalistas – por uma questão de justiça vamos excluir batistas, metodistas e presbiterianos -, que foram os grandes fomentadores de sua candidatura. Não precisa ser analista político para se concluir que a maioria dos conquistenses colocou nas urnas o voto anti PT, como se deu em várias partes do país, e, dois anos depois, em nível nacional, com a eleição de Bolsonaro. Foi a maneira de se punir a cúpula do Partido dos Trabalhadores, acusada de peculato.  

Como Herzem retribuiu os votos recebidos da classe “A” e dos evangélicos? A resposta foi dada através de decretos, devolvendo aos lojistas as vagas de estacionamento no Centro, prejudicando a maioria dos proprietários de veículos; com a reabertura açodada do Comércio e dos templos religiosos,  acelerando o avanço da Covid-19, contrariando uma ordem do Ministério Público; deixando ao abandono os bairros da periferia e a zona rural, que hoje convivem com a lama, a sujeira e os buracos. 

A partir de junho de 1997, com a promulgação pelo Senado da emenda constitucional, permitindo a reeleição do presidente, governadores e prefeitos, revitalizou em todo o país o sonho dos políticos de se manterem nos cargos, estimulando a corrompível  compra de votos. Permanecer por mais tempo na prefeitura esteve sempre na imaginação de Herzem, devaneio que acompanha Bolsonaro .  

Voltados para o inoportuno projeto da reeleição e pressionados pelos “defensores” da economia, os dois sonhadores ignoraram as orientações das autoridades sanitárias, permitindo o avanço da Covid-19, trazendo o luto e o sofrimento a 110 mil famílias – 88 de conquistenses – de brasileiros. “E daí?”, perguntam as pessoas que ironizam o distanciamento social, promovendo aglomerações nas ruas, no transporte urbano, bares e festas; que não impedem a entrada de ônibus clandestinos; que se mostram insensíveis às filas nas portas dos bancos; que percorrem as áreas mais carentes da cidade, na condição de candidatos a vereador, burlando a legislação eleitoral, distribuindo “santinhos” e fazendo promessas, que não serão cumpridas;  e que se revelaram incompetentes na prevenção e  combate à pandemia. 

Ao se dirigir à população conquistense, no dia da posse, Herzem Gusmão prometeu priorizar as iniciativas na prevenção, promoção e recuperação da saúde. Colocando Deus em suas falas, jurou fazer um governo de paz. Contudo, declarou guerra ao governo do estado, na tentativa de politizar a saúde. A primeira rusga teve como motivo a Policlínica – Herzem queria indicar o gestor -, que hoje atende a 31 municípios do Sudoeste. Acusou o governador Rui Costa de transferir para os hospitais daqui os infectados pelo vírus, quando, na verdade, há décadas, dezenas de ambulâncias e vans, procedentes de cidades da região, do São Francisco e do Sul do estado, trazem pacientes para se tratar ou se internar nas unidades de saúde de Conquista. Os enfermos são encaminhados pelos colegas de Herzem, que não aplicam ou desviam os recursos destinados à saúde pública.  

Na esteira da politização, o alcaide não menciona e, muito menos agradece, as ambulâncias destinadas a Conquista pelos deputados Zé Raimundo e Waldenor Pereira, ambos do PT, e Fabrício Queiroz (PCdoB). Birrento, como é qualificado pelos próprios correligionários, Herzem afrontou – sobrou até para um dos seus ídolos, o prefeito de Salvador, ACM Neto –  o governador porque não obteve a liberação oficial da cloroquina e seus derivados, medicamentos “receitados” por Bolsonaro aos contaminados pelo novo coronavírus, contrariando as autoridades sanitárias.  

Herzem pegou um avião e foi a Brasília, onde tentou ser atendido pelo general Eduardo Pazuello (substituto de dois médicos no Ministério da Saúde). Seu interlocutor foi um funcionário de nome Cascavel, que não injetou veneno na comitiva da Bahia. Ao contrário, prometeu enviar milhares de caixas dos “milagrosos” remédios, ministrados até para as emas do Palácio Alvorada. 

Se no julgamento de 15 de novembro Herzem Gusmão for absolvido pelos eleitores permanecerá por mais quatro anos na chefia do município. Se for considerado culpado, volta para casa, veste o pijama e espera por mais dois anos para pleitear uma vaga na Assembléia Legislativa, utilizando nesse período o que mais gosta: os microfones das rádios de Conquista. 

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